Eu e meus breus
Nasci perplexidade
Cresci curiosidade,
busca de sentido
dos meus breus
conheço o abismo
dos picos a luz me guia
sobrevivo generosa
Bethaniamente sentimento
aflorante/perseguinte/emergente
Nasci em um abril de um ano da década de cinquenta. Em um quarto de hospital de uma cidade do interior do meu estado. A parteira, meio doula, me amparou junto à minha mãe e meu pai, em um ambiente meio breu, com música. Assim emergi ao mundo.
Os breus vieram junto de herança. Carências ancestrais que trago coladas nas células e memórias de gente que não conheci. Fruto de mulheres que sofreram e amaram, perfumes de vidas que se fizeram entre dores e amores. Clichês e sonhos. Breus.
Cresci entre medos internos e impulsos de saídas. Luz e escuro. Sol e lua me contornam desde sempre. Meus grandes olhos pretos curiosos, observantes. Meus brinquedos, os teatros de enredos criados na minha cabeça. Meus silêncios, o enigma de quem me via e não me reconhecia. Nem eu o fazia.
Amadureci entre sorrisos e lágrimas. O aprendizado mais complicado: amar. Amar sem troca. Amar sem retribuição. Amar por amar. Amar doação.
Companheira de vida: a sensibilidade. Extrema. Represada. Vislumbrada nos olhos grandes, escuros, brilhantes.
Descobertas muitas. Vidas internas explosivas. Das maiores, deixar de centrar no meu umbigo. Deixar sectarismos e certezas absolutas também, assumindo a empatia que me marca. Empatia observadora, que fique claro.
Meus breus caminham comigo. Me apontam caminhos que já não servem. As trevas me auxiliam a evitar córregos intransponíveis. Aprendizado que os momentos de vida me calaram.
Muros há que transpor. Mas só os que fizerem sentido ao coração.
Eu e meus breus convivemos enfim, na tênue linha que une luz e mistério.
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