Dos meus pertences

Imagem gerada no seaArt


Tenho asas refulgentes que quedam guardadas no baú do esquecimento. Nele guardo as memórias que, fugidias, se esgueiram no passado. E espiam de vereda em momentos quaisquer.

Tenho olhos brilhantes, furta cores e furta sentidos. Olhos que enxergam o fundo da alma do passante. Guardo-os também para meu deleite.

Tenho pernas que se esquivam e mãos que aconchegam quando querem. E nem sempre.

Tenho medos catastróficos de perigos que me rodeiam. Ou que já não fazem sentido, mas ainda teimam em assustar.

Tenho anseios brilhantes que miram o sol que derrete asas como pirilampo persegue a luz. Sem temer a queda nem o abismo.

Tenho fomes ancestrais de fêmeas que as esconderam. Sublimaram. Queimadas em suas vontades de desejos e paixões.

Tenho poros que liberam suores abundantes.

Tenho vidas que represadas teimam em explodir em sonoras e quietas cachoeiras.

Tenho ânsias de liberdade. Voos de águia que migra para novas paragens.

Tenho dedos mal cuidados porque a aparência não me satisfaz, mas a essência sim.

Tenho sinais de vida, de lágrimas, de rios e mares que navego e sigo.

Tenho miragens absolutas de tempos ancestrais que ainda moram em minhas entranhas, meu útero, meus hormônios e risadas.

Tenho ciganas e princesas. Guerreiras e xamãs. Tenho o sangue que não corre e a Lua me guiando.

Tenho o sol como amante e cúmplice.

Tenho pressa porque vivo. 

E não sei o tempo que ainda terei.

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