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Mostrando postagens com o rótulo Conto

Três Marias – Destinos Desiguais, Fardo Comum

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  Maria, Maria, é um dom, uma certa magia Uma força que nos alerta Uma mulher que merece viver e amar Como outra qualquer do planeta 1 Década de 1960 Em uma casa humilde, no interior do Brasil, nasce Maria dos Milagres. A primeira filha de muitos. Cresce em casa de barro, com muitos irmãos em escadinha e pouca comida. Aprende a cuidar dos menores e da casa ainda criança. Escola? Só até o 2º ano. Foi quando uma patroa de sua tia acenou com estudo na capital e lá se foi ela, cheia de esperanças. Perdeu-as no trabalho diário entre louças e mais crianças para cuidar. Os filhos da patroa. Em uma maternidade, nasce Maria de Fátima. Filha de um bancário e de uma professora, mora num bairro de classe média. Tem acesso a livros, brinquedos e estuda em colégio público de referência. Gosta de matemática e piano. Sonha com um futuro melhor enquanto brinca de casinha com bonecas e ajuda a mãe nas tarefas da casa. Em um bairro rico de uma capital, nasce Maria Antonieta. Tem um sobrenom...

Entre Dois Amores: A Busca Infinita Pela Resposta Que Não Existe

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Dois amores. Dois universos, cada um com seu próprio brilho, cada um com suas sombras. E eu, no meio, tentando decifrar o que é real, o que é desejo, o que é necessidade. Há quem diga que o amor verdadeiro é um só, mas eu me pergunto se não é o contrário — talvez o amor se multiplique, como uma estrela que se fragmenta e, de repente, há luz por todo lado. Luz que ofusca. Luz que aquece. E então, me pego buscando respostas nos números. Têm algum significado? Será que o número de vezes que meu coração acelera perto de um, ou o silêncio confortável perto do outro, quer dizer algo? Uma data qualquer, um gesto repetido, uma mensagem deixada no visto? Como se o tempo, essa invenção, pudesse me dar alguma pista. Mas será que existe mesmo uma lógica, ou só estou tentando desesperadamente dar sentido ao caos? Porque é isso que fazemos, afinal. O cérebro é mestre em criar formas onde talvez só haja um vazio. Esse vazio, essa busca constante, nos engole. É como se precisássemos de algo que nos de...

Passageira

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Acordou angústias. Seus olhos subitamente abriram. Assustada percebeu que era mais tarde que o usual. Maldita insônia, pensou. Faz com que o sono aconteça de forma parcelada. Umas tantas horas logo que adormecia. Outras tantas de olhos abertos no meio da noite. E enfim, um sono tumultuado, nunca descanso. Levantou sustos apressados. Tinha um horário agendado. Mentalmente fez as contas: tempo de preparo do café, tomada da refeição, exercícios diárias. Um tempo para pensar, abrir a casa, sentir saudades, reconhecer que enfim estava vivendo o que sempre temeu: viver só. Sentou cabeça oca. Criatividade antes tão amiga que saltava em tudo o que pensava, andava escassa. Tudo parecia sem necessidades de expor. Como se enfim a vida fizesse sentido por estar vivendo. Algo que sempre considerou sem emoção. Ou sentido. A hora marcada a chamou de supetão. Não tinha tempo para devaneios. Não estava tendo este tempo fazia muitos meses. Ou anos. Ou séculos. Que os tempos faziam uma dança de estranham...

Memórias guardadas na nuvem

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Os braços não os sentia como antes. Não que não os soubesse em si, mas pareciam meros apêndices do tempo em reclamavam de dor quando as mãos dedilhavam céleres o teclado. Hoje teclado não mais existe porque os comandos são oferecidos pelas Yinuo, as sucessoras das primitivas Alexas. Era uma sensação estranha ter o corpo físico substituído por sistemas binários que guardavam nas nuvens sua memória, seus feitos, suas narrativas e sagas. Não sabia se era exatamente assim que funcionava já que nunca se interessou por tecnologia digital. Bastava que funcionasse e estava bem. Já nem podia afirmar que tudo o que saia de sua boca era realmente fato acontecido, ou versões geradas por ela mesma, ou por algum sobrinho ou amigo que recordava em sua cabeça e acrescentava ao programa básico. E nem importava porque seus parentes mais próximos também já eram hologramas de um passado que já tinha se ido. Ficaram pendurados em gavetas, à disposição de algum curioso ou historiador que quisesse pesquisar ...

