Postagens

Mostrando postagens com o rótulo mulheres da família

Gestação de Memórias - podcast de histórias das mulheres que me arquitetaram

Imagem
    Sempre tive um fascínio pelo passado.  É como se vozes ancestrais soprassem em meus ouvidos um apelo para que pesquise suas histórias, como que para levantar a poeira do esquecimento e as faça novamente viver. Estou envolvida em um projeto chamado  Gestação de Memórias  - História das mulheres que me arquitetaram.  Um desafio de contar a vida olhando essas avós, tias e mães que, com suas vidas anônimas, fizeram germinar sementes que somos nós, suas filhas, mulheres que levamos também nossas vidas da melhor maneira que podemos. Saber de nossas origens talvez não nos melhore, mas nos faz ter mais firmeza de outros pés que nos precederam. Suas histórias tão cheias de riquezas cotidianas me fazem pensar no que elas pensavam, quais histórias  e mistérios guardaram em seus corações e mentes? Quem são essas mulheres que nos chegaram em memórias, fotos desbotadas, recortes de datas e documentos. Não fosse por elas, não estaria eu aqui, dedilhando hist...

Mãos que tecem - quando bate a saudade

Imagem
Acordo ensolarada. A energia me invade de forma diferente, eu que tanto ando carente dela. Arrumo a cama com energia, troco os lençóis, espano as poeiras do descaso. Arrumo as almofadas. Meus dedos tocam a única diferente entre elas. Tecida por mãos que já não habitam este mundo. A saudade me bate forte. Lembro que hoje, 24 de abril, é o dia que ela nasceu no planeta Terra. Taurina. Teimosa. Perseverante. De personalidade forte mas terna. Toda cuidados. Mais com outros que com ela. Minha tia. Tão virginal como seu nome. Virginia . Lembro de sua energia que se tornava mais alegre quando ela convivia. Seus dedos ágeis faziam maravilhas com as agulhas. Linhas que se transformavam em colchas, toalhas, vestidos. Almofadas. Seus sorriso quando dava presentes. Gostava de se doar. Ou talvez fosse a forma que aprendeu de viver a vida, com os filhos que não teve, mas que ajudou a criar. Lembro da sua coragem de ser mulher só em uma época em que isso era um peso. Sempre independente, sempre solid...

Tributo aos que me criaram

Imagem
Trago em mim o dna de minha gente Os reconheço quando olho no espelho nos pensamentos fugidios nas quimeras que lançaram  Em cada um deles um traço um reponte uma magia o pequeno elo de muitos olhares amores tardios/precoces/inconfessos das terras tedescas aos mares de açorianos das indias deitadas com vontade ou sem dos fados lusitanos o céu ainda é azul para mim que respiro deles a vida que se foi mas no entanto perdura Meus dedos lembram os dedos de meu pai meu sorriso, o seu  agora que nos tornamos velhos e sábios eu sempre mais sisuda que ele eles sempre mais crianças que eu Em cada pedaço de pele uma mistura de raças e anseios paridos em forma de vida em cada pesquisa sobre os que me criaram pais, avós, bisavós e teratataravós um encontro comigo mesma

Esmeralda, a filha esquecida

Imagem
Aquela mulher pequena e forte que conheci como Vó Virgínia , a tia que criou minha vó Estelita desde que nasceu, escondia pedaços de informações que nunca ouvi falar. A história tem disso. Tanto a que se lê em livros, como a das pessoas anônimas, como nós. A versão que sempre ouvi é que ela era irmã mais nova da bisavó que tinha morrido no parto. Criou a menina nascida tão pequena em seu regaço. Tinha se casado e separado porque o marido bebia. Se mais sabiam, nunca ninguém falou. Era como se a autoridade que ela sempre nos inspirou, fizesse com que a versão de sua vida fosse a que ela queria contar.  Não fosse por uma sobrinha bisneta, metida a pesquisadora, que adora fuçar na história, juntar caquinhos e retalhos, tentando assim formar um quebra cabeças que mostre um pouco mais quem foram as mulheres que me antecederam, talvez a memória que tivesse ficado seria a que narrei antes. Refleti muito se devia reescrever as histórias que tinha contado antes. Cheguei a conclusão que a na...

