Notas de açucena
Em algum lugar uma voz sussurra notas de açucena.
É noite
há um certo aroma de algodão nas ruas desertas da minha cidade.
Ninguém mais faz barulho ao tocar o solo.
As cadeiras da calçada se amontam como num tango trágico em locais escondidos,
levadas pelas águas e pela esquecida tarefa de cuidar.
Ninguém mais cuida.
O tempo se perdeu.
Perdemos todos
Dentro de mim vozes do passado relembram tempos de fartura e sonhos.
Quando se sonha é com colheitas e flores.
Meus olhos quase se tornam de novo jovens como a lua que vejo na janela.
A Lua ela mesma sempre igual/sempre diferente.
Os pedacinhos de tantas eus se enovelam em dissonâncias harmônicas e revelam cicatrizes e pontas soltas.
Eu me revolvo na cadência esquisita dos anos passados e me enxergo com tantas faces e redemoinhos que mal reconheço a eu de hoje.
Não mais. Mas ainda.
Tanto desvelo a resguardar.
Tanta água vertendo de todo lado.
Do céu, dos rios, das marés
e dos olhos que brigam de luzir umidades e verdades.
Seguiremos.
Desenrolo os fios,
resolvo os enigmas,
a mente parece claramente equivocada.
Não mais a clareza cristalina de antes.
O sorriso contudo revela construções mais firmes,
quase estoicas.
Tão pouco profunda, nada rasa.
Nado.
E amo.
Amo concretudes rudezas.
Amo ações sem paixões.
Amo o espelho e o reflexo.
Enfim me encontro
eu, meus delírios, minha estrada
Demais....
ResponderExcluirobrigada!!!!
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