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Mostrando postagens com o rótulo história

mulheres que nos arquitetaram

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este é um projeto de longa data que mescla a paixão pelo estudo da genealogia da família com o prazer por escrever. A ideia é contar a história das mulheres de minha família. Reúne dados verdadeiros, relatos que elas mesmas fizeram com alguma coisa que me sopraram em outras ocasiões. Abaixo a revista online do que tenho até agora.  Até porque as mulheres ainda continuam escrevendo suas trajetórias Open publication - Free publishing

As fogueiras da infância

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Lá fora crepitava o fogo na noite gelada de junho. Dentro de casa a animação também era calorosa. A ampla mesa da cozinha se tornava pequena frente à animação das gurias. Primas e adolescentes se esmeravam em sortilégios, os mais criativos, na ânsia de saber mais sobre seus futuros e amores.  Era década de sessenta. E lá, como aqui, as noites de festas juninas eram motivo para se falar dos amores e prováveis namorados. Ficantes era palavra absolutamente proibida e desconhecida. Pelo menos na frente dos pais e tios que a tudo assistiam sem muita atenção. Falavam de política e dos novos rumos do país com aquele presidente da vassoura. O que ia acabar enfim com a corrupção.   As mães e tias se ocupavam dos doces e comedorias. E do quentão que cheirava forte na sua mistura de álcool e canela. Era frio. Mas nem se ligava.      Lá fora os guris, dos mais novos de olhares arregalados aos mais velhos, já de olhares moles para as meninas da casa, todos se ocupavam d...

Problema de quem tira férias e tem carro

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O Leitão era gerente do BB nos anos 50 em uma cidade do interior gaúcho chamada Lajeado. Também era meu pai. Um contador de histórias e um fazedor de ações. A foto acima é dele e seus funcionários em uma enchente na cidade. Contava que recebiam clientes que vinham de barco para dizer que não iam poder pagar. Normalmente os mais pobres que necessitavam de empréstimo. Era daqueles gerentes que conheciam as pessoas pelo olhar. Uma das suas histórias que gosto de lembrar como lição de vida é a que contava de um começo de férias. Carro recém comprado, ele bufando para colocar no pequeno Austin as bagagens da família, já meio estressado com o tempo e o espaço. Na sua frente passa o velho jardineiro de nome alemão que nunca consegui decorar. Soava como Seu Mithelsted ou algo do gênero. Carregava uma carroça com seus apetrechos de jardim e restos das folhagens que retirava das casas onde passava. Tinha uma penca de filhos, uma dúzia sem mentir. Se esforçava para conseguir sobrevive...

Me sinto na Idade Média

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Sempre adorei História. Devorava livros da biblioteca de meu pai, que também gostava de história. Via filmes de época e corria para ler sobre aquele período para saber o que era verdade e o que não era. Um hábito bem salutar que me fez aprender mais. Ou ver mais versões. Lembro de uma série de amava ver nos anos 60. Passava na França, no que a gente chama de Idade Média. Thierry La Fronde  era, para mim, uma espécie de Robin Hood gaulês.  Gostava também das histórias do Rei Arthur e sua Távola Redonda. Anos mais tarde devorei os livros das Brumas de Avalon, misturando magia e simbolismos. Mas quando me perguntavam em que época da humanidade gostaria de ter vivido, juro que nunca minha escolha seria por essa época.  Imaginava mulheres reclusas em seus castelos, sem muitos direitos, gente ignorante, muita miséria e vassalagem. Locais onde a ciência era vista como magia, onde se colocavam pessoas nas fogueiras pelos autos de fé. Um período que atacou conhecimentos...

