Basuras varridas

 

imagem de pixabay

Olho garis passando em cores laranjas lá na rua de baixo. Caminham lentos e ordeiros, imagino que falem entre si de suas vidas. Talvez recordem seus mortos. Talvez lembrem das torcidas e da vida corrida. 

Recolhem, silenciosos ou não, o nosso descarte diário. O que jogamos fora por uso, por desleixo ou por fastio. Ou ainda por descarrego. Basura chama em espanhol. Nunca pensei muito sobre este termo. Do latim versura(la), derivado do verbo verro, "varrer". Já a palavra lixo, é derivada de lix, que em latim significa “cinza”, resto de madeira queimada. Acho basura então mais apropriada.

Lembro de meu pai, cujas aulas de latim no ensino básico, sempre lhe ajudavam a atender a origem dos termos. Se não sabia, corria para os vários dicionários que tinha em casa. Legou a mim seu exemplo. Procuro não repetir palavras que não sei o significado. Procuro aprender para poder, se for o caso, resinificar. 

Não gosto quando o corretor me corrige “ressignificar” por resinificar. Nesse caso nem importa se a última é a mais correta, não me parece a mais forte. Deve ser assim que as línguas evoluem. Um dia alguém inventa um termo e outros, por gostar ou por costume, seguem e se cristaliza um novo vocábulo. 

Nunca gostei de gramática. Nunca consegui entender qual a graça de conjugar verbos e entender frases assindéticas ou o pretérito mais-que-perfeito. Para mim passado (que é sinônimo de pretérito) mais-que-perfeito é reinventar o mundo para que não existam tantas injustiças, que garis possam caminhar em seus trajes laranjas recolhendo basuras de amor e generosidade que, de tantas, já não caibam no mundo particular e tenham que se espalhar pelas ruas em formas coloridas de risos e abraços.

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