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Mostrando postagens de setembro, 2020

Estranha realidade

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  Chove.  É domingo e chove lá fora Não fosse pela pandemia seria apenas um domingo chuvoso como tantos dia de dormir/comer/escrever ou apenas viver Mas é 2020 um ano cabalístico desses que a gente nem queria estar vivendo um ano de pós verdades de lógicas hiperbólicas de certezas conflitantes  de amores endeusados de paixões adormecidas ano de ficar em casa ou se atrolhar sem pensar no amanhã sem pensar sem empatia sem vergonha dessas de botar a cara na rua brigar por espaço comer/beber/lambuzar escarnecer de deuses e deusas molhar de chuva, de gozo, de lambuzagem raízes sem fundo gritos gemidos brasas em fogo gente morrendo chuva caindo a gente olhando atrás da janela expectando uma realidade sem lógica sem philos Pactuar com ela  também não faz sentido Virar estatística muito menos Chove É domingo lá fora aqui dentro não mais 

Somente os átomos são imortais

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“um só dia de ardente e ansioso desejo, é igual a todo o tempo a que se pode estender a vida humana:”Pedrosa, Inês. “A Eternidade e o Desejo.”  Fez-se a luz.  Desço escadas, atravesso a rua, sinto o sol, quente e limpante na alma, paro no sinal, paro na dúvida, sempre a dúvida, sempre a pergunta, nunca a resposta. Tenho um caderno de respostas em aberto. Uma guerra. Corro mais célere, a porta em aberto, o relógio correndo, a hora mais amarga. O tempo sem sentido. A luz. Estava ali. Em frente. Buscante. Desejo. Procura. Nada perdura enquanto forma estanque. Nem gente nem amor. Tudo se transforma enquanto vive. Tudo flui. Corro mais apenas para sentir o ar que percorre meu corpo. Aprendo a extinguir a culpa. Seja de sentir prazer nas pequenas ou nas grandes coisas. Tudo é resultado de minhas escolhas, embora eu não seja uma deusa em potencial, posso mesmo assim ser dona e criadora do meu sentir. Arrepio. Meus minúsculos pontos de união me pertencem, embora sejam também conexão com outros

Prima irmã de alma

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  Minha prima irmã de alma. Nos conhecemos desde cedo, eu ainda tão pequena, ela não muito maior que eu. Fui sua boneca de verdade, quando ela e minha irmã de sangue me vestiam de fada ou princesa, com mosqueteiros de tule rosa para que eu desfilasse pela casa. Nossa ligação de fé e verdades veio mais a tona quando já éramos crescidas. Agora eu mais que ela.  Um sonho de viver intenso. Ela sempre presente. Quando eu passei no vestibular, lá estava ela em Brasília, esperando e vibrando junto com essa conquista. Nos bailes gaudérios da vida, nos livros da Marina Colassanti, nas separações que a vida lhe trouxe, lá estávamos nós conversando. No seu voo para dirigir. O que ela, guerreira em tantas áreas, não levou adiante. Mas foi impulso para que eu me arriscasse. Foi dela a iniciativa de me matricular na auto escola e pagou para ver. Anos mais tarde, fiz o mesmo com uma outra amiga que vi crescer, levando adiante o presente de vida que ela me deu. Exemplos. Me deu vários. De amor. De se

Helena, a caçula polaquinha

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A viagem desde as Três Vendas tinha sido cansativa, especialmente para Doralice, que já estimava que o novo bebê deveria chegar em breve. Era sua sétima gestação. Tinha 28 anos e uma longa história para contar. Sua irmã, Palmira, a recebeu em sua casa. A ela e a toda a sua vasta família. José Costa, casado com Palmira Silva, era gerente do banco da província em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. A cidade não era exatamente no caminho de Porto Alegre, mas seria um alívio ter o auxílio da irmã para o parto. E poder se acomodar no luxuoso casarão, sede do banco. Era uma construção nova, projeto de um renomado arquiteto alemão chamado T heo Wiederspahn .  Na madrugada de quarta feira, dia 16 de setembro, precisamente às 3:30 da manhã nasce uma menina saudável que recebe o nome de Helena Selma. O primeiro em homenagem à irmã do Doutor Stein , seu pai. O segundo nome até hoje não se sabe a origem. E também não importa porque só era usado quando a pequena Polaquinha, apelido carinhoso dado por

Coisas da Coisa

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Sou uma pessoa lógica. Dito isso já explico que nem tanto. Mas no conjunto sim.  Meu pensamento tende a encaixar padrões em semelhanças e diferenças, estabeleço relações de nexo, obviamente baseadas no meu viés de vida, e teço conclusões.  Procuro não ser exageradamente sectária e para tanto tenho me afastado das certezas absolutas. Elas já me guiaram rumos em tempos de mais mocidade. Agora posso me dar ao luxo de ser mais cética e mais perplexa com a vida e as pessoas. Mas sempre tem as coisas da coisa. Ficou curioso? Siga o fio do grande pensador Raulzito a seguir:    Logica e razão são coisas da terra. Eu divido as coisas da terra, coisas do universo e coisas da coisa. E as coisas da coisa, minha filha, essas é que são o negócio, entende? Quem é que pode explicá-las? Raul Seixas Nesses tempos pandêmicos de pós verdades e sem verdades, onde versões valem mais que fatos, e a coerência tomou chá de sumiço, tento ainda estabelecer padrões mais ou menos lógicos para os acontecimentos. M

Helena Stein Stoll, a professora

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Quando Helena Stein nasceu em 18 de agosto de 1888, seus pais já estavam morando no Brasil há quinze anos. Era a caçula de uma turma de doze filhos de Nicolau Stein e Anna Maria Wintrich Stein, imigrantes de uma Prússia empobrecida que procuravam novos caminhos no sul do Brasil. A menina loira, de bochechas rosadas, tinha apenas uma semana de vida quando foi batizada pelo padre Theodor Amstad, na Capela de São Miguel, em São Sebastião do Caí, no interior do Rio Grande do Sul. Seus padrinhos foram Jacob Junblut e Magdalena Stroher. Theodor Amstad era suíço e tinha apenas 37 anos. Auxiliava nas colônias alemãs com seu português ainda periclitante, percorrendo as localidades mais afastadas da sede da paróquia de São Sebastião. Mais tarde teve importante papel no cooperativismo brasileiro, sendo considerado seu patrono por lei. A educação dos filhos era uma preocupação dos colonos alemães. O português era uma língua estranha para eles, que falavam um dialeto moselano, e que aos poucos i