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Mostrando postagens de maio, 2022

Gestação de Memórias - podcast de histórias das mulheres que me arquitetaram

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    Sempre tive um fascínio pelo passado.  É como se vozes ancestrais soprassem em meus ouvidos um apelo para que pesquise suas histórias, como que para levantar a poeira do esquecimento e as faça novamente viver. Estou envolvida em um projeto chamado  Gestação de Memórias  - História das mulheres que me arquitetaram.  Um desafio de contar a vida olhando essas avós, tias e mães que, com suas vidas anônimas, fizeram germinar sementes que somos nós, suas filhas, mulheres que levamos também nossas vidas da melhor maneira que podemos. Saber de nossas origens talvez não nos melhore, mas nos faz ter mais firmeza de outros pés que nos precederam. Suas histórias tão cheias de riquezas cotidianas me fazem pensar no que elas pensavam, quais histórias  e mistérios guardaram em seus corações e mentes? Quem são essas mulheres que nos chegaram em memórias, fotos desbotadas, recortes de datas e documentos. Não fosse por elas, não estaria eu aqui, dedilhando histórias e reunindo fatos como se fossem u

O céu que ruge

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O céu que ruge, Yakecan, não fez tanto barulho sobre minha casa. Sim, sou privilegiada, moro em um local alto, bem protegido e tenho condições de me resguardar. Mas mesmo assim os avisos da defesa civil e imprensa me assustaram e me fizeram preparar o que podia para enfrentar uma fúria da natureza sem precedentes locais. Torcendo para que os alertas fossem apenas isso: alertas. E o foram aqui, embora em outros locais possa ter sido mais assustador. Fico pensando em quantos alertas a vida nos dá. Sinais de que algo não muito bom possa nos acontecer. Aquela voz que diz que melhor adiar aquela viagem, ou que aquele amor talvez não seja o mais adequado. Ou que a gente não está tão feliz com a carreira que abraçamos.  Alertas servem exatamente para que a gente se atente e tome providências para evitar perigos. Por mais assustados e sobressaltados que fiquemos, o bom é que os temores não se concretizem. Há que se separar os indícios que são reais e palpáveis dos que são temores vãos. Um aler

Dos sonhos recorrentes

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Ontem falava que a vida é um embate entre luzes e névoas. É tempo de cerração na cidade onde moro. O nevoeiro é aquele tempo em que as nuvens descem dos céus e podem ser tocadas pela criança que fui que sempre teve este sonho. Eu sei que não é bem isso, mas deixa eu usar essa narrativa mais poética porque a vida tá osso, fora e dentro, para que eu prescinda da poesia.  Sobreviver de maneira harmônica tem sido cada vez mais difícil quando se convive com a finitude. Lá fora e cá dentro. Tenho sido uma equilibrista de manter a sanidade quando o mundo parece ruir. E o que isso tem a ver com sonhos recorrentes? Sempre tive sonhos de que estava ameaçada por algo catastrófico, tinha que sair do mundo conhecido em pouquíssimo tempo e tinha que escolher o que levar. Tipo refugiados de guerra. Essa noite tive o mesmo sonho. Mas a diferença é que, embora esteja extremamente angustiada por fora, consegui manter a sanidade no sonho. Foi essa tranquilidade onírica que me chamou a atenção. Consegui s

“Cerração baixa, sol que racha”

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  “Cerração baixa, sol que racha” costumava escutar desde pequena quando acordava em um local cheio de brumas. Comparações com a capital britânica e seu fog, ou ainda com a ilha dos druidas e fadas, Avalon, eram frequentes em sua cabeça. Era na verdade fascinante que tudo estivesse encoberto. A cidade desparecida. As possibilidades de se imaginar em outro lugar aumentavam. Ela sempre viajante. O sol rachante logo aparecia. Nem sempre. Tinha dias que ele se confundia e acabava envolto nas nuvens até que o dia já estivesse na metade. Dias mágicos. Lembrava de alguns. Mais que um acontecimento de clima característico da região, a cerração nevoenta era um sinal de que nem sempre a vida é cristalina. Há tempos de encobertas. Há tempos de procuras. Há tempos de possibilidades além do que se vê. Mas... Também há tempo de realidades encobertas. O perigo, ou a delícia, da liberdade de criar são as inúmeras possibilidades da mente. Voar. Maritacas fazem isso. Hoje mesmo um trisal de pássaros ver

A honestidade em datas

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Hoje é dia do trabalhador e da literatura brasileira. Ontem foi o dia da honestidade. Cada dia tem um significado e a intenção de homenagear essa ou aquela coisa por alguma razão impactante. Seja pela greve que resultou em mortes, seja pela importância da escrita. Ou seja pela relevância da palavra honestidade. Vou me deter nessa última. Até porque fiquei refletindo sobre ela todo o dia de ontem. Também para isso servem as datas comemorativas, para que a gente pense. Honestidade é um conceito moral. Cada sociedade tem as suas regras de bom comportamento. Isso pode, aquilo não. Isso vai ser premiado, aquilo outro vai receber punição. Aprendemos desde pequenos o que fazer, o que não fazer, o que fazer na frente dos outros, o que guardar para si. Mas há honestidades que são maiores que as regras sociais. As religiões apontam isso. A maioria, nas suas origens falam em comunhão universal, matar não é legal, perdoar é bacana, compartilhar é bom para a alma. Será? As guerras estão aí para ens