Ela toda maresia
Tinha gosto de mar. Ela toda maresia. Era daqueles verões de tempo escaldante, onde a linha do horizonte se confundia entre começo e fim. Como ela que se abria em dores, em rancores, em mal humores. Nem sempre fora assim. Teve um tempo de descobertas. Passou Olhou em torno e tudo parecia ter gosto de fermento estragado, desses que não vão fazer crescer o pão por mais que se sove. Dias ruins estes de sentir o peso do mundo. O corpo doía, a mente sofria. E ela se ria. Maldito senso de humor! Devia ter nascido mais vitoriana. Menos barroca. Que fosse, enfim. Urgia engolir aquelas lágrimas que teimavam em rolar. Gosto de sal. Menos mal que curtia salgados. Imagina se chorasse açúcar... Pensou em abrir a caixinha nova de pilulas que fazem esquecer mazelas. Mas seu lado mais trágico largou o gesto na metade. Que fosse até o fim com tudo o que tinha que sair. Que mergulhasse de vez no oceano que se abria, que afundasse em águas, em sargaços, em conchas e pérolas. Que virasse se