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Mostrando postagens de maio, 2020

dos Signos

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Áries Branca, preta ou amarela A ariana zela. Tem caráter dominador Mas pode ser convencida E aí, então, fica uma flor: Cordata… e nada convencida. Porque o seu dominador É o amor. Eu cá por mim não tenho nenhum Preconceito racial: Mas sou ariano! ( Vinícius de Moraes ) Não tinha nascido nem em março  Muito menos em abril Mas era todo ariana desde sempre Nariz empinado de razão  A primeira a esquiar  Ralar joelho, nariz e alma Nas escaladas fagueiras Quando viu Miguel  Acercou sem piedade  Só acalmou no primeiro filho  Era mãe moleca Das que crescem junto com a piazada Uma escada Uma tripa Dos mais velhos aos mais moços  Anos de risadas/lagrimas e busca Miguel vinha como dava Corria para alcançar o pique Bufava, sorria e prosseguia  Um dia viraram avós  Vida feita e cama desfeita Seria um paraiso Nao fosse a pandemia Ser velho virou descarte Pesava para o sistema Logo eles que acreditaram nos mitos Todos eles Entre cada filho, um novo senhor En

hoje é sábado

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Tua escolha nas horas cruciais Nunca foi dizer meu nome Eu era a da tarde corrida  O amor com reticências  Minha escolha, ao contrário  Tinha o sabor das urgências Me sabia passageira Mas mesmo assim tinha querencia Eu sabia Nunca fui vitima Cada um com suas rotas Tome tenencia Tu me servia  Era desculpa de não mergulho A segurança dos nunca vai ser O tesão dos sonhos impossíveis Nossa entrega nunca foi mentira Cada um de nós trouxe duras verdades  Das cumplicidades traiçoeiras Tu com tuas ausências  Eu com minhas desconfianças  Só que o mundo mudou As segundas viraram sábados  Aprendi a colher de mim A segurança que vinha de fora Saudade risonha da amizade Do riso explodindo de vereda Amor tem desses mistérios  Feito de medo e carências  Fica tu com tuas escolhas  Teus mitos, tua bolha Fico eu com minha miséria Minhas dúvidas, meu recreio.  Pandemia de 2020 soltando a criatividade em versos e vinhos 

tempo de incerteza

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Um dia acordei com vinte No outro três vezes mais Ontem era verdade cristalina Amanhã incerteza total Hoje pura perplexidade. Ouço Nelson freire ao piano. Liszt. Optei por poucas notícias para depurar a mente. Nesses tempos encharcados de então, as versões são muito rápidas e cheias de convicções forjadas em sabe-se lá que interesses. Até a ciência segue o famoso quem patrocina. E os comuns leigos ficam reféns de suas bolhas, olhando para o relógio que teima em andar numa acelerada debandada. Para terem uma ideia, deletei abril. Não por escolha como tantas vezes já fiz com o Natal quando estava muito atarefada. Pronto, passava o Natal para janeiro e acabava com problema. Ou postergava. Quando (e se) acabar essa bagaça vírus, nem mesmo eu sei como estará o mundo e minhas certezas. Tudo bem, meus valores só se solidificam com as emergências. Nasci para elas. Mas mesmo com tanta reflexão, há que se dar um tempo para viver. Apenas se deixar ser. Já soube de toques poéticos. Pes

do mergulho

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Um homem tem sempre medo de uma mulher que o ame muito. Bertolt Brecht Tinha 15 anos na primeira vez em que apaixonou. Coisa de adolescente timida, tudo platônico. Era  suspiros, lágrimas e muitas confidências no diario. Foram precisos alguns amores, outras lágrimas e mais confidencias para que tornasse se apaixonar. Aos trinta. No começo, como dizia Caetano, era era só brincadeira e tesão. Foi quando o amor chegou, com todo o seu tenebroso esplendor,  que ruiu inteira.  Amava. Ja nada dependia de suas escolhas. Com outros tão fácil ser senhora. Agora, certezas ao pé do chão, estruturas em balanço e uma convicção esquisita que mais parecia posseira de alma que coisa que se domina.  Ela cada vez mais dele. Palavras antes escassas jorravam feito vertente sem que pudesse trancafiar. Nem queria. Ele todo cuidados e gentilezas como todo macho que quer copular. Devia ter um seguro para esses momentos de insensatez vitoriosa quando a vida irrompe, as barreiras cedem e se quer o que se quer. O

combinação perfeita

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Você cheirava a alecrim Eu com sede de vinagre Lua quase nova em céu carmim Um jeito de sorrir tão desbragado Você cheirando a queijo frito Eu com vinho na mão  Um não/sim jorrando de dentro Você cheirava a almíscar  Eu com sede de comer  O sol queimando de pálido  Um livro por fazer Você cheirando a capim em brasa Eu sem fome de zoar Labareda cantarolando  Você cheirava a gosto de amor Eu com fome de ternura A nuvem enrolando figuras  Caderno esperando descobertas Você cheirava a desespero Eu com  medo do despertar Chuva molhando jardins  Você cheirava minha alma Eu com fome de corpo A terra se abrindo em flor de seda Abismo engolindo espadas Você cheirava a nada Eu esperava tudo Água correndo puro lamaçal Você me cheirava verdades  Eu lambia mentiras  Fogo consumindo universos Alecrins e vinagres Combinação perfeita 

