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Certos dias

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  Certos dias nem deviam existir Deviam passar batido/moído de liquidificador Não marcar presença Nem querença na vida inteira da pessoa MAS NÃO Tem dias que se instalam  posseiros nas profundezas do querer da alma. Ficam ali quietinhos/matreiros esperando a ocasião de fazer presença. Incomoda presença gritando  bulindo como visita indesejada. Vai! dizemos Fico! grita  mal educado como todo sentir doído Fico porque finquei bandeira delimitei fronteira queimei saídas  Fico e alfineto quando me dão voz e vez

Repensando o que aprendemos sobre ser idoso

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  Um amigo compartilhou comigo esta postagem em uma rede social que mostrava u ma campanha que redesenha o símbolo das vagas para idosos. Sabe aquelas que antigamente mostravam a clássica figura curvada, de bengala? E que hoje já mostram um 60+? Pois a campanha foi além e mostra pessoas cheias de vitalidade em diversas atividades. O objetivo era simples: provocar reflexão sobre o envelhecimento. Mas bastou abrir os comentários para perceber o tamanho do nó que ainda existe quando o assunto é envelhecer. Entre os comentários, dois pontos de vista chamaram minha atenção. Um, mais raro, onde uma usuária dizia: “Estar ativo não elimina limitações. As vagas preferenciais são reconhecimento da vivência, não prêmio por fragilidade. Mostrar idosos ativos valoriza a vitalidade sem deslegitimar direitos”. E outros, que simbolizava a maioria, retrucava: “A vaga é por dificuldade de mobilidade. Não é prêmio por vivência.”  Parece um detalhe pequeno, mas é, de certa maneira, um ...

Mergulhos

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  Quantos momentos insanos - resolvidos ou não - abriram fagulhas de solidões -tão eternas- escondidas em couraças de medos - atrozes/ancestrais - A vida fugia / ela via as portas abertas fechava porque latiam feito cães enfurecidos. As dores que moravam em sua alma eram eternas companheiras de lares antigos  Doía Ela não queria ver Se arrebentasse as trancas a corrente afogaria Andei pelo mundo.  Vi planícies e meus pés rotos caminharam em círculos. Sem destino A vida foi me levando em sua algibeira de couro e ouro. Andei pelo mundo e vi sorrisos e lágrimas. Senti ódios e amarguras. Repositórios de olhares.  Sábios alguns Tolos muitos Corri montanhas/respirei agruras Vivi pouco. Mas muito Se me fosse deste mundo Agora Não deixaria rastros Meus pés percorreram areias e águas Mergulhei Tinha feitos de mangaba Cheirava doce e amarga feito limonada sem açúcar que vira chocalho de gente moça Perdição de alma trancada Tinha olhos de mormaço de dia quente malemolente secur...

Museu dos velhos - repensando conceitos

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O envelhecer em nossa sociedade vem acompanhado de uma série de ideias e imagens que vão sendo ensinados desde a infância. Sabe aquela imagem fofa das crianças aprendendo a ter empatia com os vovôs e vovós? Pois é, como eles representam estes bons velhinhos? Com cabelinhos brancos, coques, bobies nos cabelos, bengalas e todo um aparato de fragilidade que apenas reforça o conceito de que envelhecer é enfraquecer.  Existem pessoas idosas frágeis? Obvio que sim. Assim como existem crianças, jovens e adultos frágeis. Doenças, fraquezas, imobilidade acometem pessoas de todas as idades. Se olharmos muitos de nossos velhos na sociedade de hoje vamos ver gente fazendo exercícios, trabalhando, viajando, cuidando de outras pessoas, inclusive de crianças. A longevidade vem se tornando uma conquista em quase todas as classes sociais.  Também é obvio que quando falamos de pessoas idosas, existem diferenças econômicas, genéticas e de oportunidades. É preciso que se repense a sociedade para ...

Projeto Vozes da Experiência - Ana Lúcia

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  Toda idade tem algo a dizer. Toda escuta pode ser uma ponte. O projeto reúne pessoas de diferentes gerações respondendo algumas questões de vida. Entre elas, que conselho daria aos mais jovens? E aos mais velhos? Queremos criar um mosaico de olhares, afetos e vivências. Sem lições prontas. Só trocas sinceras. A tua voz importa. Ela ajuda a inspirar outras pessoas e mostrar que cada caminho é único. Ana Lúcia - 79 anos Quando pensas nas mudanças que viveste — perdas, doenças, aposentadoria ou outras — o que mais te transformou? É interessante refletir sobre as mudanças na vida . Mudança sempre me pareceu uma coisa normal, talvez pelo fato do pai ser transferido de cidades pelo trabalho, então as mudanças aconteciam.  E cada mudança trazia lições, eram novas amizades, novos vizinhos, novos professores, e a cada nova adaptação haviam naturalmente transformações. Com as mudanças aprendi a crescer e me fizeram despertar para novos momentos e situações.  Uma situação marcante...

Camadas e passos na cidade

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  É uma experiência estranha a que sinto nesta manhã de sábado andando pela Rua da Praia em Porto Alegre. Uma semana esquisita onde passo mal em uma madrugada de terror. Morar só após os 60 e muitos tem lá os seus desafios. Um dia intercalado de recuperação de forças e, enfim, um dia de socializar. Pero no mucho que continuo aquela guria/menina/mulher que concorda com a Bethania quando canta Maricotinha: Se fizer bom tempo amanhã Se fizer bom tempo amanhã Eu vou! Mas se por exemplo chover Mas se por exemplo chover Não vou!... Uma chuvinha, redinha Cotinha Aí, piorou! Nem tô! Nem vou! Nem tô! Nem vou! Saio da Casa de Cultura Mario Quintana, onde fui ver o último filme de Costa Gravas – Uma bela vida. Não sou uma cinéfila em potencial, mas gosto do desafio de mergulhar uma hora e pouco na magia de um cinema ainda vazio. O mergulho em uma história, sem barulhos nem pipoca.  Eu e a tela. Eu e a história. Um filme de vida e morte. Um falar sobre o que mais nos assusta como seres...

Os instantâneos que tiro na minha cabeça

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  Uma das minhas terapias urbanas é caminhar no sol. Moro perto de um dos maiores e melhores parques da cidade de Porto Alegre: a Redenção, também conhecida pelo nome de Parque Farroupilha nessa confusa mescla de dar mais de um nome ao mesmo espaço. Temos vários exemplos: a famosa Rua da Praia que não tem praia (a não ser em tempos de antanho e em tempos de enchentes) que é, na verdade, Rua dos Andradas. Minhas caminhadas ao sol tem mais de uma utilidade. Serve para exercitar as pernas e o corpo, um dos hábitos que devemos manter/retomar/criar como forma de ser uma velhinha mais saudável. Serve para repor um pouco da vitamina D. E serve também para desintoxicar do vício da navegação dopaminérgica dos tempos atuais. Saio sem lenço nem documento, como já cantava Caetano Veloso em tempos idos e vividos. Minto, lenço levo porque o nariz teima em pingar nestes tempos frios/quentes/úmidos de nosso inverno/primavera. Mas documentos não. E nunca celular. Um pouco por medo de assaltos. Muit...