Para todos os que já amei

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Durante muito tempo cartas e chaves me acompanharam. Nas cartas transbordava emoções, ditas ou guardadas. Nas chaves que desenhava, simbolizava as respostas que sempre busquei. Desde pequena escrevi cartões e cartas. Primeiro ditadas para minha avó, que pacientemente as transcrevia no papel. Depois com garrunchos e desenhos próprios. Fui refinando para as elaboradas, com imagens e muitas cores, verdadeiros diários que trocava com amigas. Me correspondi com gente de fora, quando essa era uma maneira legal de treinar o inglês. Lembro de um menino escocês e de uma adolescente japonesa. Um dia vou tentar acha-los na web. Sim, guardo cartas. Guardo coisas e cartas. Guardo. Soube que tem um filme, baseado em um livro, onde uma jovem escreve cartas que nunca manda para os garotos que amou. Eu fiz isso muito. Um dia, por esses mistérios da ficção, as cartas são entregues aos destinatários e gera o enredo do filme. Fiquei aqui rindo sozinha ao imaginar o que teria acontecido se tiv...

Meu avô jornalista e revolucionário

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Meu outro avô, o Fábio, era jornalista. Seu jornal se chamava A Palavra e era nele que usava seus dons de inflamada paixão literária para defender suas ideias políticas. Meu avô era uma homem de decisão e tinha posição. Morreu por conta de seus ideais. Imagino a fúria de seus dedos ao datilografar vigorosas reportagens sobre os desmandos da época. Não poupava palavras. Mentiroso cynico, canalha impudente. Salamalequeiros da dictadura...que tartufos! Dizia sobre as autoridades da época que fraudavam eleições. Ao invés das fake news, muniam os eleitores com cédulas pré marcadas. Cada época com as suas patuscadas. Não a toa as paredes de sua tipografia amanheciam cobertas de balas. Meu pai, que tinha três anos quando ele morreu, lembrava das marcas. Maragato, batista e maçom. Não duvido que fosse espírita como seu irmão. Se bem que talvez tivesse mais crenças no real do que no espiritual. Devia ser porreta, esse avô, que morreu jovem, com 36 anos, perfurado por balas em um lev...

Bostejando pelo meio ambiente

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Meu avô materno era médico. Veio pequeno de uma Alemanha que ainda não oferecia condições dignas de vida para todos os seus filhos. Sua pequena aldeia de Monzelfeld , perto do Rio Mosela, parece hoje uma paraíso aos nossos olhos terceiro mundistas. Mas naqueles tempos passados não devia ser tão promissora com seus habitantes. Vários deles optaram por viagens sofridas para desbravar terras desconhecidas, sabendo que nunca mais voltariam para ver seus parentes. Aqui no Brasil foi professor. Foi dele a ideia que resultou na vinda dos irmãos Maristas para que os filhos dos imigrantes pudessem ter um ensino de qualidade. Custou para conseguir realizar seu sonho de curar pessoas. Já tinha 41 anos quando se formou em Medicina na UFRGS, turma de 1912 . Foi clinicando por aí até chegar ao interior do interior, onde se radicou e proporcionou uma vida de alegrias à minha mãe e suas irmãs e irmão. A mãe sempre conta que quando chegava um doente as primeiras providências que ele costumav...

Pele de alma, um reencontro com o eu

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No meio da tarde, olhando o por de sol cada dia mais belo, que via dia após dia, de sua janela, teve a lúcida certeza: tinha enlouquecido. A tênue linha de resiliência que a mantinha presa à realidade tinha-se rompido . Tantas vezes essa corda que imaginava como um elástico tinha ido e vindo que julgou que era eterna. Não era. Tudo aquilo que não se cuida acaba por definhar. Se é coisa, vai se roendo, se acabando, vira ruína. Se é gente, vai se apagando como luz em fim de espetáculo, e quando se vê não dá mais para brilhar o palco. A saída é tatear pelo escuro, ver se acha alguma área conhecida onde pousar o pé com segurança. Se bem me lembro, Clarissa Pinkola Éstes fala de um processo onde a mulher necessita de uma volta ao lar, de uma reaproximação de seu eu mais profundo. É na história da Pele de foca , pele de alma onde ela narra como se perde o contato com o seu tesouro interno, aquilo que nos torna nós e como a saúde sagrada nos grita que precisamos reencontra-lo para não ...

