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Mostrando postagens de setembro, 2018

Apodyopsis - despir mentalmente alguém

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Adorar palavras difíceis. Aprendeu desde pequena. Tentar passar um raio x na alma alheia: também.  Invadir a intimidade alheia exige muita responsabilidade. Há um quê de sutileza necessária para ir desafiando teias e véus e ir abrindo pedacinhos que outra pessoa teima em esconder.  Primeiro porque não se sabe o motivo da defesa.  Todos nós temos nossas feridas e nossos curativos emocionais. Pode ser uma fachada irônica, uma maneira mais fria e racional de trancar emoções. Pode ser uma falta de generosidade que esconde mágoas passadas e nunca resolvidas. Não importa, desembaraçar meadas de fios enrolados exige muita paciência. E determinação para lidar com as dores que daí advêm.   Segundo que se meter em seara alheia sem ter a devida permissão é intrusão. E se não tiver muito, mas muito mesmo, amor envolvido, pode resultar numa grande lambança emocional. Abrir buracos negros pode não ter volta. Inclusive para alguém que está ao lado.  Despir mentalmente alguém m

O vestido de noiva

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Oh!... O amor... coisa de menina-moça, moça, velha-menina. Para muitas, o vestido, o véu... Foi passaporte para o céu, para outras - pro inferno!  o fogo ardente extinguiu-se no frio ibernal... ‘Fogueira equívoca’, como dizes bem... Na lareira...só cinzas, a espera de um bom pau! Há vestidos de noivas, que são puras mortalhas! Sonhos anulados, guardados em caixas de presentes, para trás deixados como que nada... Aparência do bem... Transvestido do mal. Puro engano! Ato mortal... (Esther Rogess) Abriu a caixa.  Quanta diferença da vez primeira. Quando tão mais jovem e cheia daquela esperança que o amor traz. Umas dezenas de anos atrás, alguns fios de cabelos brancos a menos, dois filhos já adultos que nem eram projeto. Ela tão mais jovem de alma. Amava. Ela e seu parceiro.  O vestido tinha sido uma extravagância. Custara tão caro, bem mais do que seria prudente naquele orçamento de jovens que iniciam a vida. Jurava para si mesma q

A serpente e a água

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Olhava a água como quem vê miragens.  Por dias corria quieta como pastagem silenciosa. Mas nos dias de brumas a água se revolvia como se possuída por força misteriosa e adquiria uma potência ruidosa. Rugia. Fervia.  Hoje era dia do meio. Daqueles nem para lá, nem para cá. Aquela calmaria que entremeia o furacão. O olho. Sabia que vinha. Dava para sentir pelo cheiro que tempos danosos se acercavam. Eles nunca vinham sem aviso.  Mister saber reconhecer os sinais. Um pássaro que voou gritante. Uma folha de mirtilo nascida em carvalho. Um olhar de reconhecimento no meio do nada.  A água formando redemoinhos em dia sem vento. Miragens todas. Mas o arrepio de cadela uivante não é miragem. O cheiro da serpente também não.  A inhaca. O sibilo. O rastejar gosmento  de hipocrisias tantas que juntas parecem formar um promontório de santos crucificados.   E a água.  A água prometendo respostas. A água chamando para dentro. A água que limpa. Que renova. Que purifica. A água e sua

Só um pouco para o final

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Quanto será que falta para a hora de sair?? Pensava assim, meio que entediada sobre as tarefas tão repetidas que tinha que fazer todo dia. Lembrava aquela música daquele compositor que já fora unanimidade nacional: "todo dia tudo sempre igual, me sacode às seis horas da manhã" . Só que não é ela que me sacode, não sou o macho da história. O ela sou eu mesma, eu que encaro o cotidiano, eu que costuro minhas meias, eu que me cobro, eu que me mostro, eu que me reviro, eu que me sustento. Eu que me aguento. Por mais histórias da carochinha que tivesse lido, e no fundo ansiasse por um príncipe desses encantados de filme açucarado, nunca tinha encontrado um pela vida. Talvez porque o seu macho alfa fosse bem diferente do roteiro pré estabelecido e ela também não era o resumo da princesinha cor de rosa que se conformasse com a mesmice. Só que não. Cá estava ela na mesmice dos afazeres sem graça. Cadê a imensidão que sua cabeça urgia? Nada que não passasse com uma boa dose de