Resistência ao vazio

Mais das vezes me espanto com a palavra dita nos dias de hoje, não tanto porque se pense assim, mas pela coragem de expor tanta sandice. Parece que vivemos no tempo em que o bom senso se rasga e qualquer assomo de opinião se faz de verdade absoluta. Com o agravante de que os tempos virtuais facilitam a reunião dos bandos e as bolhas algoritmicas nos fazem pensar que somos mais maioria que realmente somos.

Nada contra a diversidade. Muito antes pelo contrário, tudo a favor. Sem a diversidade não há crescimento. Sem que me contraponham conhecimento e argumentos fundamentados, não coloco os meus em cheque. Há que debater muito. Há que rebater e crescer. 

Mas,e nunca, há que se esquecer de que humanos somos. Que da poesia nascemos todos e que a sobrevivência por si só não explica nossas agruras.

E há que combater as trevas, seja lá como se apresentem. O que diz que o dia é noite. Que a curva é absolutamente reta. Que o fato, mais que versões diferentes, não aconteceu. Há quem proponha o vazio dos argumentos absolutos. Há quem não tenha vergonha de bradar sua total ausência de pensamento crítico como se fosse motivo de orgulho.   
“Como diz Dioniso, o raio divino não pode chegar até nós se não for envolto em véus de poesia.” (Egidio da Viterbo)
Em todas as eras a transgressão se fez presente. Sempre que houve um retrocesso, alguma forma de resistência, pacífica ou guerreira, se fez também presente.

Nada rouba dos homens e mulheres a capacidade de sonhar e ver o belo. De observar e criticar. De absorver e balançar na tênue linha entre o mortal e o divino.

O vazio em sua tenebrosa vulgaridade nunca sobreviverá porque lhe falta o ingrediente básico de que é feita a vida que se perpetua: a liberdade de permitir-se. A si e ao outro. 

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