A chata da pesquisa

Adoro zapear na TV. Ontem estava exercitando meus dedos e parei em um filme, dessas comédias românticas que ainda não tinha visto. Confesso! Adoro esses filmes bobinhos, talhados para a sessão da tarde. Enfim, era uma com a Sandra Bullock e com o Hugh Grant, aqueles que fazem sempre o mesmo papel e mesmo assim gosto deles. Química zero entre eles...Não vi todo o filme mas pelo que entendi ela era o tipo da guria toda certinha, cheia de certezas e politicamente correta que, segundo as palavras do galã, todo mundo acha chata...

Sei lá, me identifiquei.

Sou a chata certinha que respondia os emails retificando as fake news que sempre existiram e na época eram chamados de boatos. Passei pela época de checar nas redes sociais e responder, com delicadeza, que aquela versão não era correta para sentir que isso não era lá muito bem recebido. Alguns agradeciam e continuavam a postar sandices. Outros, mais honestos, diziam que sabiam que não era verdade, mas que lhe convinha alardear por interesse ou leveza de humor.

E cá vinha eu para meu mundo de pesquisa.

Hábito de casa. A gente não gostava de ficar em dúvida em nada. Ia nos livros pesquisar, fuçava onde desse para checar. Aperfeiçoei vendo filmes históricos e confrontando com livros. Versões, versões, versões. Tudo bem que cada um, conforme seu viés, tem uma vertente para entender fatos, mas nada apaga que uma bomba atômica foi jogada em duas cidades cheias de civis no Japão. Se foi heroísmo ou crime contra a humanidade, cabe a cada um definir. E defender.

Mas não posso apagar. Houve ou não o houve.

Tudo bem que a História como ciência é nebulosa. Há fatos que foram apagados, há outros criados pela tradição oral. Mas há também pesquisas com métodos e cuidados para que se cheque o mais próximo possível da verdade dos fatos.

Sou a chata da pesquisa que piorou bastante depois de fazer um mestrado em uma universidade pública. Deve ser a tal doutrinação que falam, fiquei mais chata ainda para qualificar fontes e dados. Não é qualquer whatsapp de amigo ou tio que passam por cima de uma pesquisa séria. E vou além, ainda checo quem fez a pesquisa e quem patrocinou. Assim como faço nos sites que leio. Vou no quem somos e nos parceiros que pagam a conta.

Muito chata eu. Vocês tem razão em se afastar.

Até porque além de pesquisar, tenho o péssimo hábito de recordar o que muitos de vocês disseram e defenderam. E confrontar com o que defendem e dizem hoje. E sim, cobro coerência na minha chatice de ser.

Pior. As pessoas perdem algo que não tem preço e que custa muita a ser conquistado: credibilidade. E não precisam, às vezes basta uma simples pesquisa no Google para não passar vergonha alheia.

Estou tentando ser mais leve. Já deixo passar muita coisa de arrepiar, não sem me desiludir e decepcionar com quem divulga. Não adianta, continuo chata.

Se no filme a Sandra Bullock (que é meia chatinha mesmo) fica com o insosso do Hugh Grant (que só brilhou ao lado de Julia Roberts) e vão curtir a sua chatice juntos, na vida real fico com a minha sozinha... 

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