Tempo sem ponteiros
Era dia de qualquer hora e ela mesma, mulher de qualquer momento.
Nem sabia mais que idade tinha ou qual era a motivação que fazia seus dias diferentes da mesmice de qualquer tempo.
O tempo corria célere.
Isso ela sabia.
Ainda ontem era dia de brincar de roda.
Vestida de baiana, balangandã na cabeça saia dançando como se o amanhã não existisse.
Existia.
Hoje vivia o amanhã.
Seu corpo doía. Sua alma sentia uma solidão difícil de explicar.
Era dela mesma que sentia falta.
Era dia de qualquer momento e ela mesma, mulher de qualquer hora.
Seu documento gritava uma dezena de anos que não lhe pesavam por os ter vivido.
O peso vinha quando pensava que o tempo que restava era bem mais curto. Talvez, com sorte, a metade.
E já sabia da ligeireza das horas.
Vestida de banalidades, bebia água que nem era mais cristalina, e sabia a aromas de campo.
Tinha gosto de alecrim.
Cheiro de canela.
Sorria.
Ouvia Paralamas, quase um segredo e pensava sim.
Expectava o que viria a seguir.
Seria tempo de sol/luz/iluminuras/quadraturas?
Todas as conjunções e portais de um universo que teimava em gritar
Estrelas!
Era dia quase noite de um tempo de incertezas. E ela mesma, mulher de harmônicas concretudes utópicas
Talvez a finitude fosse isso.
Apenas ser em um mar de nuvens fugidias e tempo sem ponteiros.
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