Relógio das quimeras
"Lembra-te do anônimo da Terra Que meditando a sós com seus botões Gravou no relógio das quimeras: “É mais tarde do que supões” Cantares de perda e predileção (1983) - Hilda Hilst Leio bastante. Não o suficiente, é verdade. Mas mais que antes. O antes do tempo não focado. O antes da mente embotada O antes do medo permanente Se faço um breve passeio no ontem Vejo folhas caídas, amassadas, largadas Vejo folhas jogadas e perdidas Se revisito o hoje e -se o faço, é porque sou eterna viajante mesmo no instante que escrevo Percebo folhas arrumadas Inquietas, é verdade Naquelas arrumações esquisitas Bagunçadas até Mas mesmo assim mais arranjadas Me observo sentada, meus dedos mais ágeis uma breve luz chega de lado Um relógio imaginário com ponteiros enfeitados teima em girar adoidado Ora devagar Ora apressado Nesse rodopio de taques e tiques eu bailarina Júbilo, memórias e mais Hildas Poetam-me na vã tentativa de afogar receios de fomentar coragens de apressar destinos É tarde, grit