Borboletas salvam
Abri o poço, será que posso?
As nuvens no céu me dizem sim.
O buraco ali adiante grita não.
A vida é um imenso quebra-cabeças feito de pecinhas isoladas e sem muitos encaixes.
Os coelhos correm e a mata observa.
O trigo amadurece enquanto a pipoca ferve.
A gente grita mesmo sem carecer.
O amor espreita e nunca chega
porque já está alojado de mala e cuia em nosso bem-querer.
O precipício acena com sua adrenalina escondida
chamamento para o perigo que teimamos em refugar.
Tomamos água cristalina que saí da bica do filtro.
Teimamos em recolher os filtros que nos livram do imediato.
Sorrimos de soslaio porque entendemos que alguma ironia nos espera na vereda do jardim.
Somos pele, unha e fome.
Somos atos em nada concretos.
Recolhemos nossos pedaços vazios para que a estrada fique limpa para novos passantes.
O poço se abre.
Nos jogamos.
Borboletas nos levitam.
Voamos.
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