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Mostrando postagens de julho, 2020

Vício nosso de cada dia - livrai-me do mal

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Pessoa que em plena pandemia e processo de mudança de hábitos, tentando ser mais focada no que faz bem e se aproximar da maestria, faz o quê? Baixa um desses app de atacar gulosamente doçuras, às vezes com bombas de feito devastador, a melhor delas um brigadeiro confeitado. Obvio que deixou de lado as leituras de Clarice, os filmes cabeça e o curso de crônicas. Este último já tinha deixado antes, quando se deparou com os condicionantes da escrita. Logo a atividade que faz com mais liberdade! Deixou de lado, junto com a arrumação do quarto, dos papéis e tudo o mais que é chato e aborrecido, assim tudo junto para ser mais dramática. Veio aquela sensação já conhecida e temida. O vício. A vontade de ficar mexendo o dedinho para cima e para baixo e ganhar etapas com figurinhas infantis elogiando como se a pessoa fosse a doçura mais inteligente da face da terra. Carência define? Logo ela que detesta ser dependente de qualquer coisa. Que não curte muletas emocionais, que não fuma, bebe modera

O que nos faz guerreira/os?

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O que nos faz guerreiros? Enfrentar batalhas, seguir em frente quando perdemos algumas guerras.  Levantar e levantar. Cair às vezes, que falamos de pessoas normais e não de super heróis.  Com essa história de princesas e capitães cheios de força queremos ensinar o quê aos nossos filhos e netos? Que existe dentro de cada um de nós super poderes de resiliência que vão nos capacitar vencer qualquer coisa, desde que usemos a vestimenta, capa ou máscara certa?  Sinto, mas na vida real nem sempre é assim. Nem sempre o mocinho saí vitorioso, ou a princesa se torna empoderada porque veste uma linda tiara. É preciso mais.  É preciso saber respirar e se reerguer. Não se culpar.  Ter um olhar generoso ao mundo e a si mesmo. Saber que ninguém é perfeito, que todos tem suas mesquinharias e medos, mas se segue em frente com eles, apesar deles, às vezes até por eles.   Meu pai sempre contava uma história de sua vida. Era órfão e começou a trabalhar cedo. Um desses serviços era faxinar o banco onde d

Seguindo a intuição e brigando com as crônicas

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Resolvi fazer um curso online na pandemia. Um deles. O primeiro. Foi logo depois de ver um vídeo de uma jovem brasileira na Itália falando de sua experiência de isolamento. Segundo ela tinha uma fase da solidariedade, do surto, da apatia. Uma das formas de administrar isso era tendo objetivos.  Fazer um curso de crônicas me pareceu uma boa maneira de levar o tempo. Nem tanto.  A crônica não é aquele gênero fácil que eu imaginei. Ao contrário. Exige disciplina, concisão e trabalho. Muito trabalho.  Seria como cozinhar por prazer e cozinhar no cotidiano. Por prazer tu elabora o que quer comer, deleita-se com os preparativos, tudo é descoberta e divertimento, mesmo quando exige paciência. O cotidiano é completamente diferente. Tem que sair algo, com o que tem em casa, muitas vezes. Tem que fazer render diferenças entre o arroz de ontem e o de amanhã, que embora sejam o mesmo cereal, pareçam diferente a cada dia. Confesso que aumentou minha admiração pelos cronistas. Consegui fazer uma crô

Despintando as imagens do passado

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Sinto saudade das coisas das coisas que vivi e das quais deixei passar (..) Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que ... não sei onde ... para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi ... Clarice Lispector Hoje retomei memórias.  De repente uma foto te leva para épocas tão distantes e meio que abrem portas de sentimentos e afeições. Um concurso das mais belas pernas em umas festa a fantasia entre amigos resgatam as lembranças da menina que recebeu muitos elogios pela beleza na infância e pela inteligência na puberdade.  Ah, a puberdade, essa idade difícil em que os hormônios começam a aflorar  e as emoções se confundem em mil imagens de rejeição e medos. Não sei bem em que idade me deixei levar pela desconfiança e o medo das pessoas. Lembro que bem pequena já sentia isso. Mas foi na adolescência que o pacote se solidificou.  Entendam, venho de uma família de longilíneos e magros. E mais ainda: gordofóbicos. Não tinham mais nenhum preconceito, mas a adipo

Mudança de hábito

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Foi um desafio que me fez mudar um hábito presente desde muito em minha vida.  Não bebia água. Em seu lugar, refrigerantes. Tinha sede? Abria a porta da geladeira, enchia um copo daquele líquido borbulhante, colocava muito gelo e engolia cheia de prazer. A gente costumava comprar engradados da bebida aqui em casa. Vacas gordas. Quando pequena, eles só tinham lugar na mesa nos fins de semana e nas festas.  Um dia, há décadas, quando mal se falava em vida saudável e a gente, que comia verdura, era vista como ETs em terras gaudérias cheias de amor pelas carnes gordas dos churrascos, uma amiga me falou de um desafio para seus alunos. Daqueles com carteirinha e tudo. Chamava "deixei de tomar refri". Me perguntou se eu não topava. Ariana de signo que sou, o argumento do desafio me pegou e topei na hora. Putz, desafio público não é coisa de se fazer debalde. Nem palavra dada para amiga. Comecei a síndrome de abstinência dos refris. Isso também não era moda naquela época.

mulheres que nos arquitetaram

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este é um projeto de longa data que mescla a paixão pelo estudo da genealogia da família com o prazer por escrever. A ideia é contar a história das mulheres de minha família. Reúne dados verdadeiros, relatos que elas mesmas fizeram com alguma coisa que me sopraram em outras ocasiões. Abaixo a revista online do que tenho até agora.  Até porque as mulheres ainda continuam escrevendo suas trajetórias Open publication - Free publishing

A surtada nossa de cada dia

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Mais de 100 dias presa em casa. Três saídas esporádicas e tensas. Quem não surtou no meio da pandemia não a viveu com intensidade. O emocional da gente é bicho esquisito. O meu é. E como dizia La Lispector eu quero o é da coisa.   A coisa me persegue desde sempre e talvez por isso eu tenha sido a guria estranha da casa. Gostava de pensar demais. Ficar sozinha demais. Observar demais. E viver de menos. Que o equilíbrio sempre peca em algo. Impossível dizer que vou passar mais de 100 dias ou 1000 no risco iminente de um bichinho invisível me pegar de vez, me levar dessa vida em meio ao sofrimento da falta de ar e da falta das pessoas amadas a minha volta, sem mudar algo em mim. Penso mais. Observo mais. Fico obviamente mais sozinha. Já se disse que as pessoas se revelam nas emergências. Quais os seus valores. Quais as suas prioridades. Para quem seus pensamentos e seus atos. Muitos dos que morreram no 11 de setembro, os que sabiam que iam morrer, ligaram para seus amados para dizer que o