Notas de açucena
Em algum lugar uma voz sussurra notas de açucena. É noite há um certo aroma de algodão nas ruas desertas da minha cidade. Ninguém mais faz barulho ao tocar o solo. As cadeiras da calçada se amontam como num tango trágico em locais escondidos, levadas pelas águas e pela esquecida tarefa de cuidar. Ninguém mais cuida. O tempo se perdeu. Perdemos todos Dentro de mim vozes do passado relembram tempos de fartura e sonhos. Quando se sonha é com colheitas e flores. Meus olhos quase se tornam de novo jovens como a lua que vejo na janela. A Lua ela mesma sempre igual/sempre diferente. Os pedacinhos de tantas eus se enovelam em dissonâncias harmônicas e revelam cicatrizes e pontas soltas. Eu me revolvo na cadência esquisita dos anos passados e me enxergo com tantas faces e redemoinhos que mal reconheço a eu de hoje. Não mais. Mas ainda. Tanto desvelo a resguardar. Tanta água vertendo de todo lado. Do céu, dos rios, das marés e dos olhos que brigam de luzir umidades e verdades. Seguiremos. Dese