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Mostrando postagens com o rótulo pandemia

Relógio das quimeras

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  "Lembra-te do anônimo da Terra Que meditando a sós com seus botões Gravou no relógio das quimeras: “É mais tarde do que supões” Cantares de perda e predileção (1983) - Hilda Hilst Leio bastante.  Não o suficiente, é verdade.  Mas mais que antes.  O antes do tempo não focado. O antes da mente embotada O antes do medo permanente Se faço um breve passeio no ontem Vejo folhas caídas, amassadas, largadas Vejo folhas jogadas e perdidas Se revisito o hoje e -se o faço, é porque sou eterna viajante mesmo no instante que escrevo Percebo folhas arrumadas Inquietas, é verdade Naquelas arrumações esquisitas Bagunçadas até Mas mesmo assim mais arranjadas Me observo sentada, meus dedos mais ágeis uma breve luz chega de lado Um relógio imaginário com ponteiros enfeitados teima em girar adoidado Ora devagar Ora apressado Nesse rodopio de taques e tiques eu bailarina Júbilo, memórias e mais Hildas Poetam-me na vã tentativa de afogar receios de fomentar coragens de apressar destinos...

Do ano que passou pela minha janela

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Num dia de março deixei de sair  Mundo virou uma série apocalíptica e distópica No início, solidariedade/aplausos nas janelas Resiliência posta à prova Cursos/lives/informação/ nunca a conexão fez tanto sentido Aniversários em zoom/Casamentos vistos na tela   Fotos da janela/pés ao sol Magnólias desabrochando na imaginação Máscaras onde antes batom e sorrisos Medo/medo/medo/medo das ruas, do vírus, dos zumbis, da ignorância/ medo das pessoas que achava conhecer Rotina se adaptando/liberdade é coisa de escolha humanos que somos/somos? De repente um ano/365 dias/ Horas, segundos, sensações.  Algumas de alívio, risadas e descoberta Outras de angústia O ano passou na minha janela passei/passamos/aguardamos Sorrimos/choramos/comemos/bebemos Num dia de março se foi um ano Quantos mais? Massacre/incompetência/negacionismo Hordas clamando por aglomerações em meio a uma pandemia  Economia, bradam! Espertos fossem, seguiriam os rumos da ciência quem o fez, abre suas porta...

Inspiração do dia - buscando

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Café e rádio. Companheiros do despertar. Nem sempre notícias, não mais, elas me causam algum desconforto. Só as mais urgentes. Como defino? Não defino, só ligo no início da manhã, naquele tempo de organização e colocação do espaço em ordem. Depois é água e música. Meu ofício de vida: arquitetar. Arquiteto espaços e arquiteto textos.  Também arquiteto sonhos e cuidados. E cuido. E quem cuida de quem cuida?  Na maior parte do tempo, o próprio cuidador que há de buscar sua força nele mesmo. Enxugar lágrimas e deixar fraquezas guardadas para um momento em que possam se expostas. Que quase nunca chega. A fraqueza de quem cuida assusta os que não cuidam. Ou os que são cuidados. A fraqueza assusta. O cuidador aprende logo a achar válvulas de escape. Não sei porque lembrei de um filme bem antigo, acho que era com a Annie Hall, na verdade Diane Keaton, que eu sempre vejo com as roupas da Annie..."Looking for Mr Goodbar" com um Richard Gere extremamente jovem. Ela cuidava de dia e extr...

Janelas de minha alma

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Todo dia vejo o mundo através de minha janela. São os barulhos da manhã de segunda feira em pleno verão, onde um barquinho cruza as águas de um rio que talvez seja lago ou lagoa, não sei bem. Diferença do dia de ontem, onde o silêncio do domingo se fazia opressor. Gosto das segundas por isso. Tem coisa de vida que reinicia, tem cheiro de esperança. Esperança talvez tenha isso, ser a força que leva adiante, ser o que sinaliza que a vida continua. Apesar da dor. Apesar da ausência. Apesar do medo. Confesso. Já via a vida através das minhas janelas. Nunca fui das ruas, meu mundo interno é vasto. O contato social, nem tanto.  Talvez por isso, o isolamento não tenha sido tão forçado. Sei lidar com o ficar em casa.  Sei? Nem tanto. Outra confissão desses dias em que minhas certezas se esgotaram e só vivo deixando a "vida me levar". Hora de retesar os cordéis, empunhar os corcéis nessa rima pobre. A casa. Como eu, precisando de desapegos. Acúmulos de lembranças que trazem pó e não r...

