Aquela Zica de fim de ano

Nem sempre foi assim.
O fim de ano era tempo muito esperado. Tinha a magia do Natal e dos preparativos. Era um tal de fazer biscoitos, ir em busca de musgo para o presépio e imaginar o que o Papai Noel ia trazer de presente a cada ano.
Desde que não viesse junto.
Um ano ele veio e era feio que só. Não era gordo e bonachão como nas revistas (não tinha esta coisa de shopping naqueles tempos e o bom velhinho a gente só via em propaganda das revistas). O que veio era magro e com uma máscara esquisita. Chegou todo cheio de mau humor o coitado. Já devia estar cansado de tanto dar presente e fazer sermão. Veio com uma vara de marmelo como se apanhar fosse coisa comum para mim.
Não era.
Chorei muito.
Quase como naquele filme da Branca de Neve quando a bruxa apareceu e fez a Branca dormir com tempestades e raios.
Na verdade chorei menos que no filme que estava de olho nos pacotes e era só esperar o magrelo ir embora que tudo virava festa de novo.
Natal era tempo de calor. De tomar sorvete de abacaxi e colocar vestido novo.
E brincar.
Era bom o fim de ano.
Tempo de esperar coisas novas.
Foi quando a esperança foi morrendo que a zica foi se instalando.
Começou devagar a danada.
Teve resistência sim.
Teimei em fazer árvores, mesmo que ficassem menores.
Continuei a comprar os perus, depois os chesters. As frutas e o espumante.
Me fiz de Papai Noel e fui a comprar presentes.
Quantos! Que a família aumentava e o bolso já não dava conta.
Pior era a indiferença dos que mereciam presentes melhores mas nem sempre dá.
Os cartões continuaram quanto deu.
Os cartões sempre foram mais importantes até que o objeto que era presenteado.
Primeiro muito elaborados.
Depois a memória findando, foram ficando mais simples, mas sempre terminando com um amor explícito.
O Natal foi ficando pesado.
Era mais ausência que presença.
Um dia deixou de ter presente.
A ceia foi trocada pela comida que não pesava.
A expectativa foi deixada de lado.
A esperança mudou de endereço.
Deixou a prima malvada, a tal de Zica.
A que se instala feito posseira quando a vida se torna amarga.
A gente fica chata de repente porque ninguém gosta de gente reclamenta.
Melhor os sorrisos, as festas. Os amigos secretos que nunca acertam o presente.
Melhor os dias que correm e acabam logo.
Melhor o ano que vira e quem sabe traz de presente uma nova esperança.
Ou pelo menos uma passagem de ida para a Zica.
Para nunca mais....

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