Retrospectiva do futuro

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Uma folha em branco. Já se disse coisa mais clichê que isso para representar a falta de criatividade? Ou de paciência? Ou de pura exaustão mental e emocional? Uma folha em branco e nada para dizer.  Não pela falta de assunto, mas pelo acúmulo. Suspirou ao se dar conta que não conseguia mais entender o mundo. Era um tal de conceitos embaralhados, onde as certezas pareciam se desfazer como farinhas nas suas mãos. Só apelando para uma estética auto "ajudatória", dessas inspiradas em caminhadas de auto conhecimento, onde a imensidão das pradarias e as bolhas nos pés substituiriam filosofias mais cheias de consistência.  Trocar o analítico pelo sentimento. Parecia uma bela fórmula de sobrevivência no novo milênio. Quanto mais lugares comuns, menos tempo para decifrar e mais leitores curtindo. Já imaginou dialogar sobre filósofos em redes sociais? Explicar conceitos densos em 140 ou 270 caracteres? Quem ia lá se importar quando até mesmo decisões política...

Contadora de histórias

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Se desse para arrancar, este grito ganindo,  já o teria feito Se desse para lacerar esta ânsia de fuga já teria partido Se desse para esquecer fazendo de conta que portas não se abriram já as teria esquecido Se desse para não viver arrancando a angústia à fórceps Nem teria nascido.... Tinha sido parida em um dia de nada acontecido.  A luz primeira vinda ao mundo nessa que era em tudo uma buscante. Não era deste mundo. Não deste que valorizava as espertezas e as maquinações. Viera parar aqui por engano.  Cegonha com endereço errado.  Átomos soltos no universo que foram capturados em um momento de supremo gozo.  Destino. Escolha... Por certo algum propósito havia já que ela desde sempre fora misto de animista e humanista. Tocadora de quimeras, com tendências ao místico pragmático, aquele que mistura ciência, pseudo pesquisa e surrealismo. Agora lera que a vida se fazia dos contadores de histórias. Conta...

Abrir portas exige escolhas

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Estava aqui, a toa na vida, não para ver a banda passar, mas esperando a inspiração chegar. Segundas feiras tem desses mistérios de amortecer os sentidos. Mesmo quando o fim de semana não é vibrantemente agitado, e talvez até em função disso, eu já me pego acordando tipo assim cansada. De corpo mas mais de alma. Mas eis que vejo uma figura com uma pergunta, dessas tipo filosóficas de redes sociais. Não sei vocês, mas eu abriria sem hesitar a porta azul.  Não que eu não quisesse os R$ 10 milhões, mas de jeito nenhum daria 10 anos de minha vida por eles. Já estou naquela fase em que tenho menos tempo para a chegada que para o ponto do começo. Cada minuto é precioso e vale muito mais que cifras de dinheiro, por mais tentadoras que sejam. Então a porta amarela é descartada de cara. Viajar pelo mundo seria maravilhoso. O resto da vida não sei. Quanto mais a hora de acabar a jornada se aproxima, mais sinto falta das raízes. Então a porta vermelha, por mais ...

O Brasil não é um país sério, então comam brioches

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Sempre gostei de história. Uma das minhas diversões era pesquisar a realidade depois de ver um filme ou ler um livro. Cedo aprendi que tanto a literatura como as artes visuais se valem de recursos dramáticos para contar a História. Os heróis nem sempre eram belos e valentes. Os fatos nem sempre seguiam a ordem cronológica exata. Mais ou menos como esses filmes que passam na cidade da gente e onde as paisagens mais icônicas aparecem como sendo próximas, quando na realidade nem sempre o são. Liberdades do artista. Sou do tempo em que havia diferença entre estória e história.  Empregava-se a forma estória quando a intenção era se referir às narrativas populares ou tradicionais não verdadeiras, ou seja, ficcionais. Já a palavra história  era utilizada em outro contexto, quando a intenção era se referir à História como ciência, ou seja, a h istória factual, baseada em acontecimentos reais. ( Fonte ) Parece que nem se usa mais esta diferenciação semântica, virou anacronismo. N...

