Seguindo a intuição e brigando com as crônicas

Clarice Lispector

Resolvi fazer um curso online na pandemia. Um deles. O primeiro.

Foi logo depois de ver um vídeo de uma jovem brasileira na Itália falando de sua experiência de isolamento. Segundo ela tinha uma fase da solidariedade, do surto, da apatia. Uma das formas de administrar isso era tendo objetivos. 

Fazer um curso de crônicas me pareceu uma boa maneira de levar o tempo. Nem tanto. 

A crônica não é aquele gênero fácil que eu imaginei. Ao contrário. Exige disciplina, concisão e trabalho. Muito trabalho. 

Seria como cozinhar por prazer e cozinhar no cotidiano. Por prazer tu elabora o que quer comer, deleita-se com os preparativos, tudo é descoberta e divertimento, mesmo quando exige paciência. O cotidiano é completamente diferente. Tem que sair algo, com o que tem em casa, muitas vezes. Tem que fazer render diferenças entre o arroz de ontem e o de amanhã, que embora sejam o mesmo cereal, pareçam diferente a cada dia. Confesso que aumentou minha admiração pelos cronistas.

Consegui fazer uma crônica. A que me exigiu menos esforço. Outra que escrevi sobre a nova família soou falso, parecia redação de segundo grau. 

E escrever sobre datas que vão acontecer em meses adiante? No meio de uma pandemia que pode mudar tudo. Seguir um roteiro, logo eu, que me identifico com a frase da Clarice de precisar que a coisa venha.

Pior que nem contos consegui mais produzir. A obrigação de gerar as crônicas conforme os roteiros de aprendizagem me tolhem em todos os campos da crianção. Comecei a detestar crônicas.

Os exercícios que deveriam me ampliar horizontes, me encolhem alternativas. Não nasci cronista. Não sei escrever sob encomenda. Com pauta e tamanho certos. Mais um tentativa de aprender a escrever que não vai vingar.

O que está me acalmando é ler As Crônicas de Clarice Lispector. 

Interessante como ela começa lidando com uma forma nova de expressão e logo a escritora toma conta, ela vai burilando o cotidiano e suas crônicas começam a oscilar entre o relato e a maestria que vai parar em muitos de seus livros.

Escrever como Clarice, nunca. Ela sempre foi única. Mas entender o seu processo, ou como eu assimilei o seu processo, me ajudou a entender um pouco mais do meu.

Não sei como vou terminar o curso, sei que vou porque de alguma forma sou teimosa e ando em fases de não abandonar nada. Ou quase nada.

Mas tenho entendido cada vez mais que as respostas estão sempre dentro de mim e que às vezes, ficar calma e seguir a minha intuição podem me levar a belos caminhos de vida.

Não sei para onde vou me encontrar nos tempos pós pandêmicos. Mas antevejo que seja para um reencontro com a velha eu, em um patamar novo e mais elaborado de vida.  

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