Memórias guardadas na nuvem
Os braços não os sentia como antes. Não que não os soubesse em si, mas pareciam meros apêndices do tempo em reclamavam de dor quando as mãos dedilhavam céleres o teclado. Hoje teclado não mais existe porque os comandos são oferecidos pelas Yinuo, as sucessoras das primitivas Alexas. Era uma sensação estranha ter o corpo físico substituído por sistemas binários que guardavam nas nuvens sua memória, seus feitos, suas narrativas e sagas. Não sabia se era exatamente assim que funcionava já que nunca se interessou por tecnologia digital. Bastava que funcionasse e estava bem. Já nem podia afirmar que tudo o que saia de sua boca era realmente fato acontecido, ou versões geradas por ela mesma, ou por algum sobrinho ou amigo que recordava em sua cabeça e acrescentava ao programa básico. E nem importava porque seus parentes mais próximos também já eram hologramas de um passado que já tinha se ido. Ficaram pendurados em gavetas, à disposição de algum curioso ou historiador que quisesse pesquisar