O nunca mais
Por estes privilégios da vida, o nunca mais a poupou por dezenas de anos. Perdeu a vó querida, é verdade, quando ainda era adolescente. Mas foi uma morte distante, poupada que foi da imagem fria do caixão que traz a realidade da despedida de forma mais bruta. Para ela ficaram a imagem, os cheiros, o colo da vó. Ainda hoje é isso que lembra quando se recorda dela.
Perdeu tios que se foram mais cedo. Mas lembra que o primeiro impacto brutal foi quando a tia querida, irmã mais velha de sua mãe, se foi aos quase 90 anos. Vê-la em um caixão lhe trouxe uma tristeza tão profunda que lembra até hoje da roupa que usava. Um pensamento fugidio lhe veio à cabeça, ao lembrar que sua própria mãe tinha uma blusa igual. Pensou furtivamente que seria essa blusa que escolheria para ela. E foi. Homenagem tardia? União entre irmãs? Não saberia explicar.
A vida se faz de atos e falhas. E esquecimentos. E lembranças. Inútil explicar o que é puro sentir. Um dia seu pai se foi. Primeiro para um hospital. Batalha que já havia vencido, mas cuja guerra acaba sempre por findar. É inútil luta. Ele, sempre tão atencioso, a preparou em sua rota para a fragilidade. Contraste com a sua força solar que sempre a tinha acompanhado. Do heroi invencível ao homem que definhava, ela sempre o via como a força que a guiava. Mesmo quando, em um esforço sobre humano, lhe deu sua permissão de ir-se. Doeu. Mas tinha lhe prometido uma tarefa: cuidar de sua mãe.
Cumpriu.
Enfrentou suas feras internas. Se fez de forte quando era toda fragilidade. Aprendeu-se e a ela. Acompanhou sua jornada pelo reino do esquecimento. Reaprendeu que amor não se esquece e que só cresce. Principalmente na necessidade. Rezou para ter forças na hora da despedida.
Teve.
E um dia se acordou no nunca mais.
Nunca mais filha, sem mesmo em desvio de função. Todos os que já sentiram a perda de pai e mãe sabem o que é isso. Lembrou que eles mesmos já tinham sofrido essa dor ainda jovens. Sua mãe, aos 10 anos. Sabe-se lá como superaram. Sabe-se lá SE superaram. Mas sobreviveram.
E um dia se acordou no nunca mais.
Nunca mais filha, sem mesmo em desvio de função. Todos os que já sentiram a perda de pai e mãe sabem o que é isso. Lembrou que eles mesmos já tinham sofrido essa dor ainda jovens. Sua mãe, aos 10 anos. Sabe-se lá como superaram. Sabe-se lá SE superaram. Mas sobreviveram.
E foram em frente.
Como ela o faria. Como fazem todos os seres humanos. O nunca mais é uma fantasma que dói, mas também é uma certeza de que um dia foi. Foi amor, foi presença, foi carinho e afeto.
Como ela o faria. Como fazem todos os seres humanos. O nunca mais é uma fantasma que dói, mas também é uma certeza de que um dia foi. Foi amor, foi presença, foi carinho e afeto.
E o que foi, sempre será.
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