Foi um ano Muito desgraçado

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Foi um ano Muito desgraçado Não tinha termo Não tinha senso Ninguém podia Sair nele, não Porque do vírus Não tinha proteção Ninguém podia Aglomerar  Porque na rua Não tinha salvação Ninguém podia Fazer alvoroço Porque a saliva Espalhava o troço Mas era ano Com muito gado Na Rua dos Bobos Número 17 Que me desculpe Vinicius pela rima emprestada. Do poeta não tenho a maestria, o ano não me proporcionou a leveza necessária, o fim de ano não me encontra Poliana nem achando que o rolar das páginas vai nos trazer mais esperanças. A moça das asas ligeiras me passa longe do penamento. Era pensamento, mas tantas vezes o corretor ou a pressa revelam mais dos reais sentimentos que talvez o barbudo austríaco explique. Ou não.  O ano foi um penamento. Foi penoso abrir mão de vida em troca de cuidado. Não que seja muito diferente da rotina de outros anos. O que difere é que agora a dor é geral, não apenas minha. É a minha multiplicada pela de bilhões de outras pessoas que tiveram as vidas ab...

Rescaldos de um ano pandemônico

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Este foi sem dúvida um dos anos mais longos -e mais curtos- da minha vida. E olhem que não vivi pouco. Levava uma vida sossegada, como diria a Rita Lee, quando um desgraciado de um vírus de nome esquisito transformou o meu mundo (e o de todos vocês) em um grande pandemônio. Recolho os rescaldos agora.     No   período   que   se   segue   a   uma   tragédia   ou   acontecimento   marcante ,  geralmente   quando   ainda   se   sentem   os   seus   efeitos   ou   . consequências .   "rescaldo" , in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020,   https://dicionario.priberam.org/rescaldo   [consultado em 21-12-2020]. O início de janeiro me pegava preocupada com obsessões e me perguntava " como nos protegemos da barbárie? Do cotidiano que não faz mais sentido? Dos medos e temores que nos abatem e para os quais nossa alma, exaurida, não tem mais ...

Caetaneando em um fim de ano

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 ouvindo Caetano e pensando que nem sempre gostei do Caetano. No começo era aquele guri franzino de boca grande e cabelos cacheados, terno e uma aparente timidez, que já devia ser uma coisa odara. Eram os festivais da Record. Tinha tanta gente, tinha um Chico novinho louvando a banda. Tinha Rita Lee e os Mutantes, de coadjuvantes do Gil. Tinha violão quebrado e para não dizer que não falei de flores. Eram tempos sombrios. E aquele baiano entrava e cantava Alegria, Alegria . Sem lenço, sem documento Nada no bolso ou nas mãos Eu quero seguir vivendo, amor Eu vou Por que não, por que não? Por que não, por que não? Por que não, por que não? Vamos ainda, Caetano. A gente quer seguir vivendo. Um pouco daquele menino reside no senhor que ouço na live em um ano de pandemia. Os cabelos brancos lhe deram um charme, a poesia da voz se refinou.  Ouço entre um cálice de vinho e saudades de um tempo que ainda vai vir, pensando se o tempo foi tão generoso comigo. Continuo curtindo Caetano de...

Sutilezas do pensar

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  Sempre gostei de Cássia Eller. Freud talvez explique. Uma careta pessoa como eu, gostar de uma que canta malandragem com irreverência. Sutilezas da vida que não se explica. Nem os gostos. Nem os desgostos. Já é dezembro. O calor voltou, mal vi o inverno. Meus casacos e botas ficaram guardados, assim como eu.  Mas as dores e amores foram revirados como nunca. Não de jeito revolucionário. Por mais surreal e emotivo que tenham sido esses meses de tantos medos e inquietações, nunca se teve tanto tempo para pensar. Pensar e ponderar. Olho para fora e passa uma lancha com gente esquiando. Gente vive lá fora. Mesmo que não existisse a pandemia, eu estaria aqui dentro. Eu cuido. Os que cuidam acabam vivendo menos as suas vidas lá fora. Escolhas, não é uma queixa. A alternativa de delegar para outros o cuidado, não é viável para minha alma, mente e coração. O tempo se faz mais aqui dentro que lá fora. Sempre foi assim. Sina, talvez.  Enfim, neste dezembro tirei um sábado para mi...

Como era gostoso o meu francês

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Como era gostoso o meu francês, pensou enquanto examinava a taça para perceber a limpidez do vinho branco. Gostava mais dos tintos encorpados, é verdade. Mas aquela noite merecia uma exceção.  Tudo tinha começado há exatos dez meses. Marcara bem aquele dia que seria tão determinante em sua vida. Diziam que momentos marcantes são assim. A gente lembra em detalhes. Tocava Nando Reis na rádio, chovia miúdo e era um dia cheio de noticias sobre a politica. Foi quando veio o telefonema da detetive Andreia. Vira o telefone no poste do supermercado e num impulso ligara, umas semanas antes. Falar da traição, sinais, dúvidas, expor a personalidade do companheiro que trazia tanto amor, mas pecava em algumas faltas, eram pensamentos constantes em seus momentos com as amigas. Nem quis ver as fotos que a detetive jurava serem dele. Falou do carro entrando no motel, encheu de estatísticas de homens como ele traindo e eis que tomou a decisão: ele nunca mais! As amigas apoiaram com deci...