Abraços de Clarice

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"Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariam duas compreensões." Clarice Lispector - O livro dos prazeres Clarice me acompanhou em épocas de descobertas. Não por acaso seu livro, Uma aprendizagem, era minha leitura de cabeceira dos vinte anos. Por uma espécie de ato falho eu sempre colocava a palavra amarga ao lado, como em uma constatação de que a busca de si e da profundidade sempre deixa marcas de escavações, nem sempre fáceis. Na verdade nunca. Ouvi numa live, atual mania das pessoas em tempos de pandemia, que Clarice é complexa porque a gente nunca sabe o que ela quis dizer. Na época isso nunca me preocupou. Nem quem era a Clarice real, sua biografia, sua trajetória. Ela era alguém que traduzia em belas palavras muito que eu sentia. Nossa convivência era algo mais visceral que literário. A medida que fui passando do mistério de ser e de se buscar

Hoje saí na rua

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Hoje saí na rua.  Deveria ser um ato normal, mas fazem exatos dois meses que não tiro o pé de casa. Só saio para ligar o carro na garagem, tipo dez minutos e volto. De máscara, álcool gel  e me sentindo ameaçada pelo tal vírus. O medo. Mais que o perigo real, o medo do que possa vir a acontecer abate a moral da tropa. No caso, eu. Moro com minha mãe de 94 anos, cardíaca e totalmente dentro do grupo de risco. Eu também, nos meus jovens 63 anos recém feitos, tenho me sentido uma velha. Velha e descartável. Nos meus piores pesadelos, me sinto ameaçada por um perigo externo que não sei o que é, não sei quando exatamente vai chegar, mas vai, mas preciso escolher com presteza as minhas prioridades para levar comigo. Não muito diferente de agora. O bombardeio de informações desencontradas cria uma pane nas minhas pobres sinapses. Aliada ao período de confinamento onde perco a noção do tempo, sinto como se elas fossem bailarinas delicadas de balé quando uma pergunta me é feita, ela pe

Upload - dinheiro é o preço do amanhã?

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Nesses novos tempos de buscar a vida pelos meios virtuais, impossível não pensar nas complexas relações que os modernos meios tecnológicos nos permitem. Podemos não apenas interagir com outras pessoas, como abastecer a casa, trabalhar e ate amar pelas telas das realidades digitais. Imagine então se essas possibilidades se estendessem além da vida. É o tema da série de ficção da Amazon Prime chamada Upload. Passando em um futuro próximo, 2033, onde as pessoas podem, se tiverem meios financeiros, transferir seus dados de sua cabeça para um servidor. Ou seja, fazer um upload de sua consciência para um avatar criado digitalmente e viver eternamente em belos espaços de consumo, deleite e avaliações. Uma vida pós vida que em tudo se assemelha à real. Parece um perfeito paraíso onde as necessidades são satisfeitas com um apertar de botoes. Mas o que há por trás disso? Qual o preço real a pagar? Fique tranquilo, não darei spoilers , mas direi que ver essa série me lembrou um filme chamado &q

Amando na nuvem

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Girou o cálice de vinho nas mãos, pensando que, puta merda, acabou sozinha justo quando irrompeu a maior pandemia do século, quiçá do milênio. Trinta anos de casamento, outros tantos de namoro. Filhos criados, netos nos fins de semana e inventaram de mudar de rumos. Os dois.  Não era ruim. Mas também não era mais maravilhoso. Enfim, estava feito. Era fácil disseram as amigas já separadas. Sair na balada, olhar para os lados na academia. Tinha uma que tinha achado o namorado em uma corrida no parque.  Mas sem poder sair de casa. As redes sociais ainda em comum com o falecido. Restava então apelar para os tais aplicativos. Outra amiga, a mais jovem e descolada, sussurrou que funcionava sim.  Pronto. Instalado no smartphone que era tão esperto que até para achar um benzinho servia. Benzinho...era assim que se falava nos anos 70, tão luz negra, tão Bee Gees, tão musica lenta ou discoteca. Agora era ficante, segundo a filha, que falara piscando o olho para que o irmão não ouviss

Os descartáveis da pandemia

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Desculpem a falta de ânimo Desculpem a falta de abraços Os dias eram assim As mortes se sucediam Muitos riam Andavam impunes Como se Nada lhes tocasse Talvez fosse fuga Que viesse logo Que o descarte O pouco caso Os e daí da vida Tornavam tudo sem sentido São dois pra lá Nós pra cá Equilibristas entre notinhas de repúdio E a vida real dos que teimam em sobreviver Numa esperança fugidia De um amanhã Cada dia mais longe de nós Os descartáveis

Diários da pandemia - alguém morreu soltando pipa

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Kaio morreu aos 21 anos. Soltando pipa. No meio da maior pandemia do século. Aqui se chamava de pandorga. Lembro quando ganhei uma. Era verde e toda delicada. Fui soltar na Redenção, um enorme parque verde que abrigou uma comemoração do aniversário da revolução farroupilha. Aquela que nós gaúchos comemoramos até hoje, embora alguns digam que perdemos. Que seriam as derrotas?  Perder uma guerra ou perder os valores? Mais importante, quais nossos valores?  Aqueles que defendemos até a morte? Podem nos torturar e até se vangloriar disso depois, mas nunca nos venceram. Somos como as pipas no ecu. Voamos alegres. Até que um fio nos bate de frente. Morre um Kaio. Aos 21 anos. Morremos todos um pouco de cada vez que nossos voos batem de frente com fios. Esquisita essa vida. Lutamos pelo quê mesmo?