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Mostrando postagens de outubro, 2024

Chatinho e a inspiração humana

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"Era como se o tempo dobrasse suavemente, sem pressa, quando as mãos enrugadas encontravam as mais jovens. Ali, naquele instante de silêncio e troca, existia algo maior do que palavras: um entendimento profundo de que cada geração trazia consigo uma parte da história que a outra precisava ouvir, sentir e guardar. A avó falava devagar, saboreando as memórias como quem saboreia o aroma de café recém passado, e os netos, curiosos e atentos, absorviam aquelas histórias como se fossem mapas de um tesouro. As palavras carregavam mais do que lições; traziam vida, lembranças de um tempo onde brincar na rua era sinônimo de liberdade, e os sonhos tinham o cheiro das estações, do alecrim ao frescor da chuva. E, assim, de histórias aparentemente simples, nascia um entendimento. Os mais jovens aprendiam que o tempo é generoso quando o compartilhamos, que a paciência não é uma obrigação, mas um presente. E os mais velhos, revivendo as aventuras da juventude, descobriam um frescor esquecido, com

Tempo sem ponteiros

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  Era dia de qualquer hora e ela mesma, mulher de qualquer momento. Nem sabia mais que idade tinha ou qual era a motivação que fazia seus dias diferentes da mesmice de qualquer tempo. O tempo corria célere. Isso ela sabia. Ainda ontem era dia de brincar de roda. Vestida de baiana, balangandã na cabeça saia dançando como se o amanhã não existisse. Existia. Hoje vivia o amanhã. Seu corpo doía. Sua alma sentia uma solidão difícil de explicar. Era dela mesma que sentia falta. Era dia de qualquer momento e ela mesma, mulher de qualquer hora. Seu documento gritava uma dezena de anos que não lhe pesavam por os ter vivido. O peso vinha quando pensava que o tempo que restava era bem mais curto. Talvez, com sorte, a metade. E já sabia da ligeireza das horas. Vestida de banalidades, bebia água que nem era mais cristalina, e sabia a aromas de campo. Tinha gosto de alecrim. Cheiro de canela. Sorria. Ouvia Paralamas, quase um segredo e pensava sim. Expectava o que viria a seguir. Seria tempo de sol/

obra inacabada

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  02/10/24 É o segundo dia do décimo mês do ano de dois mil novecentos e vinte e quatro. Escrito assim parece mais pomposo e solene. É uma mera convenção. Podia ser colibri dourado do mês abundante de flores do ano da colheita do que se plantou. Tudo na vida é convenção e esta é construída pelas nossas visões, nossos aprendizados e o que aceitamos como verdades. Existem fatos. É dia, tem nuvens no céu, vai haver eclipse do sol. Existem crenças e sentimentos oriundos delas. As nuvens empanam o brilho e o eclipse marca portais de energia cósmica que podem afetar seres que habitam um planeta qualquer da Via Láctea que tem o sol como estrela geradora de vida. Dito assim até parece fazer sentido. O que faz sentido realmente na vida? O que vemos? O que filtramos do que vemos? O que sentimos do que filtramos do que vimos? Filosofar sobre o sentido da vida sem citar ninguém e em plena manhã de uma quarta cinzenta, sendo apenas uma janela na imensidão de prédios que compõem minha cidade, faz z