O luto nosso de cada dia

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A vela ia lentamente se apagando. A pequena, encolhida no seu esconderijo de sempre, olhava a tênue luz que piscava cada vez com menos força. Ela sabia o que se aproximava. Dentro dela se escondia uma força destemida e pesarosa. Era um misto de fragilidade e coragem insana que a marcava desde o começo dos tempos. Já sentia quando navegava nas águas profundas do ventre de sua mãe. Quando os primeiros gritos de sua garganta irromperam no mundo que a acolhia com desespero. Seus primeiros passos foram seguros por mãos que a amparavam e delineavam caminhos amorosos. Não podia se queixar. Neste aspecto a vida lhe fora generosa. Era dela essa melancolia interna que vibrava em uma sintonia com o cosmos. Era nela que os átomos e partículas sussurravam vozes que só ela ouvia. Poderosas. Solenemente ditas em frequências inaudíveis. As perdas iam se acumulando. As passadas e as pressentidas. Seu corpo miúdo já não aguentava a pressão da resistência. Se escondia em seu mundo tão particular que só e...

O sonho de Eva

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  Eva era uma mulher ruiva, de aproximadamente 30 anos. Tinha incríveis olhos verdes que mergulhavam em livros de fantasia e aventura. Embora sonhasse com locais e aventuras mágicas, sua rotina era bem monótona: trabalhava em um escritório, voltava para casa, assistia algum filme na Netflix e ia dormir.  Um dia, apareceu em sua vida um convite inesperado: um conto que ela havia escrito e enviado por e-mail, sem muita esperança, tinha a possibilidade de ser publicado por uma pequena editora. O conto era sobre uma heroína que enfrentava dragões, bruxas e vampiros em um reino encantado. Algo bem fantasioso, mas que fez Eva bastante feliz ao escrever. E bem mais ao receber o convite. Mal sabia que isso mudaria sua vida para sempre. No dia do lançamento do livro, vestiu seu melhor vestido verde como seus olhos e foi até a livraria onde aconteceria o evento de autógrafos. Estava nervosa e ansiosa, pois nunca havia feito algo assim antes. Olhou a mesa cheia de exemplares do seu livro...

A história de Ana e Pedro

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  Este casal de mãos dadas pela praia ao entardecer são Ana e Pedro. Ana é uma mulher bonita e elegante. Seus 58 anos bem vividos contrastam com uma pele bronzeada, cabelos loiros curtos e grandes olhos azuis. Seu sorriso encanta a quem a conhece, assim como sua voz suave que muitos amigos alcunham de “voz de locutora de FM”. Como ela é advogada de uma grande empresa, respeitada e admirada por todos, essa voz lhe ajuda nas defesas, pelo tom límpido e agradável. Ela é casada com um homem também bem-sucedido como ela. Político de renome, Miguel, é paciente e generoso. E juntos construíram uma bela família, com uma filha e três netos, que são sua alegria e seu orgulho. Pedro é um homem charmoso e inteligente, de cabelos grisalhos e olhos verdes. Tem 60 anos, um olhar penetrante e uma voz firme. É médico de um renomado hospital, reconhecido e elogiado por todos. Atua no campo de pesquisa em reumatologia, escreveu vários livros e é requisitado para ministrar cursos e palestras em várias...

