Sem a metade da laranja no dia dos namorados?

Cadê meu pedaço da laranja dá vontade de gritar a cada 12 de junho que se aproxima.

Dia dos namorados sem namorado ou namorada é dose para gente com coragem. É anúncio, é alegria e amor estampada na cara da gente a cada rolar de páginas. Até cimento é apelo para se dar ao amor. Tem lógica, namoro concreto deve ser baseado em algo sólido.

E para complicar inventaram de ter dois dias dos namorados por ano. Não contentes em importar bugigangas chinesas e o tal de ralouin, trouxeram de Miami na mala o tal de dia da Valentina. Mas para ter mais charme, tem que revirar a boca e dizer Valentainez Day.

E nós, os solitários por opção ou por omissão? Os que foram abandonados, os que abandonaram, os que encheram o saco, os que curtem estar sós, os que necessitam de algum tempo para se recuperar, para se encontrar, para viver?
“Em que canto do corpo adverso devo ler minha verdade?” Roland Barthes
A parceria é importante no aspecto biológico. Sem reprodução, babaus humanidade. Então desde a primeira bordoada nas cavernas, as pessoas tem se acasalado para gerar descendentes. 

Mas e a metade da laranja? Alma gêmea com o Fábio Jr gemendo no ouvido da gente e insuflando aquela história de príncipe /princesa encantado ou o cara certo, aquele que é, que vai completar nossas vidas? 

Acho que vem com o mito do amor romântico que é mais recente na história do mundo (embora os filmes teimem em dizer que não).

E a presença maciça do amor nessas datas marcadas vem da publicidade que tenta incutir na cabeça da gente necessidade que nem sempre a gente tem.

“Ninguém tem vontade de falar de amor, se não for para alguém.” Roland Barthes

O amor existe? Obvio que sim. É sempre igual para todos, com sininhos tocando, paixões fulminantes e altruísmo em abundância? Lógico que não.

Cada um tem a sua forma de amar. E mais, a cada amor, a forma de amar pode ser diferente. Sem problema algum. A única coisa a se atentar é: que seja bom, que seja prazeroso, que nos faça melhores como pessoas. Se fizer sofrer, se nos apagar de nós mesmos, do mundo, ligue o sinal de alerta: talvez seja melhor cair fora. 

E o cair fora pode significar ficar só. 

E ficar só não é ficar capenga. A laranja inteira pode ser feita de nossas metades, de nossos gomos, do somatório de coisas que fazemos, de nossas conquistas e até de nossas derrotas. Das rugas e cicatrizes que trazemos em nós. 

Mais ou menos como quando a gente era criança. Se não tinha turma, a gente inventava brincadeira sozinho. A capacidade de brincar é que nos faz interessantes. Nosso olhar para o mundo é que nos diferencia.

Então se está só nesse dia dos enamorados, e sofre por isso. Ou tem uma coisinha miúda que incomoda e faz achar que precisa de qualquer um/uma do lado, relaxe. 

Você é a laranja inteira. Se curta. E siga em frente tentando ser feliz que é o que nos vale nessa vida curta, mas que pode ser muito mais divertida se a gente não se preocupar com coisas desnecessárias.   

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