A honestidade em datas
Hoje é dia do trabalhador e da literatura brasileira. Ontem foi o dia da honestidade. Cada dia tem um significado e a intenção de homenagear essa ou aquela coisa por alguma razão impactante. Seja pela greve que resultou em mortes, seja pela importância da escrita. Ou seja pela relevância da palavra honestidade. Vou me deter nessa última. Até porque fiquei refletindo sobre ela todo o dia de ontem. Também para isso servem as datas comemorativas, para que a gente pense.
Honestidade é um conceito moral. Cada sociedade tem as suas regras de bom comportamento. Isso pode, aquilo não. Isso vai ser premiado, aquilo outro vai receber punição. Aprendemos desde pequenos o que fazer, o que não fazer, o que fazer na frente dos outros, o que guardar para si. Mas há honestidades que são maiores que as regras sociais. As religiões apontam isso. A maioria, nas suas origens falam em comunhão universal, matar não é legal, perdoar é bacana, compartilhar é bom para a alma.
Será? As guerras estão aí para ensinar aos jovens (e alguns velhos) que matar desconhecidos pode salvar a pátria. Outras filosofias individualistas ensinam que perdoar é coisa de gente fraca e que compartilhar só estimula a vagabundagem. Menos no Natal e outras datas, onde doar passa a ser o verbo bacana, principalmente se o compartilhar for em fotos nas redes sociais.
Nunca compartilhamos tanto e nunca fomos tão sós como grupo social. E a honestidade, onde fica? Atrás dos filtros das fotos que mostram o que queríamos ser e não o que somos? Nas palavras de bom mocismo que escondem nossas raivas e angústias? Nas pílulas que nos escondem dos nossos sofrimentos em uma época que até o luto tem data marcada para ser considerado "normal".
Ser honesto é seguir regras ou fazer de conta que as segue? Ou ser honesto é se conhecer, saber das suas qualidades e limitações? Aceitar, refletir, escolher e se responsabilizar pelas escolhas?
A honestidade é uma palavra ampla. O ser honesto exige coragem porque implica em não aceitação pelos outros, pelo cancelamento, pelo debate, pela troca de ideias e conceitos.
Mas a honestidade não se encontra apenas no discurso. Ela é prática de vida. As maiores iniquidades já foram cometidas por quem dizia seguir as regras. Não tive culpa, segui ordens. Não cometi crimes, não me rebelei contra porque não sabia, não queria ver, não refleti, me omiti. Quantas vezes na história da raça humana? Hoje nos perguntamos como podiam, esquecendo que também fazemos o mesmo com as injustiças que ocorrem ao nosso lado. Omissão é uma forma de desonestidade.
Aos trabalhadores, entre eles os escritores de literatura brasileira, minha solidariedade. Todos constroem este país com dificuldades e direitos cada vez mais solapados. Mas continuam porque são teimosos, ou porque precisam sobreviver, ou por tudo isso e mais um pouco que não dá para parar de pedalar, embora essas também tenham sido penalizadas tempos atrás.
Continuemos pois que a vida urge e nos empurra. Se der para ser com honestidade pessoal, melhor ainda.
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