A carta de Maria

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  Maria era uma mulher independente e bem-sucedida. Formada em ciências sociais, dedicara sua vida à pesquisa e ao ensino, publicando livros e artigos sobre temas variados, desde política até cultura. Casara-se duas vezes. Destas uniões resultaram três filhos, que lhe deram cinco netos. Aos 55 anos, sentia-se realizada e feliz com sua trajetória. De repente a sua realidade mudou. Foi quando Pedro, um jovem jornalista de 40 anos que trabalhava como correspondente internacional na África, apareceu na sua vida. Eles se encontraram em uma conferência em Lisboa, onde Maria fora convidada a palestrar. Foi amor à primeira vista. Pedro era charmoso, inteligente e aventureiro. Maria se sentiu atraída por sua energia e seu espírito livre. Nunca sentira nada igual. Seus primeiros maridos tinham sido encantadores, bons companheiros, bons amigos. Mas além de um certo período de paixão, aquele arrepio na espinha tinha dado lugar a um bom companheirismo. Mesmo sendo um romance à distância, com tr...

A Páscoa mais assustadora da vida de Joana

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A manhã era linda e cheia de uma luz imensa que se espraiava no campo cheio de flores da casa de Joana. Ela era uma menina curiosa, quase adolescente, que ainda curtia a doce magia das festas. Seus pais cultivavam essas tradições com carinho. Eram já mais velhos e Joana se perguntava quanto tempo ainda os teria consigo. Ela os adorava porque eram doces, curiosos e muito humanos. Joana tinham uma estranha sensação de ser tão diferente deles. Mas nunca parava para pensar no que este sentimento poderia significar. Quando algo lhe batia no peito, feito uma sensação de estranhamento e talvez saudade de algo que não lembrava, corria pelo campo a cantar com os pássaros e a observar o voo das borboletas. Neste domingo de Pascoa sentia que havia ainda mais mistério no ar. Como sempre fazia fuçou a casa atrás do ninho que era meticulosamente escondido desde sempre. Quando o achou não deixou de bater palmas e dar gritinhos de alegria. Era um ninho de palha com três ovos muitos grandes, embrulhad...

Um conto meio humano meio tecnológico

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  Ainda experimentando o Chat GTP. Desta vez para escrever um conto em conjunto. Abaixo o experimento:  E: boa tarde, você me acompanha em escrever um conto. Eu escrevo um paragrafo e você continua? C: Claro! Vamos começar. Qual é o tema do seu conto? E: um conto de terror sobre um grupo de pessoas presas em uma realidade paralela e paranoica C: Parece interessante! Vamos começar. Eu escrevo o primeiro parágrafo e você continua a partir daí. "Era uma noite escura e tempestuosa quando o grupo de amigos decidiu se reunir em um chalé isolado na floresta. Eles estavam animados para passar o fim de semana brincando e contando histórias assustadoras ao redor da lareira. Mas logo perceberam que não estavam sozinhos. Havia algo de estranho no ar, uma sensação de que algo sinistro estava prestes a acontecer. E assim, enquanto o vento uivava do lado de fora, eles se encontraram presos em uma realidade paralela e paranoica, onde não podiam confiar nem mesmo nos seus próprios olhos e ouvi...

Encontro inesperado - I

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Desde que me entendo por gente, o barco a vela tem sido o meu lar. Naveguei para todos os cantos do mundo em busca de aventuras e conhecimento, mas agora estou cansada. Cansada de andar sem rumo, de não ter um lar para chamar de meu. Quando o barco ancorou naquela baía sob a luz do luar, eu soube que era hora de desembarcar. É hora de começar uma nova vida, deixar para trás o velho eu e buscar uma nova identidade. Posso ver o meu futuro se estendendo diante de mim como um caminho iluminado pela lua, e sinto que finalmente estou pronta para seguir em frente.   Desci a âncora com cuidados. Meus pés, desacostumados à firmeza de terra firme, erraram o rumo da margem. O ondular das águas ainda fazia parte de minha rotina. Deixar a liquidez para ousar no concreto desconhecido parecia mais aventuroso que encarar uma noite de tempestade na solidão do oceano. Deixei as preocupações para trás e fui. O lugar era pequeno. Um povoado de pescadores que falavam uma língua parecida com a minha. Ha...

