Sutilezas do pensar

 

Sempre gostei de Cássia Eller.

Freud talvez explique. Uma careta pessoa como eu, gostar de uma que canta malandragem com irreverência.

Sutilezas da vida que não se explica. Nem os gostos. Nem os desgostos.

Já é dezembro. O calor voltou, mal vi o inverno. Meus casacos e botas ficaram guardados, assim como eu. 

Mas as dores e amores foram revirados como nunca. Não de jeito revolucionário. Por mais surreal e emotivo que tenham sido esses meses de tantos medos e inquietações, nunca se teve tanto tempo para pensar.

Pensar e ponderar.

Olho para fora e passa uma lancha com gente esquiando. Gente vive lá fora. Mesmo que não existisse a pandemia, eu estaria aqui dentro. Eu cuido.

Os que cuidam acabam vivendo menos as suas vidas lá fora. Escolhas, não é uma queixa. A alternativa de delegar para outros o cuidado, não é viável para minha alma, mente e coração.

O tempo se faz mais aqui dentro que lá fora. Sempre foi assim. Sina, talvez. 

Enfim, neste dezembro tirei um sábado para mim. Deitei e vi filme antigo na TV. De tarde. Um filme que marcou minha adolescência. Na época, aos 14 anos, vi uma história de amor. Hoje, vi um drama de intolerância.


E não somos todos joguetes do destino, caro Romeu? Quantas incongruências entre nós e nosso querer? Entre o que planejamos para driblar a sorte e as armadilhas que ela coloca no nosso caminho?

Aos que ficam, resta lamentar a sina de dois jovens amantes que apenas queriam ser felizes. Dar as mãos no fim da fita. E repetir as desavenças porque elas não morrem, apenas adormecem.

Depois do amor, veio o terror. Detesto. Com uma exceção. O iluminado que sempre me lembra a paranoia de quem vive uma obsessão solitária e repetitiva que transforma qualquer jack num bobão. Bobão assassino.

Ter um tempo para parar de maneira compulsória não foi um ano sabático. Não li o que gostaria, não terminei alguns cursos e projetos pessoais que achei que faria. Não faxinei a casa nem aprendi a fazer pão de casca dura. Mas, e sempre tem um mas que compensa alguma coisa na vida, acabei me reencontrando comigo de uma maneira mais interessante.


 A eu de março e a eu de dezembro não são diferentes apenas nos cabelos. Há uma névoa diferente no olhar. Não é depressão, já passei por ela antes da pandemia. É mais um choque de realidades. Porque se há algo que os momentos extremos revelam é quais são as nossas prioridades. E quais são as das pessoas que contam para a gente.

Noves fora, liquidifiquei as dores, ralei as probabilidades, abri a visão para novas realidades. A eu de dezembro talvez seja uma mulher mais amadurecida, sem jamais perder a ternura.

Apesar do mundo teimar em se tornar cada dia mais abissalmente surreal.

(este é um projeto pessoal de diário. Não para contar minha rotina, mas apenas para clarear as ideias) 

Quando o segundo sol chegar...canta Cássia. 
  

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