Tempo sem ponteiros

 

elenara elegante


Era dia de qualquer hora e ela mesma, mulher de qualquer momento.

Nem sabia mais que idade tinha ou qual era a motivação que fazia seus dias diferentes da mesmice de qualquer tempo.

O tempo corria célere.

Isso ela sabia.

Ainda ontem era dia de brincar de roda.

Vestida de baiana, balangandã na cabeça saia dançando como se o amanhã não existisse.

Existia.

Hoje vivia o amanhã.

Seu corpo doía. Sua alma sentia uma solidão difícil de explicar.

Era dela mesma que sentia falta.

Era dia de qualquer momento e ela mesma, mulher de qualquer hora.

Seu documento gritava uma dezena de anos que não lhe pesavam por os ter vivido.

O peso vinha quando pensava que o tempo que restava era bem mais curto. Talvez, com sorte, a metade.

E já sabia da ligeireza das horas.

Vestida de banalidades, bebia água que nem era mais cristalina, e sabia a aromas de campo.

Tinha gosto de alecrim.

Cheiro de canela.

Sorria.

Ouvia Paralamas, quase um segredo e pensava sim.

Expectava o que viria a seguir.

Seria tempo de sol/luz/iluminuras/quadraturas?

Todas as conjunções e portais de um universo que teimava em gritar

Estrelas!

Era dia quase noite de um tempo de incertezas. E ela mesma, mulher de harmônicas concretudes utópicas

Talvez a finitude fosse isso.

Apenas ser em um mar de nuvens fugidias e tempo sem ponteiros.

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