Caetaneando em um fim de ano

 ouvindo Caetano e pensando que nem sempre gostei do Caetano.

No começo era aquele guri franzino de boca grande e cabelos cacheados, terno e uma aparente timidez, que já devia ser uma coisa odara. Eram os festivais da Record. Tinha tanta gente, tinha um Chico novinho louvando a banda. Tinha Rita Lee e os Mutantes, de coadjuvantes do Gil. Tinha violão quebrado e para não dizer que não falei de flores. Eram tempos sombrios.

E aquele baiano entrava e cantava Alegria, Alegria.

Sem lenço, sem documento
Nada no bolso ou nas mãos
Eu quero seguir vivendo, amor
Eu vou
Por que não, por que não?
Por que não, por que não?
Por que não, por que não?

Vamos ainda, Caetano.
A gente quer seguir vivendo.

Um pouco daquele menino reside no senhor que ouço na live em um ano de pandemia. Os cabelos brancos lhe deram um charme, a poesia da voz se refinou. 

Ouço entre um cálice de vinho e saudades de um tempo que ainda vai vir, pensando se o tempo foi tão generoso comigo.

Continuo curtindo Caetano de tempos em tempos. Outros tempos, não. Ele ia curtir. 

Penso que a poesia é assim, livre de rótulos. Se gosta ou não. Se compra ou não. Se lê ou não. O importante é seguir vivendo com a leveza da esperança. Apostando ou não.

Não, o amor não foi unânime. Quem não curtiu, não viu, achou chato, desligou, foi dormir. 

Quem curtiu se embalou naquilo que não se explica, que é divino maravilhoso, que nos acomete de vez em quando, que toca lá na pele, que traz emoção.

Confesso: ficar odara não me capturou na época em que foi cantada pela primeira vez. Mas ficar odara em 2020, me faz vontade de ser novamente 2000 e ter todo um século pela frente como bem sugeriu Caetano.  

Não é um hino de louvor apaixonado. Vou continuar gostando ou não de Caetano. Mas vou em frente, quero continuar vivendo. Por que não?


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