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Mostrando postagens de julho, 2021

Sobreviventes no deserto

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"Apenas tribos unidas por um sentimento de grupo conseguem sobreviver no deserto." Ibn Khaldun  Cinzentamente o domingo se espalha preguiçoso, antevendo tempos ainda mais gélidos que os que passamos. Sim, vivemos em um deserto. Embora urbanos e repletos de prédios, cheios de pessoas, inundados de universos, curiosamente estamos cada vez mais sós. Nossas fortalezas, pequenas ou grandes, abrigam nossos pares, mas não o etos público. Li esses dias uma reflexão sobre empatia e no como é necessário pensar além fronteiras individuals e familiares. Estranhei isso não ser pensamento comum, ensinamento que aprendi desde pequena. Meu lugar no mundo e, consequentemente, minha responsabilidade sobre o outro. Ainda mais curioso que ande na contra maré da conscientização corrente. Preciso ser mais egoísta, mais individualista, mais pensante em mim e menos no outro. Os outros para quem priorizo meu foco de sentimento de existência no mundo.  Vários testes já me deram semelhança com Madre Te

Eu e meus breus

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Nasci perplexidade Cresci curiosidade, busca de sentido dos meus breus conheço o abismo dos picos a luz me guia sobrevivo generosa Bethaniamente sentimento aflorante/ perseguinte/ emergente Nasci em um abril de um ano da década de cinquenta. Em um quarto de hospital de uma cidade do interior do meu estado. A parteira, meio doula, me amparou junto à minha mãe e meu pai, em um ambiente meio breu, com música. Assim emergi ao mundo. Os breus vieram junto de herança. Carências ancestrais que trago coladas nas células e memórias de gente que não conheci. Fruto de mulheres que sofreram e amaram, perfumes de vidas que se fizeram entre dores e amores. Clichês e sonhos. Breus. Cresci entre medos internos e impulsos de saídas. Luz e escuro. Sol e lua me contornam desde sempre. Meus grandes olhos pretos curiosos, observantes. Meus brinquedos, os teatros de enredos criados na minha cabeça. Meus silêncios, o enigma de quem me via e não me reconhecia. Nem eu o fazia. Amadureci entre sorrisos e lágrim

O vinho e o nada

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O vinho girava lentamente na taça deixando lágrimas que se pareciam as que ela mesma vertia. Já tinha cheirado e não sentia aromas de café ou frutas vermelhas. Nem mesmo amadeirados. Mas o gosto da bochechada ia e vinha como marés de lua cheia. Enchia sua boca de gostos, pareciam todas as misturas de bebidas boas que já tomara na vida.  Mentira. Parecia mesmo com aquele gosto de primeiro beijo daquele namorado que nem lembra direito o rosto porque efêmero. Mas que beijava divinamente. Enchia sua boca com línguas e emoções desconhecidas. Embora já adivinhadas. Vivia tempos esquisitos. Lá fora os sons quase normais de uma vida que se descobria em tudo diferente. Cá dentro um aperto novo e tão conhecido. Vivia, se rasgava e se redescobria. Já esquecera de contar o quanto tentara escrever. Sentava e nada. Sentia uma inspiração, fazia um início de texto. Sentava e nada.  O nada era um sentimento desconhecido. O escrever sempre fora a sua fuga, seu destino, sua lata de lixo e baú de descober