Portas que se fecham, janelas que se abrem

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15 de março de 2020.  Lembro bem desse dia. Foi quando sentimos que a pandemia tinha enfim chegado até nós e fomos paulatinamente nos trancando em casa. Nem todos, é verdade. Uns por gosto, outros por absoluta necessidade, continuaram nas ruas que eram quase de ninguém.  Em tudo foi um ano atípico. Ter todo o tempo do mundo para curtir a casa não me fez absolutamente bem. Não li o que deveria, não fiz o que planejei. Não faxinei, não dispensei. Não joguei fora. Mas assisti séries e ouvi muita música. Acabei um livro de histórias familiares. Fiz cursos e convivi pelas telas. Há momentos da vida que nos exigem paradas. São as janelas que olhamos, achamos belas ou feias, mas tendo portas para sair, as deixamos de lado. É quando as portas se fecham que as janelas adquirem sua importância. 14 de novembro de 2020. Ouço Cida Moreira enquanto organizo os projetos. Vivo de projetar. Literalmente já que arquitetar desde sempre foi meu afazer de vida. Projeto lindos sonhos alheios. Às ve...

Estranha realidade

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  Chove.  É domingo e chove lá fora Não fosse pela pandemia seria apenas um domingo chuvoso como tantos dia de dormir/comer/escrever ou apenas viver Mas é 2020 um ano cabalístico desses que a gente nem queria estar vivendo um ano de pós verdades de lógicas hiperbólicas de certezas conflitantes  de amores endeusados de paixões adormecidas ano de ficar em casa ou se atrolhar sem pensar no amanhã sem pensar sem empatia sem vergonha dessas de botar a cara na rua brigar por espaço comer/beber/lambuzar escarnecer de deuses e deusas molhar de chuva, de gozo, de lambuzagem raízes sem fundo gritos gemidos brasas em fogo gente morrendo chuva caindo a gente olhando atrás da janela expectando uma realidade sem lógica sem philos Pactuar com ela  também não faz sentido Virar estatística muito menos Chove É domingo lá fora aqui dentro não mais 

Entre mantras e angústias, sigo na pandemia

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Nasci zen. Dito isso aviso que finalmente consegui meditar serenamente, ou quase, por três semanas. Não necessariamente todo dia. Não por desejo meu, que estou em fase de, se possível, me elevar tanto que saia flutuando e alcance a iluminação em outros universos paralelos, tipo na série O Homem do Castelo Alto.  Sim, também tenho me entupido de séries de ficção sobre mundos alternativos, outras vidas, viagens no tempo e tudo o que possa me levar para longe de uma realidade que não suporto mais.  Uma amiga muito querida me convidou, não foi a primeira, mas talvez fosse o momento. Eis-me então aqui tentando me conectar com o aqui e afora. Era agora, mas o corretor mudou talvez acertadamente para afora porque o entorno teima em rondar a mente da meditante neófita aqui.  Pior que os sons e sensações, são os deverias que enchem a cabeça e impedem a entrega. Gosto particularmente do Deeepak Chopra. Já li muitos de seus livros e tenho o das Setes Leis espirituais do sucesso. Já ...

Seguindo a intuição e brigando com as crônicas

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Resolvi fazer um curso online na pandemia. Um deles. O primeiro. Foi logo depois de ver um vídeo de uma jovem brasileira na Itália falando de sua experiência de isolamento. Segundo ela tinha uma fase da solidariedade, do surto, da apatia. Uma das formas de administrar isso era tendo objetivos.  Fazer um curso de crônicas me pareceu uma boa maneira de levar o tempo. Nem tanto.  A crônica não é aquele gênero fácil que eu imaginei. Ao contrário. Exige disciplina, concisão e trabalho. Muito trabalho.  Seria como cozinhar por prazer e cozinhar no cotidiano. Por prazer tu elabora o que quer comer, deleita-se com os preparativos, tudo é descoberta e divertimento, mesmo quando exige paciência. O cotidiano é completamente diferente. Tem que sair algo, com o que tem em casa, muitas vezes. Tem que fazer render diferenças entre o arroz de ontem e o de amanhã, que embora sejam o mesmo cereal, pareçam diferente a cada dia. Confesso que aumentou minha admiração pelos cronistas. Consegui...

