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Mostrando postagens de novembro, 2022

Entre sonhos, amigos e palhaços

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Acordo no meio da noite tentando escrever poesia. Não lembro mais as palavras, não eram boas rimas. Eu tentando, meio lúcida, meio sonolenta, arrumar os versos em algo que fosse bonito. Ou que fizesse sentido. Tinha uma coisa de rotas puídas. Acho. Seriam os tais sonhos lúcidos? (Obrigada Dione por estar no meu sonho e Lindevania pela lucidez onírica).   No meio de tudo o que me proponho a retomar em um novo rumo de vida, há espaço para leitura de palhaço. Vida de palhaça. Lembro da época de estudante e do dito de uma amiga sobre as pessoas especiais: Tu é Pá! Pá de Palhaça. Essa gente que sabe fazer rir, mesmo com coração despedaçado. (Obrigada Teca, pela inspiração) Encontrei muitos Pás pela vida. Todos gostavam de poesia. Mesmo que não soubessem. Sinto falta dessa alegria ingênua dos palhaços de saber trazer a sua música de dentro para expressa-la pelos gestos, pelos olhos, pela boca que engasga um sorriso e pelos pés que tremulam passos que vão nos fazer mais leves. (Obrigada Fred

A gata de orelhas grandes

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  Seria um 12 de novembro normal aquele de 2009, não fosse por um detalhe. A Lady Gata. Chegou toda embrulhada, cara assustada, barriga cheia de fome. Pura orelha. Era magra e curiosa. Veio de trensurb, como chamamos o metrô de superfície aqui em Porto Alegre. Não sabia que ela viria. Só eu. Era um segredo compartilhado por todos, inclusive pelos funcionários do prédio. Gateira desde pequeninha, não tinha gatos aqui em casa por motivos de alergia de minha auxiliar mais preciosa, a Lourdes. Era tipo ou eu ou os gatos. Quando meu irmão fez a mesma frase, décadas atrás, eu preferi os gatos. Minha mãe escolheu meu irmão. Ambos taurinos. Ele e a auxiliar. Deve ser uma sina astrológica era coisa de alergia a pelos. Me contentava com os gatos do sítio. E todos os dias, sentava no sofá com minha mãe, na hora da novela que na época acompanhava e dizia: ah! se tivesse um gato aqui e agora! Pois não é que essa gata, toda orelhas e fome, me veio pelas mãos da mesma Lourdes. Ela mesma cativada por

Fruir o momento

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  Leio que luzes não identificadas são vistas nos céus de minha cidade. Serão naves? Serão deuses? Serão satélites? Importa no momento? Não creio. Antes de começar a escrever, leio que Gal morreu. Como assim, Gal? Partir quando ainda queremos tua voz límpida, pura, gritante em cima de nós, por nós, em nós? Um momento e alguém posta que o "o ato de gerenciar o tempo é tudo que a vida é". Segue-se uma fala sobre o eterno dilema de viver o tempo, de se afundar no tempo, de gerir/mergulhar/se alienar/acordar. A vida é o que é. Lembro que fruir o tempo enquanto ele é me parece a melhor definição de ser sábio. Não a lembrança. Não a antecipação. Apenar fruir no momento em que acontece. Viva o presente.  Sempre li. Procurei entender. Aprender. Exercitar. Mas confesso, foi no limiar das perdas que realmente entendi a dimensão de fruir o momento. Daria tudo por um beijo do meu pai hoje. Exatamente aqueles beijos jogados ao vento, de todo o dia. Cada beijo de minha mãe, que se vai na s

Perdidos e achados

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Perdi a rota/ o rumo a travessa vermelha fumegante cheirando a solidão perdi o tempo de ousar, rotina regrada do bem-fazer Perdi os dedos ligeiros e a paciência (quando me interrompem o fluxo da vida) perdi o gato assustado  e o cachorro carente tão perdidos quanto eu em busca do osso/ do moço/ do caroço da rima imperfeita perdi o sorriso inocente, palavra dura da certeza pronta perdi nacos de mim na tentativa de seguir em frente Perdi estrelas  e Planetas desconhecidos perdi o medo de tentar Perdi a voz úmida/ sumida de medo de gritar perdi a mala miúda jogada na pista perdi voragens / coragens certezas/ sentidos tento entender o que ganhei perdendo Ganhei uma alma sábia que aprendeu que boca calada Não atrai moscas que menina educada não abre brechas que o amor pode ser perigoso que a confiança mora na raiva reprimida

Quando os relógios param

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Na estante da casa da minha tia tinha um relógio tão diferente dos normais. Era em vidro, revelando um mecanismo fascinante que mesclava com o barulho dos minutos passando. A casa da minha tia era um mundo a parte. Tinha uma geladeira sempre repleta de guloseimas. Quando falo repleta, é cheia de andares com vários recipientes uns sobre os outros. Tinha um sótão onde dormiam os filhos. Meninos de um lado, meninas do outro. Naquele sótão morava uma casa de bonecas apaixonante. Acho que vem dali a inspiração para tantos dos meus sonhos terem sempre um sótão de tesouros escondidos. Mas era na estante da sala, onde morava o relógio que me fascinava, que ficavam os enfeites que eu nunca tinha visto! Meu tio, seu marido, era navegante. Radio telegrafista do antigo Loide Brasileiro, passava temporadas em terras distantes e quando vinha, além de um novo filho, lhe deixava objetos de mundos então tão desconhecidos. O relógio era um deles. Relógios sempre exerceram em mim uma magia incontrolável.

Basuras varridas

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  Olho garis passando em cores laranjas lá na rua de baixo. Caminham lentos e ordeiros, imagino que falem entre si de suas vidas. Talvez recordem seus mortos. Talvez lembrem das torcidas e da vida corrida.  Recolhem, silenciosos ou não, o nosso descarte diário. O que jogamos fora por uso, por desleixo ou por fastio. Ou ainda por descarrego. Basura chama em espanhol. Nunca pensei muito sobre este termo. Do latim versura(la), derivado do verbo verro, "varrer". Já a palavra lixo, é derivada de lix, que em latim significa “cinza”, resto de madeira queimada. Acho basura então mais apropriada. Lembro de meu pai, cujas aulas de latim no ensino básico, sempre lhe ajudavam a atender a origem dos termos. Se não sabia, corria para os vários dicionários que tinha em casa. Legou a mim seu exemplo. Procuro não repetir palavras que não sei o significado. Procuro aprender para poder, se for o caso, resinificar.  Não gosto quando o corretor me corrige “ressignificar” por resinificar. Nesse ca

Não vamos deixar o samba morrer

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  “Quando eu não puder pisar mais na avenida Quando as minhas pernas não puderem aguentar Levar meu corpo junto com meu samba O meu anel de bamba Entrego a quem mereça usar “ Meu primo lembrou dessa música de Alcione quando comentava da alegria que sua mãe, minha tia, sentiria no domingo das eleições. Não, não vou falar das vitórias e tristezas da vida na democracia representativa. Faz parte do jogo aprender a ganhar e perder. Assim como na vida, a gente amadurece quando deixa de culpar os outros ou quer mudar as regras do jogo a qualquer contrariedade, fazendo de nossas crenças o centro do universo. Vou falar daquele sentimento que é comum a todos os seres humanos: a certeza da finitude. A morte física diante da qual, todas as mesquinharias tomam seu real tamanho: zero. Todos já perderam alguém que amavam, que admiravam, que um dia, por doença ou fatalidade, foi embora para nunca mais. Nos deixando esse vazio, esse desamparo que toma o peito e invade a alma.  Resta procurar dentro da