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Mostrando postagens de agosto, 2019

Gente madura também ama com paixão

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Caminhavam pela alameda.  Um de cada lado, olhando as flores e brincando com o passado. Um pássaro voou, uma folha caiu. O vento gemeu ausências. Seus passos já não tão ágeis lembravam por algum momento dois jovens que encontraram possibilidades. Dizer que a paixão passara seria mentira. Agora mesmo quando suas mãos se tocavam e seus olhares novamente se cruzavam, a corrente de energia os percorria e prenunciava as horas de amor que os aguardava. Eram um casal maduro e estavam indo para um motel para mais um embate de glórias. Entradas e descobertas, tal qual bandeirantes desbravadores. Quem passasse por fora não desconfiaria o fogo em brasas nos corpos já não tão belos e nos cabelos que teimavam em embranquecer. Mas os sábios de vida, esses sim! Esses olhariam com ternura e uma certa inveja de quem soube na vida preservar a chama do encontro amoroso.  Os jovens apressados jurariam que eram um casal de avós indo buscar seus netinhos e que, da vida, só levavam esses moment

A chata da pesquisa

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Adoro zapear na TV. Ontem estava exercitando meus dedos e parei em um filme, dessas comédias românticas que ainda não tinha visto. Confesso! Adoro esses filmes bobinhos, talhados para a sessão da tarde. Enfim, era uma com a Sandra Bullock e com o Hugh Grant, aqueles que fazem sempre o mesmo papel e mesmo assim gosto deles. Química zero entre eles...Não vi todo o filme mas pelo que entendi ela era o tipo da guria toda certinha, cheia de certezas e politicamente correta que, segundo as palavras do galã, todo mundo acha chata... Sei lá, me identifiquei. Sou a chata certinha que respondia os emails retificando as fake news que sempre existiram e na época eram chamados de boatos. Passei pela época de checar nas redes sociais e responder, com delicadeza, que aquela versão não era correta para sentir que isso não era lá muito bem recebido. Alguns agradeciam e continuavam a postar sandices. Outros, mais honestos, diziam que sabiam que não era verdade, mas que lhe convinha alardear por

Sonhos de miragem

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Um a um foi ticando os sonhos não realizados As viagens que não fez  Os amores que não vingaram Humores esquecidos Fluídos Sementes jogadas ao breu Nuvens, furta cor, formando desenhos O estomago chorando de falta A falta A falta A falta Doída  falta O cachorro destroçado  falta de liberdade bandeira rota falta de diálogo  De vez em quando escrevo algo e deixo no limbo das caixas de rascunho. Nem sempre volto para olhar. Às vezes sim. Hoje, por exemplo. Não sei bem como estava quando escrevi isso. Não muito bem, acho. Dificilmente a gente escreve em dias felizes. É como final de folhetim, o foram felizes até quando der antecede ao fim. E deixa o gosto de que todo aquele amor será possível daquela forma. Nem todo. Nem sempre. Algumas vezes sim, os sonhos de miragem, se fazem realidade. E aí a gente, se inteligente, não pára para descrever. A gente vive. Vive da melhor forma. Convive. Troca. Explode de emoção. Chora de alegria. As outras lágrimas, as de

Vera, a buscadora

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Conheci a Vera quando tinha uns 12 anos. Era a tia bonita que tinha casado com meu tio Cláudio, o caçula querido de cinco irmãs. Bonito que nem galã de cinema, bom de papo e de olhar sapeca. Não foi sem alívio que as manas saudaram a professorinha de sotaque gaúcho, morena como Ana Terra, que vinha fazer companhia para o tio estrabulega. Nos conhecemos de fato lá no Planalto Central onde eles vieram morar conosco, trazendo seu jovem pacotinho, meu primo Cássio, então com meses de idade. Foram morar na nossa casa. Naquela altura já estávamos instalados em um magnifico apartamento do governo, naquelas mordomias da época da ditadura, que quando conto hoje ainda tem gente ingênua que arregala os olhos, achando que nada daquilo acontecia.  A gente fervia no Planalto Central. Até de carro andamos com a Vera na direção. Sim, porque essa mulher desbravadora e lutadora, nunca levou adiante esse gesto de liberdade. Parou ali sua aventura de motorista. Mas nós fomos testemunhas. Se

