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Mostrando postagens de julho, 2022

Conversas com a Lua minguante

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Acordo madrugadas. É um hábito recorrente.  Não consigo escapar do hábito de correr os dedos pelas telas para saber se há novidades. Em geral são poucas. Muita desinformação e opinião sem muita profundidade sobre o mesmo. Talvez eu esteja procurando nos locais errados. Não se encontra conteúdo em lama. Mas tem suas vantagens. Olho pela janela quando decido levantar. Já são 6:15. A Lua me saúda, magrela em seu minguante. Está sobre a chaminé, tema recorrente de minhas fotos. O café preto fica mais suave com a sombra da Lua minguante nos céus da cidade que acorda, sonolenta, mas vibrante, para mais uma semana que chega. Faço as pausas necessárias entre uma escrita e outra. Banheiro, gata que mia, mãe que necessita cuidados. A natureza me chama. A biologia idem. A poesia que espere. A pausa termina. Já é dia. A cidade já está mais barulhenta. Mas ainda não ouvi os passarinhos. Deve ser o calor esquisito para um dia de julho, inverno em teoria. Em teoria também estamos no século XXI. Volto

Como percebo a experiência de ler romances

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O ritual das leituras é como uma cerimônia para mim. Começa pelo primeiro olhar, a capa, a curiosidade sobre o enredo. Passa pela espera se é livro físico. É mais voraz quando ebook. Não sei se a rapidez compensa a sensualidade de receber um pacote, abrir a embalagem e começar a descoberta. É quase um ato de sedução que passa por entreabrir, sentir o cheiro, rasgar o involucro, passear com ele pela casa como que se descobrindo por osmose ou nos reconhecendo, livro e sua leitora. Sim, porque ler exige uma tríade básica feita do autor ou autora, dos personagens e de quem lê. Cada um um mundo diferente que se engrandece com a participação do outro. Quem concebe faz uma catarse interna e jorra palavras, mas mais. Jorra seus insights, seus medos, suas coragens, suas verdades, suas mentiras. Suas ousadias. Os personagens parecem no início marionetes, mas não. Ganham vida, se tornam gente e muitas vezes combatem com quem os leva para o livro. Não raro ouvimos escritores falando sobre como o p

Faz de conta que há liberdade de pensamento

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14 de julho, dia da liberdade de pensamento. Ou seja, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, no seu artigo XVIII, "todas as pessoas têm direito à liberdade de pensamento, consciência e religião".  Pessoas morreram e morrem pela defesa de poder ter liberdade de pensar, de crer, de ser. Os revolucionários de 1879 tomaram a Bastilha e mataram o rei para bradar sua indignação. E o sangue correu solto naquilo que hoje brindamos como Liberdade, Igualdade e Fraternidade nas festas francesas. Lembro meu pai ensinando a cantar a Marselhesa com orgulho, aquele hino guerreiro que chama à luta. Ele mesmo filho do outro homem que vociferava contra as artimanhas de eleições arranjadas onde, não apenas poucos podiam votar, como muitos recebiam as cédulas prontas, com os candidatos que deviam ganhar por força da força.  Aqui nesse país sempre se prezou pelo faz de conta: faz de conta que a gente vota, faz de conta que ditadura é democracia, faz de conta que racismo é bond

Em um dia cinzento, pensando sobre ser mulher

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Sou uma mulher de meia idade em uma cidade cinzenta em um país outrora exuberante. É inverno, os dias são curtos e as noites longas e frias. Domingo a noite, estou sentada sozinha em minha casa, olhando para fora da janela, vendo a chuva cair e o vento soprar.  Penso em todas as coisas que já vivi e que me levaram a este momento. Penso nas pessoas que amei e perdi, nas experiências que tive, nas escolhas que fiz. Penso nas coisas que fiz de errado e também nas coisas que fiz certo.  Penso principalmente em todas as mulheres que conheci ao longo da minha vida e em como somos todas diferentes. Penso nas mulheres que lutaram pelos seus direitos e pelos direitos das outras mulheres. Penso nas mulheres que foram fortes e corajosas, nas mulheres que foram fracas e vulneráveis. Penso nas mulheres que me ensinaram e nas que eu ensinei. Penso nas mulheres que me fizeram rir e nas que me fizeram chorar.  Penso em todas as mulheres que conheci e em como somos todas iguais e todas diferentes ao m