Uma história de fim de tarde

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Era tarde. Pelo menos parecia que era. Não que fosse importante mas já corria o meio da tarde e urgia que corresse se quisesse saber a resposta. Nesses dias meio assim, sem som, sem chuva, em que a vida parecia correr sem pressa e sem graça, as urgências perdiam sua necessidade. Talvez fosse bom. Vá lá se saber. Correu os olhos pelo armário. Entulhado de roupas que um dia lhe serviram. Devia se livrar delas de uma vez já que não conseguia fazê-las caber em seu corpo. Colocou a mesma calça que lhe dava a harmonia das coisas conhecidas, uma camiseta mais básica e um sapato confortável. Disso não abria mão. Já aprendera que a vida é muito curta para bolhas nos pés. Abriu a porta e foi. Antes uma gota de perfume e um batom ligeiro que mesmo na pressa não urgente havia lugar para alguma vaidade.  Ligou o carro com a calma das rotinas. O rádio na mesma estação. AM que noticia lhe deixava mais atenta que música. Olhou rápido para o relógio. Mentalmente fez as contas. Sim, dava tempo. Dete...

A história me ensina. E muito

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Passado. Sempre me fascina. Sempre me fascinou. Pequena ainda ainda adorava ler livros que falassem de história. Dois me marcaram profundamente: E a Bíblia tinha Razão e O Minotauro de Monteiro Lobato.  O primeiro fazia um apanhado de passagens bíblicas e confrontava com achados arqueológicos da época para testar a veracidade histórica da Bíblia. Um parenteses: meus pais acreditavam em um Deus muito bacana, muito feito à nossa imagem e semelhança, muito gente fina. Mas embora católicos, não eram praticantes por várias razões que me falaram durante a vida. E lhes dei razão. Mas separavam a fé da instituição. E amavam ler. Este livro mostrava fatos históricos, me fazia ver além das parábolas e versões religiosas. E me fez gostar de ler a Bíblia em pequena. E é um livro fascinante. Ele tem histórias de arrepiar, de emocionar, de fazer pensar. O Minotauro me levou, junto com os personagens do sítio do Pica-pau Amarelo, para uma Grécia heroica. Me fez viajar e pa...

Femina Sapiens

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Uma vez, em priscas eras, a humanidade começou a pensar. Talvez tenha tido uma iluminação como no célebre trecho de 2001, uma Odisseia no Espaço . Talvez tenha sido em outro momento. Pode ter sido um homem ou uma mulher. Mas para a ciência oficial eram HOMO alguma coisa. Ninguém questiona porque homo é quase sinônimo de humanidade.  Mas não seria mais justo e coerente se fosse um femina/homo sapiens? Ah! Bem coisa de feminista, afinal que diferença faz uma palavra? Pois é, que diferença faz? Talvez nenhuma se a gente cresce com aquela imagem do homem que vira gente pensante vindo do primo quadrupede. Se a imagem que vai para o espaço é de um casal onde quem acena? O homem. Se a história da humanidade é contada como se a mulher tivesse uma atividade acessória. Mas nem sempre foi assim. Basta olhar com olhos mais abertos para saber que há várias referências à posição mais soberana do poder feminino. As Deusas se não eram prevalentes, viviam em pé de igualdade com seus parcei...

1957 - Grande safra e grandes memórias - (minha visão)

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Hospital Bruno Born- Lajeado -RS Nasci no Hospital Bruno Born em Lajeado , no estado do Rio Grande do Sul.  É uma das poucas coisas que sei sobre a cidade onde nasci. Minha família se mudou para lá, em função do trabalho de meu pai. Acho que já moravam na cidade há uns seis anos quando me encomendaram.  Assim vou tentar continuar com o desafio das 52 perguntas em 52 semanas falando o pouco que sei sobre Quando e onde você nasceu? Descreva sua casa, sua vizinhança e a cidade onde cresceu . Minha casa. Minha primeira casa. Meus pais construíram essa casinha simpática para a sua família de quatro pessoas. Eles e meus dois irmãos. E mais os primos que iam morar ali para estudar. As histórias da minha cidade natal conheço pelas lembranças deles. Nossa casa, hoje uma imobiliária (veja foto acima), em quase tudo permanece igual. Talvez sem a horta que minha mãe sempre fazia em suas casas. E cujas sobras, minha irmã mais velha vendia de porta em porta, já antevendo ...