Leio obituários de jornais

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Me pego pensando no porquê ainda leio jornal impresso. Quando ele chega pela manhã, as notícias já são velhas e eu mesma já sei das novidades pelas redes sociais e pelo rádio. Um dos motivos são os obituários. Em épocas passadas se sabia das mortes de conhecidos pelos anúncios nos jornais. Para quem se acostumou a saber pelas fotos enlutadas em redes sociais, nem sempre foi assim. Se era parente próximo ou muito amigo, telefonemas fora de hora já causavam comoção. Notícia ruim corre como raio, a gente já se preparava. Não raro os velórios duravam madrugadas, regados a causos e piadas que, nessas horas, o humor ajuda a espantar a tristeza e o medo da finitude. Hoje poucos anúncios nos jornais. Não que não morra gente como antes, mas o preço deles é proibitivo. Restam os obituários com fotos e resumo da vida dos defuntos. Ainda são grátis em alguns órgãos de imprensa.  Se já não são a primeira coisa que olho ao abrir as páginas, sempre paro um instante e leio todos. São mi

Sobrevivência nossa de cada dia que desperta nossas feras

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Acordo e leio a news da BBC no Telegram. Sim, uso muito o aplicativo e sem medo de vazamentos. Até porque tudo o que falo pode vir à público sem problemas. Entre as notícias internacionais, uma me chama a atenção.   Urso que invadiu casa nos Estados Unidos escapa da polícia derrubando a parede da residência. Muita empatia pelo urso.  Imaginem o poder bélico da polícia americana atrás de um simples urso que invadiu terras que um dia eram de seus antepassados. Ou melhor ainda, não eram propriedade de ninguém que não lembro de ter liso sobre nenhum Deus no cartório delimitando terrenos. Com exceção talvez do povo escolhido por Jeová. Mas isso já é outra história. O coitado do urso pode ter se perdido, ou ficado sem alimentos, já que os humanos invasores não só devastaram florestas, como parecem estar acabando com as abelhas que fazem o mel. Alimento, aprendi nos desenhos animados, que é o preferido dos ursos. Zé Colméia que o diga! Sobrevivência.  Mesmo com milênios de civiliza

Meu avô jornalista e revolucionário

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Meu outro avô, o Fábio, era jornalista. Seu jornal se chamava A Palavra e era nele que usava seus dons de inflamada paixão literária para defender suas ideias políticas. Meu avô era uma homem de decisão e tinha posição. Morreu por conta de seus ideais. Imagino a fúria de seus dedos ao datilografar vigorosas reportagens sobre os desmandos da época. Não poupava palavras. Mentiroso cynico, canalha impudente. Salamalequeiros da dictadura...que tartufos! Dizia sobre as autoridades da época que fraudavam eleições. Ao invés das fake news, muniam os eleitores com cédulas pré marcadas. Cada época com as suas patuscadas. Não a toa as paredes de sua tipografia amanheciam cobertas de balas. Meu pai, que tinha três anos quando ele morreu, lembrava das marcas. Maragato, batista e maçom. Não duvido que fosse espírita como seu irmão. Se bem que talvez tivesse mais crenças no real do que no espiritual. Devia ser porreta, esse avô, que morreu jovem, com 36 anos, perfurado por balas em um lev

Bostejando pelo meio ambiente

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Meu avô materno era médico. Veio pequeno de uma Alemanha que ainda não oferecia condições dignas de vida para todos os seus filhos. Sua pequena aldeia de Monzelfeld , perto do Rio Mosela, parece hoje uma paraíso aos nossos olhos terceiro mundistas. Mas naqueles tempos passados não devia ser tão promissora com seus habitantes. Vários deles optaram por viagens sofridas para desbravar terras desconhecidas, sabendo que nunca mais voltariam para ver seus parentes. Aqui no Brasil foi professor. Foi dele a ideia que resultou na vinda dos irmãos Maristas para que os filhos dos imigrantes pudessem ter um ensino de qualidade. Custou para conseguir realizar seu sonho de curar pessoas. Já tinha 41 anos quando se formou em Medicina na UFRGS, turma de 1912 . Foi clinicando por aí até chegar ao interior do interior, onde se radicou e proporcionou uma vida de alegrias à minha mãe e suas irmãs e irmão. A mãe sempre conta que quando chegava um doente as primeiras providências que ele costumav

