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Mostrando postagens de agosto, 2018

Olhos tristes de Dora

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"minha mãe era triste, tinha um olhar melancólico, perdido ao longe"  Assim aprendi a conhecer a Dora. Apesar de tão próxima, minha vó, a mulher que pariu minha mãe e mais sete filhos, sua figura era empalidecida pela imagem do avô. Médico, alemão, mistura de autoridade com ternura, um ser solar que encheu de luz a vida de seus filhos. Mas não a da Dora. Dos retalhos que fui catando pela vida para traçar a sua personalidade, poucos, muito poucos, me mostram uma mocinha séria, recatada. Uma mulher de olhar duro, quase nada lembrando aquela adolescente quando as maternidades marcaram seu corpo e a lida no campo também. O olhar altivo quando já viúva, trouxe os filhos à uma exposição famosa e se metamorfoseou de novo naquela mulher urbana com quem o Doutor casou. Doutor. Assim chamava seu marido. -O Doutor está brincando? quando viu a casa de chão batido onde iria morar no interior. Ela que usava raposas para ir ao teatro. Ela que usava colares de pérolas e and

As estrelas se apagam lentamente

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Noite. Algumas poucas luzes que brilham aqui e acolá. Poderia ser uma alegoria da minha alma. Aqui dentro também brilham algumas luzes. Poucas. Era de sensações sua precisão. Nem que fosse daquelas multicoloridas, podres de falsas, tipo sorvete derramado que se esvai e com ele a vontade tanta de comer aquela gostosura que é tão efêmera.    Mas como o picolé que se derrete na mão, lambuzando a roupa, os dedos, a vida, também a sua esperança parecia ir se colapsando. Sinais difusos aqui e ali. Uma ruptura eminente, corrigida por esparadrapos que são apenas lenientes. Nada permanentes. Mas não será a vida esse porvir de momentos sem muito sentido? Quem disse que a linha reta é caminho traçado desde a infância. Não serão as mentes mais confusas e caóticas do que gostariam de admitir? A julgar pelo que lia e via, sem dúvida. Gente que sempre achou tão inteligente, de repente saia com cada sandice. Ela para os outros devia também parecer assim incoerente. Que de certezas talve

Observadora da vida

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A verdade essencial é o desconhecido que me habita e a cada amanhecer me dá um soco. C.Drummond de Andrade Tenho inveja Tenho sim, muita inveja dos que acordam cheios de certezas.  Dos que não descreem Daqueles que vivem tanto de convicções que quando as perdem de um lado, bandeiam para o oposto.  Eu não Eu vivo questionando Eu faço perguntas impertinentes Sou daquelas que nunca mergulha fundo nas crenças Não tenho gurus, pesco um pouco das sabedorias alheias Separo o que me interessa, o que me soa verdade interna O resto deixo ir Admiro quem acredita tão fundo que grita Admiro os lutadores,  os que dão a vida por suas ideias São deles as rotas que fazem diferença Eu vivo do imponderável Leio poesia nos dias tristes Leio palavras de quem pensa coisas que não creio Só para entender o pensamento alheio O desconhecido me fascina Vivo da busca Sou como aquele caminhante errante que passa por vilas Come das suas comidas,  reza nas suas igrejas Ama seus