A surtada nossa de cada dia

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Mais de 100 dias presa em casa. Três saídas esporádicas e tensas. Quem não surtou no meio da pandemia não a viveu com intensidade. O emocional da gente é bicho esquisito. O meu é. E como dizia La Lispector eu quero o é da coisa.   A coisa me persegue desde sempre e talvez por isso eu tenha sido a guria estranha da casa. Gostava de pensar demais. Ficar sozinha demais. Observar demais. E viver de menos. Que o equilíbrio sempre peca em algo. Impossível dizer que vou passar mais de 100 dias ou 1000 no risco iminente de um bichinho invisível me pegar de vez, me levar dessa vida em meio ao sofrimento da falta de ar e da falta das pessoas amadas a minha volta, sem mudar algo em mim. Penso mais. Observo mais. Fico obviamente mais sozinha. Já se disse que as pessoas se revelam nas emergências. Quais os seus valores. Quais as suas prioridades. Para quem seus pensamentos e seus atos. Muitos dos que morreram no 11 de setembro, os que sabiam que iam morrer, ligaram para seus amados para di...

dos Signos

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Áries Branca, preta ou amarela A ariana zela. Tem caráter dominador Mas pode ser convencida E aí, então, fica uma flor: Cordata… e nada convencida. Porque o seu dominador É o amor. Eu cá por mim não tenho nenhum Preconceito racial: Mas sou ariano! ( Vinícius de Moraes ) Não tinha nascido nem em março  Muito menos em abril Mas era todo ariana desde sempre Nariz empinado de razão  A primeira a esquiar  Ralar joelho, nariz e alma Nas escaladas fagueiras Quando viu Miguel  Acercou sem piedade  Só acalmou no primeiro filho  Era mãe moleca Das que crescem junto com a piazada Uma escada Uma tripa Dos mais velhos aos mais moços  Anos de risadas/lagrimas e busca Miguel vinha como dava Corria para alcançar o pique Bufava, sorria e prosseguia  Um dia viraram avós  Vida feita e cama desfeita Seria um paraiso Nao fosse a pandemia Ser velho virou descarte Pesava para o sistema Logo eles que acreditaram nos mitos To...

hoje é sábado

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Tua escolha nas horas cruciais Nunca foi dizer meu nome Eu era a da tarde corrida  O amor com reticências  Minha escolha, ao contrário  Tinha o sabor das urgências Me sabia passageira Mas mesmo assim tinha querencia Eu sabia Nunca fui vitima Cada um com suas rotas Tome tenencia Tu me servia  Era desculpa de não mergulho A segurança dos nunca vai ser O tesão dos sonhos impossíveis Nossa entrega nunca foi mentira Cada um de nós trouxe duras verdades  Das cumplicidades traiçoeiras Tu com tuas ausências  Eu com minhas desconfianças  Só que o mundo mudou As segundas viraram sábados  Aprendi a colher de mim A segurança que vinha de fora Saudade risonha da amizade Do riso explodindo de vereda Amor tem desses mistérios  Feito de medo e carências  Fica tu com tuas escolhas  Teus mitos, tua bolha Fico eu com minha miséria Minhas dúvidas, meu recreio.  Pandemia de 2020 soltando a criatividade em versos e vinhos 

tempo de incerteza

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Um dia acordei com vinte No outro três vezes mais Ontem era verdade cristalina Amanhã incerteza total Hoje pura perplexidade. Ouço Nelson freire ao piano. Liszt. Optei por poucas notícias para depurar a mente. Nesses tempos encharcados de então, as versões são muito rápidas e cheias de convicções forjadas em sabe-se lá que interesses. Até a ciência segue o famoso quem patrocina. E os comuns leigos ficam reféns de suas bolhas, olhando para o relógio que teima em andar numa acelerada debandada. Para terem uma ideia, deletei abril. Não por escolha como tantas vezes já fiz com o Natal quando estava muito atarefada. Pronto, passava o Natal para janeiro e acabava com problema. Ou postergava. Quando (e se) acabar essa bagaça vírus, nem mesmo eu sei como estará o mundo e minhas certezas. Tudo bem, meus valores só se solidificam com as emergências. Nasci para elas. Mas mesmo com tanta reflexão, há que se dar um tempo para viver. Apenas se deixar ser. Já soube de toques poéticos. Pes...

Abraços de Clarice

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"Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões." Clarice Lispector - O livro dos prazeres Clarice me acompanhou em épocas de descobertas. Não por acaso seu livro, Uma aprendizagem, era minha leitura de cabeceira dos vinte anos. Por uma espécie de ato falho eu sempre colocava a palavra amarga ao lado, como em uma constatação de que a busca de si e da profundidade sempre deixa marcas de escavações, nem sempre fáceis. Na verdade nunca. Ouvi numa live, atual mania das pessoas em tempos de pandemia, que Clarice é complexa porque a gente nunca sabe o que ela quis dizer. Na época isso nunca me preocupou. Nem quem era a Clarice real, sua biografia, sua trajetória. Ela era alguém que traduzia em belas palavras muito que eu sentia. Nossa convivência era algo mais visceral que literário. A medida que fui passando do mistério de ser e de se buscar...