A salvação
Se tinha uma coisa que a deixava mal era a completa e absoluta falta de perspectivas. Ela, nascida solar, otimista desde sempre, quando encontrava todas as portas fechadas se via em papos de aranha. Porta e janelas. E sem nenhum subterfúgio. Nem uma abertura de alma, nem nos sonhos. Talvez na lua. Papos de aranha...o que será que queriam dizer com isso? Ah! Nem tudo falhara. Sobrara algo: a curiosidade. Fazia parte da curiosidade encontrar uma forma de se dissolver nas espumas da vida. Morrer era palavra muito forte. Se matar então, era palavrão. Dissolver era poético. Era como bailarina que se despede do palco, vai fazendo piruetas, em ponta. Pé por pé saindo de cena, magistral. E dramática. Drama. Embora gostasse de brincar com a palavra, suas formas de se dissolver não percorriam caminhos majestáticos. Era pragmática em sua imaginação de dar adeus ao plano da matéria. Voar pelas janelas parecia fácil e até bonito. Mas tinha medo de altura. Tinha mais medo de altura que de morrer