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Mostrando postagens de julho, 2023

Despedidas

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  Despedidas. Não sou boa para elas. Me doí dizer adeus, fechar as portas, sair para nunca mais me doí mais ser a da porta que se fecha a que fica a que assiste o mundo capotar da janela Mil vezes a rotina dos dias imprevisíveis que a maldita imprevisibilidade do inevitável Bebo a água da sabedoria da caneca que grita gratidão Me absorvo da luz do amanhecer Me repleno das possibilidades da segunda me irrito com o teclado que teima em completar o que não quero, não pedi/não penso não gosto que me empurrem a solução pronta que algum algoritmo delegou como sendo mais apropriado não quero as apropriações do normal não quero os ditames pré estabelecidos o comportamento do bando meu bando uiva nos sabemos por instintos nos reconhecemos por cheiros/salivas/gemidos gritos de angústias/revoltas/prazer o mundo revolta a água me espera eu calma/serena/inquieta gratidão pela vida sorrio entre irônica e crédula em dias de sol cabem uivos?

O que o corpo sente, o corpo atrai

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Acordo e as engrenagens complexas de meu corpo/mente agem para me mostrar que seis décadas e meia de uso acabam por se fazer notar. No desgaste físico. E principalmente na intricada e sutil calibragem das emoções. Li em algum lugar que quando estamos mais melancólicos, nosso corpo libera hormônios que nos fazem sentir mal e nos tornam menos atraentes. Hoje isso era pura verdade. Obvio que não sou mais aquela adolescente chorosa que derramava malmequeres em cadernos enfeitados de recortes de revistas. E muito menos a adulta que se fechava em copas quando de uma palavra mal dita. Mas, ai de mim, elas ainda me conformam e convivem comigo. E fazem ainda as suas bagunças. “O que muitas pessoas não sabem é que o que nosso corpo sente pode afetar o que nosso corpo atrai. Quando estamos felizes e confiantes, nosso corpo emite sinais que atraem outras pessoas. Quando estamos tristes e inseguros, nosso corpo emite sinais que repelem outras pessoas.” Que facilidade para uma resposta ditada por um

O luto nosso de cada dia

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A vela ia lentamente se apagando. A pequena, encolhida no seu esconderijo de sempre, olhava a tênue luz que piscava cada vez com menos força. Ela sabia o que se aproximava. Dentro dela se escondia uma força destemida e pesarosa. Era um misto de fragilidade e coragem insana que a marcava desde o começo dos tempos. Já sentia quando navegava nas águas profundas do ventre de sua mãe. Quando os primeiros gritos de sua garganta irromperam no mundo que a acolhia com desespero. Seus primeiros passos foram seguros por mãos que a amparavam e delineavam caminhos amorosos. Não podia se queixar. Neste aspecto a vida lhe fora generosa. Era dela essa melancolia interna que vibrava em uma sintonia com o cosmos. Era nela que os átomos e partículas sussurravam vozes que só ela ouvia. Poderosas. Solenemente ditas em frequências inaudíveis. As perdas iam se acumulando. As passadas e as pressentidas. Seu corpo miúdo já não aguentava a pressão da resistência. Se escondia em seu mundo tão particular que só e

Das podas necessárias

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Amanheço com ganas de poda.  As plantas que olho durante a semana, já adivinhando que estão minguadas por falta de seiva vital, me parecem necessitadas daqueles cortes onde nada mais viceja. Enquanto as corto, sem dó nem piedade, embora falando internamente que me perdoem, que é para o bem delas, etc, etc, sinto que nós também necessitamos podas de quando em vez. Este nós de impessoalidade pode e deve ser trocado pelo eu da individualidade que aceita as escolhas vitais. Se eu mesma não me fizer os cortes necessários, a vida fará por mim. E talvez, tipo eu com as plantas, o faça sem muito critério. Eu mesma me conformando posso ser mais gentil. Falando em gentilezas gosto da definição do Gil no seu instagram. “Adepto da bondade radical”. Bondade radical. De raiz. Raiz tem que ser adubada para crescer forte. A bondade deve ser, portando, fomentada nas bases e também dirigida no crescimento. Ando em tempos de podar bondades e generosidade excessivas que até nelas há de se ter harmonia e d

Dos meus pertences

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Tenho asas refulgentes que quedam guardadas no baú do esquecimento. Nele guardo as memórias que, fugidias, se esgueiram no passado. E espiam de vereda em momentos quaisquer. Tenho olhos brilhantes, furta cores e furta sentidos. Olhos que enxergam o fundo da alma do passante. Guardo-os também para meu deleite. Tenho pernas que se esquivam e mãos que aconchegam quando querem. E nem sempre. Tenho medos catastróficos de perigos que me rodeiam. Ou que já não fazem sentido, mas ainda teimam em assustar. Tenho anseios brilhantes que miram o sol que derrete asas como pirilampo persegue a luz. Sem temer a queda nem o abismo. Tenho fomes ancestrais de fêmeas que as esconderam. Sublimaram. Queimadas em suas vontades de desejos e paixões. Tenho poros que liberam suores abundantes. Tenho vidas que represadas teimam em explodir em sonoras e quietas cachoeiras. Tenho ânsias de liberdade. Voos de águia que migra para novas paragens. Tenho dedos mal cuidados porque a aparência não me satisfaz, mas a es

Escolhas

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Escolho me deixar sentir neste dia meio nublado onde meu corpo reflete a dor de ter passado quase uma hora de pé, em uma lateral de teatro, para ver um espetáculo que valeu cada osso dolorido do corpo. Escolho me deixar levar por uma leve melancolia que lembra de abandono e carências. Não como sentia antes, mas como elaboradas, digeridas e entendidas. Uma melancolia de isso enfim também me pertence como reconhecimento de mundo. Escolho me hidratar, sabendo que cada gole que tomo, entra como seiva pelos canais competentes, todos ensinados por minha mãe, quando me dava comida. Ela explicava exatamente como funcionava o processo da deglutição, porque não podíamos falar e comer ao mesmo tempo, que a comida podia ir no canal errado. Como aquilo que mastigava ia para o estomago. Era lindo e instrutivo. Escolho lembrar disso até hoje. Que aprender e ensinar é antidoto para não saber escolher. Escolho não ouvir vozes mesquinhas que, interna ou externamente, teimam em grasnar misérias de olhare