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Mostrando postagens de setembro, 2017

Reflexões de um domingo entre ensolarado e cinzento

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"Nada mais chato que ex fumante." Ouvi muitas vezes dizerem isso ao meu pai que após deixar o vício vivia tentando convencer os outros a também agir assim. Sei de suas boas intenções e talvez até tenha conseguido ter alguém que o ouvisse, mas creio que seu exemplo talvez tenha sido mais profícuo que suas palavras. Lembro também de uma definição de religião que li muito tempo atrás. Era mais ou menos assim, tipo a caverna de Platão: pessoas trancadas em uma casa em um dia esplendoroso de sol se recusam a sair, não importam os argumentos usados. Aí se grita FOGO, FOGO, FOGO e as pessoas correm para a rua. Ao abrir a porta são banhadas pela luminosidade e compreendem. Ou sentem. Ou enfim, não importa, curtem o momento.  It's real life, my dear. Cada um tem o seu momento e sua trajetória. Se conselho vingasse não repetiríamos erros mas também não encontraríamos novas soluções. Assim é meio inglório apontar soluções, mas não deixamos de faze-lo. E ao fazer, contamos com

Ninguém disse que me fazer de forte me doeria tanto

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Fazia tempo que uma noite não era tão comprida. Pensar, remoer, doer.  Doía.  A vida doía como bem lembrara sua amiga escritora.  Em algum ponto do caminho derrapara na curva. Urgia encontrar o retorno. Se ainda havia algum. Às vezes achava que se fosse um pouco mais corajosa podia meter o pé no pedal e mergulhar no fim. Mas até para isso pensava nos outros primeiro. Não queria machucar ninguém. Que se machucasse sozinha. Ninguém mesmo se importava.  Havia sim quem se importasse. Achava que havia.  Suas dores que a carregasse sozinha que assim tinha sido escrito. Era seu carma.  Essa coisa de carma é explicação besta para dizerem: fique com suas queixas e não venha nos amolar. Cada um carrega as suas e assim foi e sempre será.  Queria ter estômago para aparentar mais fake happines. Aquele saudável egoísmo de expor uma vida esplendorosa nas fuças de todos para que a admirassem. Qual o quê. Tinha mais paciência para isso não.  Tinha esgotado.  Que contasse com seus ombros que eram frágei

Abriu a porta

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Abriu a porta. Tudo era novo naquele olhar que amanhecia para a vida. Correu os olhos pelas paredes em que a pintura carecia de novo retoque. Pousou seus dedos pelos móveis que revelavam um passado mais ditoso e onde os cupins marcavam sua fome.  "Para que uns sobrevivessem, outros tinham que fenecer." Riu da sua ideia. Pareceu tolice de adolescente, coisa que ela tinha uma vaga recordação de ter sido um dia. Mas mesmo assim, sorriu. A vida lhe pareceu boa. E fosse lá explicar esse milagre de achar graça onde tudo parecia ruína? Tem coisas que não se explica não. Se deixa sentir e só. Abriu a porta. Sentiu falta de uma violeta que pudesse lembrar ternura. Anotou mentalmente na sua lista de compras. Havia de sobrar uns trocados para um gesto de beleza. De repente entendeu o cara que morava na rua, aquele que trancrava a respiração, envergonhada, pelo cheiro que empesteava suas narinas, dos dias e anos sem uma gota de água a lavar humores e fluídos que de tão natur

Acordou velha

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Era um tempo complicado. Ela saia de si às vezes para tentar achar um rumo que fizesse mais sentido que o que vivia. Todos me chamam de Moira. Vocês pensam que não me conhecem, mas todo mundo vive mais ou menos comigo sem saber, e ocupo um lugar cada vez maior em boa parte de suas vidas. Aliás, ser uma Moira tornou-se um emprego apaixonante desde que tantas pessoas, que passaram seus verdes anos se achando eternas, perdem o norte conforme a flor da idade vai murchando e surge, inexorável, o fruto da maturidade.  Benoîte Groult, Um toque na estrela Acordou velha. E não apenas pela pele flácida e os cabelos brancos que teimavam em aparecer sobre as camadas de pintura que tentavam driblar o tempo nesse mundo onde ser jovem é quase uma obrigação. Tudo bem que os remédios, antes inexistentes, iam aumentando a cada consulta médica, que os amigos iam morrendo sem explicação e que o tempo que sobrava era infinitamente menor que o que percorrera. Nada disso no entanto a fazia mais velha

Perseguida

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Puta!  Mil vezes puta!  Puta da cara Puta da vida Puta destemida Puta mulher!  Puta guerreira Puta da vida Sempre perseguida Puta escolha Puta destino Puta da vida Cabeça sempre erguida Puta merda Puta do caralho Puta da vida Lição aprendida Puta amiga Puta ternura Puta da vida Menina tímida  Puta chamada Puta assumida Puta da vida Nunca reprimida Putas todas nós  Putas gritantes Putas da vida Mulheres escolhidas Putas que nos parimos  Lilith