Ninfas apopléticas

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Ninfas em estado de fúria? Seria o caso dessas diáfanas criaturas se encontrarem em seus lares ancestrais e verterem danças enfurecidas, lançando gritos apavorantes que acordassem mentes adormecidas nos mais recônditos lugares dos planetas, céus e mares? Ou estariam as ninfas adormecidas como tantos, esperando em seus sonos de contos de fadas que passassem os 100 anos de maldição e a beleza voltasse a reinar? Ou quem sabe ainda as criaturas estariam sofrendo desse mal moderno que causa fadiga prematura aos pensamentos e sentimentos e sua aparente apoplexia apenas se devesse ao estranhamento de se perceber em um universo alternativo correspondente aos piores pesadelos. Aqui e ali ouviam rumores fora de suas nuvens onde fervilhavam os embolhamentos. Ali reinavam fugas das mais variadas.  Umas liam alucinadamente como se precisassem decorar as palavras que poderiam ser esquecidas.  Outras riam desbragadamente e junto aos faunos, se jogavam às orgias antes que as t

Os livros que li

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Rodeada de livros. Diria que minha vida poderia ser definida desse modo. Desde pequena rodeada de livros. Os mais diversos assuntos. Contos de fadas, universos de outras terras. Rainha do gelo. Lindas princesas meninas chinesas, Diliki Doliki Diná que acenava com outras realidades. Minha vida foi generosamente regada com imagens que se descortinavam dentro de mim. Nunca me foi negada a oportunidade de buscar e saber mais. Ao contrário. Isso foi fomentado desde sempre. O pensar, o contraditório, o debate qualificado que tinha que ter argumentos sólidos e razoáveis. Minha maior herança. Os livros que li me abriram perguntas desde sempre. O universo é finito? Se o é, onde os limites? Se não, como conceber a amplidão do que não tem fim? A História como aprendizado aconteceu assim ou assado? As manchetes de jornais mostram de maneira diversa o mesmo assunto. Isso eram dúvidas e debates desde pequena. Assim era minha casa. Cheia de mentes arejadas. Gente de bem, trabalhadores e que

O sábado de manhã e claros breus

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"Ao fim de cada ato, limpo num pano de prato"....ouvindo Bethânia em Claros Breus, tentando resgatar o velho hábito de usar as manhãs de sábado como ponto de reabastecimento de energias. Se o sol me convida a sair, renego. Se o frio me chama ao aconchego, aceito. Aconchego é tudo o que meu eu necessita nesses dias de incertezas e breus que se mostram cada dia mais assustadores. Tento afastar as angústias e me embalo na leveza da vida que está ao alcance do meu chamado interno. Sim, sempre tive essa facilidade de me afastar das realidades que me causam desconforto. Escapismo ou qualidade, já não importam depois de várias décadas de sobrevivência. Ainda vivo. Talvez seja meu jeito de sobreviver. Minha resistência interna me afasta dos perigos. Alguns. Mas me expõem a outros. No balanço das emoções e das experiências, não fiz a contabilidade. Ando afastada dos números. Bethânia continua a me embalar. A propaganda do spotify grátis me traz de volta ao mundo consumista

Coisas que aprendi quando já era tarde demais

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Será que existe um tempo certo para aprender a viver? Tudo bem que tem coisas que a gente deve vivenciar como crianças. Outras tantas, desafiantes e conflitantes, povoam nossa adolescência. E assim vão indo nossas rotas de aprendizagens. Quantas vezes nos pegamos pensando que "se soubesse isso dez anos atrás, que mais simples teria sido minha vida".  Seria fantástico ter conseguido absorver por osmose as experiências que nossos pais, desesperadamente, tentavam nos passar. Mas eram experiências deles, passando pelo filtro de suas emoções e percepções. Embora carreguemos seus DNAs, somos diferentes de nossos antepassados. E que bom que assim seja! Se fossemos cópias clonadas, o mundo não teria evoluído.  Então que graça tem falar de coisas que aprendi depois de ter vivido que não devia ter feito? Para passar um testemunho que leve outras pessoas (e mesmo a nós) por uma reflexão dos caminhos da vida. A receita que serve para mim, nem sempre serve para você