Diário de uma (quase) surtada

elenara elegante

Querido diário, digo blog

Sim, sou dessas, ainda escrevo em blog. Exatamente como fazia lá no início do século. E antes disso em cadernos, folhas soltas ou qualquer meio que registrasse sentimentos, angústias ou descobertas. Alegrias as vivo no mundo real. Dificilmente escrevo sobre elas. Tipo as novelas: ninguém se presta a ver gente feliz. Queremos ver drama, lágrimas, conflitos. Quando tudo se resolve, vem um enorme FIM e passamos para outra sofrência.

Pois bem, um ano e alguns meses de semi isolamento social só acirraram minhas fobias de gente. O mundo lá fora parece cada dia menos convidativo. Não fosse pelo sol, acho que ficaria eternamente na minha biblioteca de babel, lendo livros, vendo séries e documentários. E atualmente ouvindo podcasts. Sério, me rendi. Vídeos sejam no youtube ou vimeo, ou pior ainda no tiktok não me atraem muito. Mas os podcasts são bem mais práticos porque posso fazer outras coisas ao mesmo tempo. Sou multitarefas.

Fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo é mal de família. Parece perda de tempo dedicar atenção apenas a uma coisa por vez. Obvio que, com o passar dos tempos, a mente vai perdendo a capacidade de tanta concentração. O acúmulo de informações também atrapalha bastante. Sobra pouco neurônio para processar tudo. Meditação, escrever, ouvir música, seriam maneiras muito legais de trabalhar com isso, mas cadê foco. O que vem antes? A vontade ou a procrastinação?

O ovo da galinha sempre foi o que me motiva a fazer o quê. O sentido da vida. As questões filosóficas e a pesquisa sobre. Sobre qualquer coisa que me chame a atenção. Tudo bem, devo confessar que aos 64 sou cada vez mais uma nave desrumada. 

Ou desenergizada.

Haja tomada e carregador para suprir a bateria quando se descarrega. Talvez seja hora de uma nova. Trocar alguns circuitos. Deletar o que não serve mais. Ajustar algumas peças. Limpar!

Todo ano eu elegia uma palavra para me guiar. 2021 chegou tão torto que nem um dicionário inteiro bastaria para sinalizar uma saída. Difícil quando somos pegos na maré das circunstâncias (clichê mais bonitinho esse).

Mas se eu for bem honesta, esses meses e ano de pandemia, foram equivalentes à décadas de terapia. E das pesadas. Não a toa estou me sentindo a nocaute. 

Então, existe sim uma palavra. AMOR.

Não o idealizado. Mas o real sentido do amor doação, amor entrega, amor verdade. Nem sempre fácil, mas sempre redentor.

Talvez fosse a epifania que andei buscando tempos atrás. Não por uma entidade transcendente, mas pelo que realmente o divino representa: generosidade e troca.

Pausa para ler o que escrevi e ver o sentido que isso faz com o título. Nenhum, aparentemente. Parecem até palavras sensatas de um otimismo com a vida. Sim, sou otimista. Não, não estou em modo sensata. Debaixo de toda essa aparência de calma e meiguice, mora um vulcão. Ora adormecido. Esse adormecido é que me deixa surtada. É como se o magma estivesse em lava endurecida, ebulindo, mas tão devagar que parece nunca mais ter a capacidade bonita de erupção. O tal sentido da vida que parece ter escapado. Então, surtada sim. Mas sempre elegante que não faz parte dessa pessoa ter ataques de ansiedade de modo público ou histérico. Nada contra quem os tenha. Até acho mais honesto. Muito mais complicado vomitar em silêncio. 

Um dia acho a saída. Nada que preocupe porque também não vou tomar nenhuma atitude extremada. Vou chorar, vou me emocionar com comercial de margarina, vou tentar escrever, talvez, se melhorar, até consiga fazer um ou outra poesia. E vou seguir meu caminho, mansamente, mesmo que me sinta indo ao encontro de um iceberg.

Obrigada pela atenção. Sobreviveremos.     

   

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