A boneca que veio do céu

Imagem
  Meados de 1963. Morávamos no interior do Rio Grande do Sul, bem pertinho da capital, Porto Alegre. Meus pais eram jovens e dinâmicos. Nossa casa era linda, no alto de um morro, com um grande jardim e janelas altas como que para que ninguém olhasse para dentro dela. Só tinha um problema: não era nossa.  A vida da minha família, embora muito feliz, não era vivida sem economias. Meus pais eram órfãos quando se conheceram. Costumavam brincar que tinham juntado suas pobrezas em uma grande miséria. Brincadeira, é claro. Meu pai tinha um bom emprego. Mas também muitas pessoas para ajudar. A mãe viúva, sempre tinha um sobrinho ou mais morando conosco, colégios pagos e a sua velha convicção de que pagar aluguel era jogar dinheiro fora. Solução: construir uma casa sua. Solução que demandava esforço. Teve um período em que todas as despesas se juntaram, parecia não haver muita saída. Hora de decisões loucas, tipo: pior que está não vai ficar. Lá se foram os dois passar o aniversário de...

Helena, a caçula polaquinha

Imagem
A viagem desde as Três Vendas tinha sido cansativa, especialmente para Doralice, que já estimava que o novo bebê deveria chegar em breve. Era sua sétima gestação. Tinha 28 anos e uma longa história para contar. Sua irmã, Palmira, a recebeu em sua casa. A ela e a toda a sua vasta família. José Costa, casado com Palmira Silva, era gerente do banco da província em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul. A cidade não era exatamente no caminho de Porto Alegre, mas seria um alívio ter o auxílio da irmã para o parto. E poder se acomodar no luxuoso casarão, sede do banco. Era uma construção nova, projeto de um renomado arquiteto alemão chamado T heo Wiederspahn .  Na madrugada de quarta feira, dia 16 de setembro, precisamente às 3:30 da manhã nasce uma menina saudável que recebe o nome de Helena Selma. O primeiro em homenagem à irmã do Doutor Stein , seu pai. O segundo nome até hoje não se sabe a origem. E também não importa porque só era usado quando a pequena Polaquinha, apelido carinhoso dado ...

Helena Stein Stoll, a professora

Imagem
Quando Helena Stein nasceu em 18 de agosto de 1888, seus pais já estavam morando no Brasil há quinze anos. Era a caçula de uma turma de doze filhos de Nicolau Stein e Anna Maria Wintrich Stein, imigrantes de uma Prússia empobrecida que procuravam novos caminhos no sul do Brasil. A menina loira, de bochechas rosadas, tinha apenas uma semana de vida quando foi batizada pelo padre Theodor Amstad, na Capela de São Miguel, em São Sebastião do Caí, no interior do Rio Grande do Sul. Seus padrinhos foram Jacob Junblut e Magdalena Stroher. Theodor Amstad era suíço e tinha apenas 37 anos. Auxiliava nas colônias alemãs com seu português ainda periclitante, percorrendo as localidades mais afastadas da sede da paróquia de São Sebastião. Mais tarde teve importante papel no cooperativismo brasileiro, sendo considerado seu patrono por lei. A educação dos filhos era uma preocupação dos colonos alemães. O português era uma língua estranha para eles, que falavam um dialeto moselano, e que aos poucos i...

Julieta Silva Couto, a doce matriarca

Imagem
  Canceriana, nasceu em 06 de julho de 1882. Talvez a influência astrológica explique uma mulher que foi ao mesmo tempo a frente de sua época e coerente com os seus costumes, mantendo a doçura. Não conheci pessoalmente a Tia Julieta, mas ouvi tanto sobre ela que é como se a tivesse conhecido desde sempre. Era a mais velha das irmãs de minha avó Doralice . Seus pais, Crescêncio e Belmira, casaram em Viamão, Rio Grande do Sul, em 23 de novembro de 1878 . Creio que já tinham um filho quando nasceu Julieta. Casou com o viúvo pelotense Tito de Paula Couto, 24 anos mais velho, e com três filhas: Altiva, cujo apelido era Tivoca, Dalny, também chamada de Didi, e Bernarda. Tito era um grande capitalista da época, com inúmeros negócios, entre eles a exportação de banha. Homem de grandes posses e com possibilidades de ter um patrimônio considerável. Entre eles uma chácara em Teresópolis e, segundo o neto Fernando, um palacete na Rua da República, 547, em Porto Alegre com dois andares, vários...

