A história me ensina. E muito


Passado.

Sempre me fascina. Sempre me fascinou.

Pequena ainda ainda adorava ler livros que falassem de história. Dois me marcaram profundamente: E a Bíblia tinha Razão e O Minotauro de Monteiro Lobato. 

O primeiro fazia um apanhado de passagens bíblicas e confrontava com achados arqueológicos da época para testar a veracidade histórica da Bíblia. Um parenteses: meus pais acreditavam em um Deus muito bacana, muito feito à nossa imagem e semelhança, muito gente fina. Mas embora católicos, não eram praticantes por várias razões que me falaram durante a vida. E lhes dei razão. Mas separavam a fé da instituição. E amavam ler. Este livro mostrava fatos históricos, me fazia ver além das parábolas e versões religiosas. E me fez gostar de ler a Bíblia em pequena. E é um livro fascinante. Ele tem histórias de arrepiar, de emocionar, de fazer pensar.

O Minotauro me levou, junto com os personagens do sítio do Pica-pau Amarelo, para uma Grécia heroica. Me fez viajar e passear por aquela Atenas que eu viria a conhecer muitos anos depois e que reconheci como casa, embora todos falassem grego e eu não.

Plantada a semente, a história foi entrando em mim como posseira. Não podia ver uma série, filme, história sem que saísse a cata do que era real. Muito do que sei do passado vem daí. Em uma época em que não havia internet, tinha a sorte e o privilégio de ter pais leitores e uma excelente biblioteca em casa. Sempre tínhamos um livro, uma enciclopédia que respondesse aos meus anseios, às minhas perguntas. Se não achava em casa, ia para bibliotecas e pesquisava. Muito. Confrontava versões. 

Aprendi na prática que a história tem vários pontos de vista. Dois fatos foram fundamentais. Morar em Brasília e saber algum fato que acontecia na época da ditadura e ver o que saía nos jornais. Aliás viver em Brasília me deu muita consciência social. O contraste entre o desperdício de dinheiro que via e as habitações onde moravam 10 famílias em uma peça onde íamos pesquisar no começo da faculdade de Arquitetura. O outro foi ouvir que heróis da Pátria podiam ser considerados quase bandidos em outro país. Visões de vencedores e perdedores. Quem tem a razão? Existe a verdade pura?

Essas  dúvidas fizeram parte de mim desde então. Embora com a minha visão do mundo, sempre procurei deixar os vieses e escutar um outro lado. Mas escutar de forma verdadeira para que pudesse realmente entender. Nem sempre aceitar.

Não. Nem sempre consegui fazer isso. Não é fácil não. Muito mais se deixar impregnar por uma versão e seguir com ela. Ou partir para outra da mesma forma autoritária. As ideias são boas, na sua maioria. A maneira como as defendemos intransigentemente, de forma única e sem diálogo, as tornam menos boas na prática.  

E o passado? Para que serve?

Para que a gente entenda que mesmo que a tecnologia mude muito, as pessoas continuam muito iguais desde o começo dos tempos. Suas paixões, grandezas e mesquinharias são muito semelhantes às de quem veio antes de nós. Por isso a leitura da História se torna fascinante. Não são as datas que importam. São entender os mecanismos que levam à isso ou aquilo. 

O intuito? Talvez não repetir tanto os mesmo erros. E quem lê história com profundidade sabe que os fazemos. E como!
 

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