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O nunca mais

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  Lembro da menina perplexa ao descobrir que as pessoas não duravam para sempre. Como assim, nunca mais pai e mãe? Era um pensamento tão absurdo e devastador que, por muitos anos, o sonho de viver em uma cidade deserta, onde as pessoas tinham evaporado, a acompanhou. Por estes privilégios da vida, o nunca mais a poupou por dezenas de anos. Perdeu a vó querida, é verdade, quando ainda era adolescente. Mas foi uma morte distante, poupada que foi da imagem fria do caixão que traz a realidade da despedida de forma mais bruta. Para ela ficaram a imagem, os cheiros, o colo da vó. Ainda hoje é isso que lembra quando se recorda dela. Perdeu tios que se foram mais cedo. Mas lembra que o primeiro impacto brutal foi quando a tia querida, irmã mais velha de sua mãe, se foi aos quase 90 anos. Vê-la em um caixão lhe trouxe uma tristeza tão profunda que lembra até hoje da roupa que usava. Um pensamento fugidio lhe veio à cabeça, ao lembrar que sua própria mãe tinha uma blusa igual. Pensou furtivament