andorinhas ausentes


No meio da quarentena conheci Manoel de Barros.

Podem achar graça ou até perguntar quem é.  Há os que vão sorrir gritando: o poeta!

Tenho meus dias de poesia. São momentos em que preciso de lírios verdejantes na insolente monotonia. Oscilo entre o mergulho na janela que me fascina ao voo da andorinha que brinca com as nuvens.

Delicado meu equilíbrio. É uma tecitura delicada que conforme o ponto, desanda. Ou sublima.

Sempre fui dos cá dentro. Ficar reclusa nunca me aborrecia. Até quando.

Deixou de ser escolha. Virou prisão.

Precisão de cuidados. A vida mata. O amor vira navalha como disse outro poeta que outra peste levou mais cedo.

Nem as nuvens se mexem em um céu congelado. Meu sangue frio parece ferver. Algo em mim se fez tristeza.

Recomeço o delicado equilíbrio de me reerguer. Cada um de nós oscilantes, procurantes, barrosos de poesia. Carentes de colo e vida na rua.

Olho ruas vazias e sinto um aperto.

Olho ruas com gente e sinto outro aperto.

O amanhã nunca pareceu tão distante. Palavras ferem como punhal. Palavras acalmam como sonrisal. 

Palavras fazem rir sem mal.

Cato pecinhas de mim me sabendo apertadinha de perguntas sem respostas.

Todas as certezas no chão. 

Andorinhas, apareçam de dentro de mim! 

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