A saga de Doralice entre curas e revoluções

Imagem
Enquanto arrumava mais uma vez as malas para uma nova mudança, Doralice pensou nos anos em que passaram na Coxilha de São Sebastião. Casara cedo com o Doutor alemão, vontade de sua mãe e irmã, apostando que a jovem de 18 anos teria um futuro mais promissor do que com o  jovem namorado de então.  Saíram de Porto Alegre em 1917, com os dois filhos do Doutor, José Carlos (6), Silvio (4) e a sua pequena Lieta de meses. Já carregava outro filho, que nascera e pouco vivera. Paulo Altino foi batizado. No ano seguinte, nasceu Manoel Luiz, que viveu apenas cinco meses. A vida era cruel para crianças e adultos em tempos como aqueles. Ainda mais medo sentia quando o Doutor lhe falava naquela gripe que matava tanta gente. Ainda bem que tinham saído um pouco antes para vir parar naquele descampado. No início chorara muito, mas depois entendeu que tudo faz sentido nessa vida. As notícias sobre o   tão temido tipo de influenza, tinham sido mantidas sob censura em função da prime...

mulheres que nos arquitetaram

Imagem
este é um projeto de longa data que mescla a paixão pelo estudo da genealogia da família com o prazer por escrever. A ideia é contar a história das mulheres de minha família. Reúne dados verdadeiros, relatos que elas mesmas fizeram com alguma coisa que me sopraram em outras ocasiões. Abaixo a revista online do que tenho até agora.  Até porque as mulheres ainda continuam escrevendo suas trajetórias Open publication - Free publishing

Antônia e Alice, as outras mulheres de meu avô

Imagem
Antes de casar com minha avó Doralice , meu avô Bartholomeu teve duas outras mulheres. Oficiais. Em 1898, depois de passar alguns anos estudando em São Paulo e sendo diretor do colégio distrital de Taquara do Mundo Novo, ele se casa com Maria Antônia Jaeckel ( Iaeckel, Jackel, Jeckel podem ser outras formas de grafia do sobrenome). Era nascida na Bohemia, que  naquela epoca fazia parte do império austro húngaro. Atualmente o reino da Boemia é a república Tcheca. Seus pais Henrique Jaeckel e Helena Weiss provavelmente fizeram o mesmo trajeto que a família do jovem Bartholomeu fez em algum momento depois de 1875, ano do nascimento de Maria Antônia.  Ela tinha 24 anos quando se casaram, no dia 6 de agosto de 1898, na matriz de Santa Catarina da Feliz. Seus pais já tinham morrido na ocasião e como padrinho teve Ricardo Jaeckel, talvez seu irmão.  O casamento foi feito pelo vigário Max Von Lassberg, um padre jesuíta alemão, com uma peculiar predileção ...

Bolinha de ilusão

Imagem
"Foi então que eu vi Como era bom brincar Com bolinha de sabão" Bolinhas de sabão cantava um trio da minha infância chamado Esperança.  Bolinhas de sabão fazia minha mãe ao me dar banho quando eu tinha uns três/quatro anos. Banheiro preto e rosa. Boxe banheira. Ela sentada no chão, rindo com seu sorriso gostoso e brincando. Minha mãe brincava. Sempre foi moleca. Conta-se que quando namorava meu pai, tirava os sapatos ( os únicos que tinha) e andava na rua molhada pela chuva com pés descalços.  Tinha 14 anos. Ele 18. O mundo ia iniciar uma Guerra Mundial.  Eles, um amor que durou mais de sete décadas. Minha mãe nos dava sustos com papel de pão. Ela enchia de ar e sorrateira arrebentava quando menos esperávamos. Falava palavrão e ria muito. Tinha sempre uma tirada irônica e certeira. E fazia bolinhas de sabão para que eu gostasse do banho. Eram momentos nossos, cheios de encantamento. Ela me incentivava a ...