Caindo a ficha
Parece que foi no meio de março que a vida mudou. Não lembra direito, faz tanto tempo que não vê ninguém ao vivo. Os contatos são pelos meios digitais, já participou de mais festas e viu mais lives que em todo tempo de antes. Lembra de que sentiu um premonição. Se fez mais ardente no ultimo beijo, se fez mais meiga no último abraço. Depois o medo. As notícias desencontradas. As brigas de poder. As mortes. Antes só especulação. Mesmo assim os cuidados. Quase compulsivos. Lava a mão, se entope de álcool gel. Grita com quem entra de sapatos. Fica quase pelada ao voltar da rua. Vai deixando de ir. Pede tudo pelo telefone. Primeiro lava tudo, alguns deixa de molho uns três ou quatro dias antes de consumir. Nunca gastou tanto. A internet se tornou refúgio. Chorou e brigou com gente que não estava nem aí. Tão trancados como ela, que eram todos do grupo de risco. Duas semanas de medo de andar nas ruas pelo movimento deserto. Só o barulho das ambulâncias cruzando. Depois