Ancestralidades

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Uma a uma foi rasgando as folhas do caderno. Todas em branco. Um branco imaculado como a sua alma estava de ideias que abarrotassem de vida e energia vital. Deixara que se esvaziasse devagar como quem sangra em gotas. As mesmas gotas que tentava em vão sorver do cálice onde o vinho repousara momentos antes. Os dias também se iam como as folhas, as gotas, as notas da música que se lamentava nas insones madrugadas onde a vida teimava em pedir sentindo. A voz da Bethania gritava momentos que já tinham ido, tão sentidos, uma vida que fazia então sentido. Tinha saliva trocada, tinha esperança essa palavra tão gasta mas tão necessária. Ela não mais. Tentava se gritar que alguma coisa tinha escolhido naquele turbilhão tão opaco onde seus passos a tinham colocado. Sabia cada escolha, necessária ou negada. Sabia cada voragem perdida e cada misera covardia. Um miado pungente lhe lembrava que a vida lhe pedia atenção. Puta que pariu, tudo o que não queria no momento era justamente dar mais atençã...

Acaso sou mais ou menos confiável que minha avó?

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    “ Já não se pode confiar nas pessoas, hoje, como se confiava antes. “ Seus grandes olhos negros se fixaram na frase que estampava a manchete de uma revista semanal. Não se aprofundou na reportagem, era algo sobre as mudanças de gerações, um tal de fio de bigode que não carecia de documentos para fixar um compromisso. Não se importava com isso. O mundo era o que era e devia ser vivido com sofreguidão, misto de desespero e sobrevivência. Por desespero leia-se o tentar ser um pouco feliz no rodopio de cada dia. A sobrevivência é auto explicativa. Correu para pegar o carro do aplicativo, enquanto seus saltos faziam um barulho irritante nos paralelepípedos do centro histórico da capital. Alguém não devia gostar de saltos finos em tempos passados. Talvez nem existissem. Talvez mulheres não corressem como agora, naqueles tempos em que as pessoas eram mais confiáveis. Seriam? Não pode deixar de pensar que pessoas são humanas, portanto cheias de significâncias. E insignificânc...

Como era gostoso o meu francês

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Como era gostoso o meu francês, pensou enquanto examinava a taça para perceber a limpidez do vinho branco. Gostava mais dos tintos encorpados, é verdade. Mas aquela noite merecia uma exceção.  Tudo tinha começado há exatos dez meses. Marcara bem aquele dia que seria tão determinante em sua vida. Diziam que momentos marcantes são assim. A gente lembra em detalhes. Tocava Nando Reis na rádio, chovia miúdo e era um dia cheio de noticias sobre a politica. Foi quando veio o telefonema da detetive Andreia. Vira o telefone no poste do supermercado e num impulso ligara, umas semanas antes. Falar da traição, sinais, dúvidas, expor a personalidade do companheiro que trazia tanto amor, mas pecava em algumas faltas, eram pensamentos constantes em seus momentos com as amigas. Nem quis ver as fotos que a detetive jurava serem dele. Falou do carro entrando no motel, encheu de estatísticas de homens como ele traindo e eis que tomou a decisão: ele nunca mais! As amigas apoiaram com deci...

CRÔNICA DE UM AMOR AUSENTE

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POA/ 31 de maio de 2020. Tarde chuvosa e sonolenta. Se do meu corpo teima sair saudade Que há de fazer o coração ? A carne treme, sente, chama Não há espaços para dúvidas nem incertezas O lugar é. Existe em sua plenitude/toma conta Imenso se agiganta e se alicerça Em tudo é pleno. Ausência sentida como um soco Vida arrancada do peito. Morte é a ausência de. Mesmo que vivo Alcance é impossível.  Será? Escolha é factível,  Independe da vontade. Existência emerge soberana Tempo talvez seja sábio. Que importa? Importa o agora, o chamado mudo. Importa a falta/ o ar que se torna denso Importa sim a sozinhez de quem se sentia com. Treme/ sente/ quente. Amor que se faz ausente. Amor que se faz carente. Amor que tanto se sente. POA, 01 de junho de 2020  Manhã fria, após uma prova de online de Tópicos especiais de Filosofia da Educação. Pouco importa a razão. Pouco importa a solidão. Pouco importa os motivos da separação. A energia se impõe. ...