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Mostrando postagens de dezembro, 2020

Receita de como planejar um novo ano mais bacana para a gente

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Participando do grupo dos 90 dias para o melhor de si, do amigo Rafael Reinehr e, tentando achar algum nexo na bagunça que se transformou a minha vida, sair do deixar que ela me leve, tento seguir os passos dessa reflexão proposta de como fazer acontecer um 2021 que eu possa chamar de meu . Vamos às reflexões seguindo a ordem do texto. É um roteiro de questões sobre o ano que finda e outras sobre o que inicia.  2020 Quais foram as coisas das quais mais me orgulhei em 2020? Perguntinha capciosa. Em um ano que pareceu não ter sido vivido, do que poderia me orgulhar? Ter sobrevivido seria a primeira. Não foi pouco. Faço parte do grupo de risco, me lembro da sensação de me sentir descartável nas primeiras manifestações do vírus, quando se dizia a boca larga que se os velhos vão morrer mesmo, que paguem seu tributo aos mais jovens não lhes atrapalhando o trabalho com sua necessidade de isolamento. Resolvida a questão de orgulho básico, me orgulho de não ter surtado e de ter conseguid

Foi um ano Muito desgraçado

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Foi um ano Muito desgraçado Não tinha termo Não tinha senso Ninguém podia Sair nele, não Porque do vírus Não tinha proteção Ninguém podia Aglomerar  Porque na rua Não tinha salvação Ninguém podia Fazer alvoroço Porque a saliva Espalhava o troço Mas era ano Com muito gado Na Rua dos Bobos Número 17 Que me desculpe Vinicius pela rima emprestada. Do poeta não tenho a maestria, o ano não me proporcionou a leveza necessária, o fim de ano não me encontra Poliana nem achando que o rolar das páginas vai nos trazer mais esperanças. A moça das asas ligeiras me passa longe do penamento. Era pensamento, mas tantas vezes o corretor ou a pressa revelam mais dos reais sentimentos que talvez o barbudo austríaco explique. Ou não.  O ano foi um penamento. Foi penoso abrir mão de vida em troca de cuidado. Não que seja muito diferente da rotina de outros anos. O que difere é que agora a dor é geral, não apenas minha. É a minha multiplicada pela de bilhões de outras pessoas que tiveram as vidas abreviadas.

Rescaldos de um ano pandemônico

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Este foi sem dúvida um dos anos mais longos -e mais curtos- da minha vida. E olhem que não vivi pouco. Levava uma vida sossegada, como diria a Rita Lee, quando um desgraciado de um vírus de nome esquisito transformou o meu mundo (e o de todos vocês) em um grande pandemônio. Recolho os rescaldos agora.     No   período   que   se   segue   a   uma   tragédia   ou   acontecimento   marcante ,  geralmente   quando   ainda   se   sentem   os   seus   efeitos   ou   . consequências .   "rescaldo" , in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020,   https://dicionario.priberam.org/rescaldo   [consultado em 21-12-2020]. O início de janeiro me pegava preocupada com obsessões e me perguntava " como nos protegemos da barbárie? Do cotidiano que não faz mais sentido? Dos medos e temores que nos abatem e para os quais nossa alma, exaurida, não tem mais a tal de força de vontade de reagir..." Em fevereiro um conto traduzia exercícios com as palavras em brincand

Caetaneando em um fim de ano

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 ouvindo Caetano e pensando que nem sempre gostei do Caetano. No começo era aquele guri franzino de boca grande e cabelos cacheados, terno e uma aparente timidez, que já devia ser uma coisa odara. Eram os festivais da Record. Tinha tanta gente, tinha um Chico novinho louvando a banda. Tinha Rita Lee e os Mutantes, de coadjuvantes do Gil. Tinha violão quebrado e para não dizer que não falei de flores. Eram tempos sombrios. E aquele baiano entrava e cantava Alegria, Alegria . Sem lenço, sem documento Nada no bolso ou nas mãos Eu quero seguir vivendo, amor Eu vou Por que não, por que não? Por que não, por que não? Por que não, por que não? Vamos ainda, Caetano. A gente quer seguir vivendo. Um pouco daquele menino reside no senhor que ouço na live em um ano de pandemia. Os cabelos brancos lhe deram um charme, a poesia da voz se refinou.  Ouço entre um cálice de vinho e saudades de um tempo que ainda vai vir, pensando se o tempo foi tão generoso comigo. Continuo curtindo Caetano de tempos e

Sutilezas do pensar

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  Sempre gostei de Cássia Eller. Freud talvez explique. Uma careta pessoa como eu, gostar de uma que canta malandragem com irreverência. Sutilezas da vida que não se explica. Nem os gostos. Nem os desgostos. Já é dezembro. O calor voltou, mal vi o inverno. Meus casacos e botas ficaram guardados, assim como eu.  Mas as dores e amores foram revirados como nunca. Não de jeito revolucionário. Por mais surreal e emotivo que tenham sido esses meses de tantos medos e inquietações, nunca se teve tanto tempo para pensar. Pensar e ponderar. Olho para fora e passa uma lancha com gente esquiando. Gente vive lá fora. Mesmo que não existisse a pandemia, eu estaria aqui dentro. Eu cuido. Os que cuidam acabam vivendo menos as suas vidas lá fora. Escolhas, não é uma queixa. A alternativa de delegar para outros o cuidado, não é viável para minha alma, mente e coração. O tempo se faz mais aqui dentro que lá fora. Sempre foi assim. Sina, talvez.  Enfim, neste dezembro tirei um sábado para mim. Deitei e vi

Como era gostoso o meu francês

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Como era gostoso o meu francês, pensou enquanto examinava a taça para perceber a limpidez do vinho branco. Gostava mais dos tintos encorpados, é verdade. Mas aquela noite merecia uma exceção.  Tudo tinha começado há exatos dez meses. Marcara bem aquele dia que seria tão determinante em sua vida. Diziam que momentos marcantes são assim. A gente lembra em detalhes. Tocava Nando Reis na rádio, chovia miúdo e era um dia cheio de noticias sobre a politica. Foi quando veio o telefonema da detetive Andreia. Vira o telefone no poste do supermercado e num impulso ligara, umas semanas antes. Falar da traição, sinais, dúvidas, expor a personalidade do companheiro que trazia tanto amor, mas pecava em algumas faltas, eram pensamentos constantes em seus momentos com as amigas. Nem quis ver as fotos que a detetive jurava serem dele. Falou do carro entrando no motel, encheu de estatísticas de homens como ele traindo e eis que tomou a decisão: ele nunca mais! As amigas apoiaram com decisão.