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Mostrando postagens de janeiro, 2022

Nuvens são poesia no ar

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Para descrever as nuvens eu necessitaria ser muito rápida — numa fração de segundo deixam de ser estas, tornam-se outras. É próprio delas não se repetir nunca nas formas, matizes, poses e composição. Sem o peso de nenhuma lembrança flutuam sem esforço sobre os fatos. Wisława Szymborska Gosto de olhar nuvens. Nunca são as mesmas, ficam brincando de fazer bale no céu. Há até um fenômeno chamado de Pareidolia, que faz com que nosso cérebro tenda a reconhecer imagens familiares em formas. Meu pai tinha muito disso, nos seus últimos anos. Sua mente brilhante e analítica tentava fazer sentido em uma vida que lhe fugia em esquecimentos e perdas da autonomia que sempre lhe foram tão caras. Tem nome para isso também: Heteronomias. Olhando bem, deve ter nomes para tudo na língua portuguesa. Pena que a estamos simplificando tanto que nos comunicamos por hieróglifos modernos. Carinhas que simbolizam alegria, espanto, tristeza. Nem se precisa de muitas, tão líquida está nossa vida. Talvez sem signi

Tempo aos 65 do segundo tempo

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Tempo do passado Nasci em um século que se imaginava próspero . Herdava uma pandemia, duas grandes guerras, uma outra que não usava armas abertamente e por isso era chamada de fria. Um século que se ousava desbravar o espaço e imaginava o futuro com um ar de esperança onde a tecnologia livraria a humanidade do trabalho pesado e enfim, viveríamos para aproveitar a vida em divertimentos e enriquecimento cultural. Cresci em uma família emergente. Empobrecidos por circunstâncias da vida, meus pais tinham uma bagagem cultural que os impulsionava para sonhar com um futuro mais promissor. E amigos em um país que se vendia como acolhedor e aberto para quem tivesse as peças certas. No caso deles até podemos falar em meritocracia pessoal.  Fui a caçula de três filhos. Fui um projeto, na medida em que fui pedida por meus irmãos e pais até que minha mãe se rendesse à nova gravidez em já provecta idade. Tinha 32 anos e foi um escândalo que engravidasse naquela cidadezinha do interior do Rio Grande

Quando morre o poeta a sua poesia permanece

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  Guardo como tesouro esse livreto que ganhei de uma amiga décadas passadas. Thiago de Mello veio em um encontro literário na sua cidade. Ela, sabendo que eu tinha especial admiração pelo poeta amazonense, trouxe então para mim, com a sua assinatura. Disse-me ainda que teve oportunidade de perguntar para ele porque ainda fumava. E ele, na sua sabedoria da vida lutada, confessava-lhe que quem esteve diante da morte e da iniquidade da ditadura, se permitia certos vícios. Poeta poetava até sobre as dores que nos acometem quando a beleza da sensibilidade se choca com a crueza de quem não vê a vida de forma tão generosa de ser.   As Ensinanças da Dúvida Tive um chão (mas já faz tempo) todo feito de certezas tão duras como lajedos. Agora (o tempo é que fez) tenho um caminho de barro umedecido de dúvidas. Mas nele (devagar vou) me cresce funda a certeza de que vale a pena o amor. Thiago de Mello Meu primeiro contato com ele foi através de uma amiga que me apresentou "Faz escuro, mas eu c

Palavras do ano

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Todo ano escolho alguma palavra chave que representará meus dias. Não é muitas vezes uma escolha pragmática. Como tudo o que realmente importa na minha vida, elas me aparecem e quando as sinto, é como se estivessem a minha procura. E eu a elas.  A primeira é REENCONTRO. Assim em maiúsculas. Parece normal que depois, ou por outra, no meio de uma pandemia, eu sinta falta de reencontrar pessoas. Só que não. Esse reencontro é mais interno. É me reencontrar com a minha alma, minha anima, o que me move de verdade.  Tanto passei a doar que esqueci de mim.  Começo por coisas pequenas. Mimos pessoais. Presentinhos de vida. Presentões de tempo dedicados a mim, um equilíbrio entre amar a e amar in. Me dou conta que não acho palavra que defina esse amor interno, dedicado a redescoberta e respeito próprio. Não é egoísmo, muito menos individualismo. É apenas reconhecer a dignidade de ser e existir. A outra palavra necessária é DESCONECTAR. Estar mais com e menos internauta. É viver o mundo real como