“Cerração baixa, sol que racha”
“Cerração baixa, sol que racha” costumava escutar desde pequena quando acordava em um local cheio de brumas. Comparações com a capital britânica e seu fog, ou ainda com a ilha dos druidas e fadas, Avalon, eram frequentes em sua cabeça. Era na verdade fascinante que tudo estivesse encoberto. A cidade desparecida. As possibilidades de se imaginar em outro lugar aumentavam. Ela sempre viajante.
O sol rachante logo aparecia. Nem sempre. Tinha dias que ele se confundia e acabava envolto nas nuvens até que o dia já estivesse na metade. Dias mágicos. Lembrava de alguns.
Mais que um acontecimento de clima característico da região, a cerração nevoenta era um sinal de que nem sempre a vida é cristalina. Há tempos de encobertas. Há tempos de procuras. Há tempos de possibilidades além do que se vê.
Mas...
Também há tempo de realidades encobertas. O perigo, ou a delícia, da liberdade de criar são as inúmeras possibilidades da mente. Voar. Maritacas fazem isso. Hoje mesmo um trisal de pássaros verdes namorava escandalosamente no meio da neblina. Barulhentos e alegres, desfilavam sua dança amorosa nas fuças das senhoras e senhores sisudos que acordavam para suas orações. Alguns muitos com inveja daquela liberdade ligeira e natural. Nem todos conseguem expressa-la.
O sol que racha aparece altaneiro acima das nuvens. Sinto seu calor. Aparentemente nada mudou na realidade. Mas como nas brumas da ilha de Morgana, pode que a magia tenha nos brindado com novas realidades onde possamos voar mais alto.
A tecnologia nos permite esses voos. A mente nos possibilita fazer isso sem necessidade de interfaces. O verdadeiro aplicativo, e o mais fundamental, se chama contato com nossa alma.
Que se faça a luz!
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