Inspiração do dia - buscando


Café e rádio.

Companheiros do despertar. Nem sempre notícias, não mais, elas me causam algum desconforto. Só as mais urgentes. Como defino? Não defino, só ligo no início da manhã, naquele tempo de organização e colocação do espaço em ordem. Depois é água e música.

Meu ofício de vida: arquitetar.

Arquiteto espaços e arquiteto textos. 

Também arquiteto sonhos e cuidados. E cuido.

E quem cuida de quem cuida? 

Na maior parte do tempo, o próprio cuidador que há de buscar sua força nele mesmo. Enxugar lágrimas e deixar fraquezas guardadas para um momento em que possam se expostas. Que quase nunca chega. A fraqueza de quem cuida assusta os que não cuidam. Ou os que são cuidados.

A fraqueza assusta.

O cuidador aprende logo a achar válvulas de escape. Não sei porque lembrei de um filme bem antigo, acho que era com a Annie Hall, na verdade Diane Keaton, que eu sempre vejo com as roupas da Annie..."Looking for Mr Goodbar" com um Richard Gere extremamente jovem. Ela cuidava de dia e extravasava à noite. Nem sei porque lembrei disso agora. Não era essa a ideia inicial. Nem tinha uma proposta definida ao escrever.

Meu método, inclusive de projetar. Arrumar o cenário, café e rádio, depois água e música, abastecer de referências. Ou uma. E deixar sair. 

Deixa sair também é o título de um livro da Sonia Hirsch.

Escuto Mozart, bebo água e lembro que já fui mais cuidadosa com a alimentação em décadas passadas. Quando ainda não era tendência eu já era a tia chata da comida natureba. Fui deixando as rigidezes de lado quando a vida se tornou mais dura. Quando me tornei a que cuida. Não me neguei prazeres que pudessem sanar as tristezas internas e dar forças para prosseguir quando a vida se fazia de momento a momento em uma espera de uti.

Meu próprio afazer arquitetônico foi se depurando, deixou ornamentos sem sentido, foi se indo para uma simplicidade funcional que reflete os novos valores de vida. Mais enxutos e sem mesquinharias que a vida urge.

A vida ruge.

A vida ressurge.

A cada dia que acordo, esfrego os olhos, espano os ácaros da noite, me refugio no rádio e no café que me animam e dão o ponto de reinicio, rituais que são. 

Abro os olhos, abro a mente, deixo que surjam em mim as inspirações que se transformam em espaços, textos, cuidados.

Me transformam. 

Pensando bem, a vida me cuida.

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