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Mostrando postagens de novembro, 2018

Aquela Zica de fim de ano

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Nem sempre foi assim. O fim de ano era tempo muito esperado. Tinha a magia do Natal e dos preparativos. Era um tal de fazer biscoitos, ir em busca de musgo para o presépio e imaginar o que o Papai Noel ia trazer de presente a cada ano. Desde que não viesse junto. Um ano ele veio e era feio que só. Não era gordo e bonachão como nas revistas (não tinha esta coisa de shopping naqueles tempos e o bom velhinho a gente só via em propaganda das revistas). O que veio era magro e com uma máscara esquisita. Chegou todo cheio de mau humor o coitado. Já devia estar cansado de tanto dar presente e fazer sermão. Veio com uma vara de marmelo como se apanhar fosse coisa comum para mim. Não era. Chorei muito. Quase como naquele filme da Branca de Neve quando a bruxa apareceu e fez a Branca dormir com tempestades e raios. Na verdade chorei menos que no filme que estava de olho nos pacotes e era só esperar o magrelo ir embora que tudo virava festa de novo. Natal era tempo de calor. De

Nenúfar, a Noite dos Tempos e Homo Deus

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mergulhei para conhecer-me inversa,submersa preciso saber se minhas pétalas aguentam [ser lama e se meu caule suporta a dor da luz Exercício de leitura de mulheres loucas Cinthia Kriemler Gosto de ler. Não é nenhuma novidade para quem me conhece. Gostava de escutar historinhas quando criança, gostava de ler gibis. Devorava livros de história desde sempre.  E ficção. Lembro de um que li aos 15 anos.  Década de 70, tempos de guerra fria e medo das armas nucleares que poderiam matar. Mas não apenas matar pessoas e destruir prédios. Podiam acabar com o mundo. Falavam da célebre frase que teria sido dita por Einstein: Não sei com que armas a III Guerra Mundial será lutada. Mas a IV Guerra Mundial será lutada com paus e pedras.  Albert Einstein O livro se chamava " A Noite dos Tempos " de um autor francês chamado René Barjavel.  A obra era fascinante aos meus olhos de adolescente que vivia em um mundo todo cheio de nãos. Falava de uma expediç

Contadora de histórias

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Se desse para arrancar, este grito ganindo,  já o teria feito Se desse para lacerar esta ânsia de fuga já teria partido Se desse para esquecer fazendo de conta que portas não se abriram já as teria esquecido Se desse para não viver arrancando a angústia à fórceps Nem teria nascido.... Tinha sido parida em um dia de nada acontecido.  A luz primeira vinda ao mundo nessa que era em tudo uma buscante. Não era deste mundo. Não deste que valorizava as espertezas e as maquinações. Viera parar aqui por engano.  Cegonha com endereço errado.  Átomos soltos no universo que foram capturados em um momento de supremo gozo.  Destino. Escolha... Por certo algum propósito havia já que ela desde sempre fora misto de animista e humanista. Tocadora de quimeras, com tendências ao místico pragmático, aquele que mistura ciência, pseudo pesquisa e surrealismo. Agora lera que a vida se fazia dos contadores de histórias. Contaria a sua. Das v

Abrir portas exige escolhas

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Estava aqui, a toa na vida, não para ver a banda passar, mas esperando a inspiração chegar. Segundas feiras tem desses mistérios de amortecer os sentidos. Mesmo quando o fim de semana não é vibrantemente agitado, e talvez até em função disso, eu já me pego acordando tipo assim cansada. De corpo mas mais de alma. Mas eis que vejo uma figura com uma pergunta, dessas tipo filosóficas de redes sociais. Não sei vocês, mas eu abriria sem hesitar a porta azul.  Não que eu não quisesse os R$ 10 milhões, mas de jeito nenhum daria 10 anos de minha vida por eles. Já estou naquela fase em que tenho menos tempo para a chegada que para o ponto do começo. Cada minuto é precioso e vale muito mais que cifras de dinheiro, por mais tentadoras que sejam. Então a porta amarela é descartada de cara. Viajar pelo mundo seria maravilhoso. O resto da vida não sei. Quanto mais a hora de acabar a jornada se aproxima, mais sinto falta das raízes. Então a porta vermelha, por mais tentadora

Das eleições

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"Não é tu na foto!!!"   Me disse o mesário  em minha primeira eleição. Realmente aquela guria mais gorda e séria da foto, com uma roupa listrada esquisita, em nada parecia com aquela outra, mais magra, mais bronzeada que dentro de uma calça branca justa e camuflada nos cachos de uma permanente, usava aquele título pela primeira vez para votar para governador. Presidente ainda iria demorar mais uns 4 anos.  Tirei meu título de eleitora aos 18 anos. Morava ainda em Brasília. Fui usá-lo 10 anos depois já em Porto Alegre. Ainda era o tempo em que votar me emocionava, me sentia mudando algo. Era mais jovem e idealista. Da minha vida com obrigação de votar, 29 vivi como opositora ao governo. 10 deles em uma ditadura.   Nesse meio tempo vivi porque a vida segue apesar de. Era mais doído nos tempos de mordaça mas nunca abdiquei do direito de criticar e discordar. Mesmo nos governantes em que ajudei a eleger. Criticar é um direito que não abro mão. Fazer a DR da relação a

O homem que coçava a orelha com um grampo

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Entrou no Uber. Pensou consigo mesma que não se faziam mais aplicativos como antes. Não mais os veículos pretos, com gente engravatada e cheia de mesuras. O motorista vestia bermudas. A rádio gritava as fofocas da novela. O carro já tinha visto dias melhores, a limpeza também. Mas a pressa era tamanha e a promoção que a fazia viajar de graça compensava tudo. Até achou graça quando, depois de espirrar pela janela, o motorista pegou um grampo e limpou a orelha... Cara! Nunca tinha visto nem um taxista daqueles táxis bem horrorosos fazer isso. Limpar a orelha com um grampo! Nem grampo se usava mais. Mas nestes tempos de surrealidade aquilo foi apenas um toque a mais. Se armou de bom humor porque nada ia empanar dentro dela a capacidade de ser simpática. Falou do tempo, da vida, do futebol. Deixou de lado os assuntos mais espinhentos porque sua natural diplomacia, aliada à sabedoria de décadas de vida, muitas vividas em uma ditadura, lhe ensinaram que nem tudo se fala abertamente.

Recomeçando

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Recomeçar. E recomeçar de novo. 1943234160 segundos desde que os abriu pela primeira vez nesta Terra de tantos desafios. Abrir os olhos tem um significado bastante peculiar. Pode exprimir o ato físico de mover as pálpebras e permitir a sua lubrificação. Mas também pode aludir à uma abertura de mente mais ampla, além do físico. Tantas e tantas vezes abriu os olhos de maneira marcante. Alguns com um estalo gritante. Outros mais suavemente, mas sem saída. Hoje abriu os olhos com uma ponta de recomeço. Talvez saindo de tempos tenebrosos onde suas forças internas entraram em tal conflito que paralisaram. Tentou de vários modos lidar com isso.  Apelou para a força de vontade. Para suplementos energéticos quando as pernas teimavam em não obedecer. Foi aos médicos para examinar as tonturas que a faziam perder as forças e a garra de ir em busca. Tomou passes. Rezou. Leu. Escreveu. Fez apelos mudos nas escrita revelando que o ponto de não retorno estava próximo,