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Mostrando postagens de julho, 2018

Resistência ao vazio

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Mais das vezes me espanto com a palavra dita nos dias de hoje, não tanto porque se pense assim, mas pela coragem de expor tanta sandice. Parece que vivemos no tempo em que o bom senso se rasga e qualquer assomo de opinião se faz de verdade absoluta. Com o agravante de que os tempos virtuais facilitam a reunião dos bandos e as bolhas algoritmicas  nos fazem pensar que somos mais maioria que realmente somos. Nada contra a diversidade. Muito antes pelo contrário, tudo a favor. Sem a diversidade não há crescimento. Sem que me contraponham conhecimento e argumentos fundamentados , não coloco os meus em cheque. Há que debater muito. Há que rebater e crescer.  Mas,e nunca, há que se esquecer de que humanos somos. Que da poesia nascemos todos e que a sobrevivência por si só não explica nossas agruras. E há que combater as trevas, seja lá como se apresentem. O que diz que o dia é noite. Que a curva é absolutamente reta. Que o fato, mais que versões diferentes, não aconteceu. Há quem pr

Mudança que urge

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Um dia tinha lido sobre alquimistas. Quem sabe os sinais do universo não estivessem apontando para uma revolução em sua vida. Um recomeço desses de varrer a história passada e afogar com fogo e brasas toda a completa destruição em que se transformara a sua vida... Começava pelo mau humor. Péssimo humor. Humor de ogra. E as coisas que não se encaixavam mais. O otimismo, por exemplo, não tinha lugar nessa vida de pedaços mal consturados em que tinha se tornado sua rotina. O corpo se enchia de adiposidades, ficava redondo e começava a dar sinais de desgaste. A mente ia se desligando, devagar, as palavras falhando, o sentido das coisas se perdendo. Dissolvendo.  A rotina era insana. Era um tal de começa, para. comeca, para. Recomeça e para novamente. Interrupções idiotas para um trabalho criativo. Um telefonema de propaganda. Um vídeo sem graça da rede social. Uma conversa banal sobre nada. Um parar para atender. Atender. Atender. Atender.  Um mau gerir recursos de dar dó. Dinheiro sumindo

Apenas uma mulher esmaecida pelo tempo

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chove.  Eu que sou movida à energia solar, me sinto menos apta em dias chuvosos. Tudo me parece mais difícil, embora não seja. Tudo na verdade é como a gente constrói dentro da gente. A vida é feita de atos. A vida premia quem age. Como saber o certo?  Não existe um meio. O certo é o que parece certo no momento. O que importa de verdade sempre será a ação, não o receio. O que faço em dias de chuva, além de obedecer aos mistérios e aos deverias? Dou ouvido aos desígnios. às vezes eles me vem como insights . às vezes como sussurros. outras como ainda como percepções. o meio não importa, o fundamental é que eu ouça. e entenda. Hoje ele se manifesta assim...    e também o encantamento de ver caminhar ao meu encontro um espécime tão raro quanto um hipocampo, um centauro, talvez?...vejo apenas a sua crina e o alto do seu corpo...Não, eis as duas pernas, então não é um centauro, é um homem suficientemente louco de amor para tomar uma pescadora das ilhas Far

Quando a vida me toma de roldão

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Caio...gostava de ler o Caio em tempos infinitos, aqueles que eu me descobria e me sentia .  Deixei de me sentir muito tempo depois. E comecei a sentir o Caio mais. Como te entendo. Também ando muito cansada de tudo. Com um mau humor daqueles de exaustão. Um humor que nenhum livro de auto ajuda resolve. Um humor de quem se sente exaurida, sumida, esgotada. Meio que um bagaço de laranja, dessas que são chupadas até a última gota e quando nada mais tem de sumo, se joga fora.  Me esqueçam, eu grito.  Um grito mudo que sai no corpo dolorido. Um grito sem voz que sai na tontura que não se explica. Um grito morto que sai no humor de cão, na sabotagem interna, no não ter mais energia de ser boa. Ser boa era legal, me fazia bem. Só o que eu precisava era de um tempo para mim. Um reabastecimento. Podiam ser as horas de sábado pela manhã, podia ser um livro que eu pudesse ler sem ninguém interromper. Um projeto para criar. Uma série de ficção. Um livro do Caio.  Antes dos

O ontem e o amanhã que beiram a margem da sanidade

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O tempo passou. Era com calma e um pouco de espanto que constatava que as ruínas tinham se instalado enfim na sua vida.  O que restavam? Lembranças  Também para ela tinha chegado o tempo em que o antes ficava mais bonito e palatável que o depois. Já não amanhã. Apenas ontem.  Um ontem interminável.  Um ontem inenarrável.  Um ontem de páginas rasgadas.  Nela as rugas se misturavam com os olhos de menina que teimavam em não deixar de brilhar. Isso não morria. Só quando ela desse aquele que chamam de último suspiro.  Até lá guardava para ela toda aquela montanha de sensações boas, ruins, mesquinhas, gloriosas, toda uma biografia que não fora escrita. Nem seria. Sua passagem na terra seria efêmera. Alguns diriam com saudades que tinha sido boa.  Seus sonhos, suas vontades, seus medos e quimeras, seus quiseras, tudo isso morreria com ela.  Brincou com a ideia de ser descoberta muitos anos depois de virar pó. Alguém acharia uma chave escondida em algum tempo, talvez numa gaveta dessas modern

Vivo de maravilhosidades

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Nasci com ímpetos de miragens.  Dizem que a sala escura, meio penumbra, as mãos ágeis e carinhosas da parteira se misturavam à música que tocava no quarto do hospital daquela pequena cidade do interior onde meu pai e minha mãe me aguardavam. E me tiveram.  A música que tocava? Tenho uma certa curiosidade. Um bolero, um tango, mais certo que fosse uma ópera da rádio Belgrano de Buenos Aires, a única com potência para chegar ali, nos ouvidos da menina que chorava. O mundo me aguardava. Dele tinha receios. Sempre tive. Há quem diga que caí no banho nos meus primeiros dias e isso me marcou para sempre. Há quem diga que a xucrice era coisa minha desde sempre. Eram medos que nunca soube elucidar. Mas... Nem tudo eram temores. Havia o deslumbramento. Uma certeza interna de que a Vida se fazia de momentos incríveis, mesmo que nunca vividos para fora. Sim, nasci para maravilhosidades .   1. Maravilhosidade  Refere-se à alguma coisa, pessoa ou sentimento extremamente m