Soulmates ou o pedaço da laranja em um teste

elenara elegante

Entre escutar Fábio Jr gemendo palavras de alma gêmea-coraçãoooo e o dia a dia de uma relação existem algumas diferenças na vida, até mesmo de quem acha que encontrou a sua metade da laranja.

Li certa vez, nessas leituras que adolescente adora, que a humanidade era feita de hermafroditas que desagradaram algum deus raivoso que, como castigo, separou aqueles seres em dois que, desde então, se procuram para promover a sua união perfeita.

Sonhos de consumo, ideia fantasiosa, energias que se atraem, quem nunca procurou a sua metade em amores perdidos ou achados pela vida? E se existisse em algures um teste que nos colocasse em contato com a NOSSA alma gêmea? Eis o mote da série Soulmates (amazon prime). Mais que um aplicativo de encontros, uma promessa de achar a pessoa certa, aquela única que, em meio de bilhões de seres existentes no mundo, vai completar a nossa ansiedade de perfeita união.

Parece bom, não é verdade? 

Mas e se? Como no filme de Cartas para Julieta, a pergunta básica da vida, E SE nem sempre achar a alma gêmea nos leve a cantar como Fábio Jr, eternamente felizes como em um conto de fadas?

Este o questionamento da série em seis episódios, que tratam assuntos como as escolhas que fazemos para consolidar um relacionamento, o poliamor, a vida além das regras, a morte, a vida, a transgressão. Partindo de uma ficção no futuro próximo, trata de nossas ansiedades do aqui e agora.

Não é genial, mas é interessante. Coloca perguntas relevantes, levanta sentimentos tão humanos quanto imperfeitos em uma busca que, se acredita tão perfeita.

Lembrei de um livro de poesias que recebi de dois namorados. Cada um em uma data, nenhum deles a minha alma gêmea. Lá na página 92 se lê:

"A gente começa a amar

por simples curiosidade,

por ter lido num olhar

certa possibilidade"

Dos dois namorados de outrora, o que me dedicou essa poesia, não me amava com êxtase. Era mais uma admiração, eu creio. O outro sim, era uma devoção que me assustava. Mas nenhum despertou em mim aquele amor que lembre alquimia de afeto.

O amor é algo meio incondicional, se exige reciprocidade, deixa de ser amor, vira obrigação.
Aceitação. 
Não necessariamente engajamento unilateral, mas aceitar o outro em toda a sua complexidade de ideias e convicções. 
E apesar de, ainda assim, amar.
 Mesmo que não amalgamando totalmente, mesmo que não junto, mesmo que não para sempre.
Mas amar.
Aceitar primeiramente sem tentar moldar.
Sem encaixar a força o que não se molda.

Dos amores que tive, dos que me tiveram, todos foram aprendizado de vida e caminhos. Mais que energias que se atraem como metades da laranja, o bate coração vem do olho no olho da verdade, sem máscaras. Do despir mais que o corpo, as imensidões da alma. É o riso da brincadeira de cumplicidades de vida, é a empatia de saber a hora da palavra e do silêncio. É o respeito pela trajetória alheia. É respeito pela própria trajetória. É passar sobre expectativas e viver o amor real e bonito. 

"Por isso quando vejo, hoje, tanta gente em busca de um amor bonito, desses que durem até a gente ficar bem velhinho e façam a lembrança resgatar momentos que justifiquem uma vida, eu lembro: adubem. Falem. Gritem seu amor de forma bonita. Ele não perdura se não for regado de forma sistemática. Além do respeito e da cumplicidade, lembrem do romance e do encantamento."

Não há amor de graça e predestinado. Há químicas e energias afins. E há bom humor, escolhas diárias, paciência e muito tesão para transformar sempre um dia comum em magia.

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